Para algumas pessoas, os artefactos fora do lugar (objectos encontrados em contextos que estão desfasados da cronologia aceite da História humana) questionam seriamente aquilo que pensamos saber acerca do mundo e da sua História. Alguns argumentam que estas descobertas oferecem provas persuasoras de que na antiguidade remota a Humanidade foi significativamente mais avançada do que alguma vez poderíamos supor. Insistem que várias vezes na Pré-história chegámos a um elevado nível de civilização que de seguida era destruída, sem deixar rasto, por catástrofes naturais ou provocadas pelo Homem. As provas de tais hipotéticas Civilizações Antigas consistem principalmente naquilo que parecem ser pegadas humanas fossilizadas, como as que foram descobertas na década de 1880 no cume do Big Hill, nas montanhas Cumberland do condado de Jackson, Kentucky (The American Antiquarian, Janeiro de 1885), e objectos aparentemente manufacturados que se encontram fechados no interior de pedaços de rocha ou de carvão. O Artefacto de Coso é um desses exemplos.
Em 13 de Fevereiro de 1961, Wallace Lane, Virginia Maxey e Mike Mikesell (co-proprietários da LM&V Rockhounds Gem and Gift Shop em Olancha, no Sul da Califórnia) estavam nas montanhas Coso à procura de espécimes minerais interessantes para a sua colecção, particularmente geodos (rochas ocas, geralmente esféricas, com a parede interna forrada de cristais e normalmente com cerca de quinhentos mil anos). À hora do almoço, depois de terem estado a recolher rochas perto de um pico com mil e trezentos metros de altitude e com vista para o leito seco do lago Owens, puseram as pedras num saco e foram para casa.
No dia seguinte, ao tentarem cortar uma das pedras que parecia um geodo, Mikesell danificou gravemente uma serra praticamente nova. Finalmente, quando o nódulo foi aberto, encontrou uma secção circular e espessa de um material cerâmico branco e, no centro, uma vareta de metal brilhante com dois milímetros de espessura. Este metal era magnético. O cilindro de porcelana estava por sua vez no interior de uma cobertura hexagonal de cobre em decomposição e uma outra substância não identificável. Os descobridores repararam noutras qualidades estranhas desta pedra. A sua camada exterior estava incrustada com pedaços de conchas fósseis, barro endurecido e gravilha, assim como, surpreendentemente, dois objectos de metal não magnético semelhantes a um prego e uma anilha. Intrigados com o achado, o grupo começou a mostrá-lo a amigos e colaboradores, apesar de agora haver poucos registos dos exames originais feitos ao objecto. Um dos descobridores, Virginia Maxey, disse que um geólogo que observou o objecto atribuiu-lhe uma idade de pelo menos quinhentos mil anos, baseado nos fósseis incrustados no seu exterior. Contudo, este geólogo anónimo nunca foi encontrado e a sua conclusão nunca foi publicada. Mas se estas deduções pudessem ser provadas, as implicações seriam óbvias. Se o Artefacto de Coso fosse um exemplo genuíno de uma Tecnologia desconhecida existente milénios antes da data aceite para o aparecimento do Homo sapiens, então seria claro que as ideias tradicionais acerca do passado da espécie humana seriam postas de pernas para o ar.
A única outra pessoa que se sabe ter inspeccionado fisicamente o artefacto foi o criacionista Ron Calais, a quem autorizaram que tirasse fotografias ao artefacto tanto com raios X como sob luz normal. O raio X da parte superior do objecto revelou que a vareta metálica estava encaixada em algo que parecia uma pequena mola. Isto levou a que o objecto fosse considerado como um tipo de mecanismo eléctrico. Paul Willis, o editor da revista paranormal INFO Journal, examinou a película do artefacto misterioso e chegou à conclusão de que poderia ser «o que restava de um pedaço de metal corroído com uma rosca» e reparou na semelhança entre o objecto e uma vela de ignição moderna. Em 1963, o artefacto foi aparentemente exposto durante três meses no Museu da Califórnia Oriental, em Independence. A edição da Primavera de 1969 do INFO Journal afirmava que Wallace Lane, um dos descobridores originais do objecto, era então o seu proprietário e o tinha exposto em sua casa. Lane recusou-se a dar autorização para que alguém o examinasse, mas alegadamente pô-lo à venda por vinte e cinco mil dólares. Algum tempo depois o Artefacto de Coso parece ter desaparecido. Em Setembro de 1999 foi levada a cabo uma busca a nível nacional para tentar encontrar algum dos descobridores originais, mas revelou-se infrutífera. Parece provável que por essa ocasião Lane tivesse já morrido e o paradeiro de Mikesell era desconhecido. Até hoje, Virginia Maxey, que ainda está viva, recusa-se a comentar em público o artefacto, cuja localização permanece desconhecida.
Devido ao mistério à volta do paradeiro do Artefacto de Coso, e à falta de um relatório publicado sobre o objecto, abundam as especulações à sua volta. Um objecto mecânico embutido num geodo que aparenta ter mais de meio milhão de anos. Como foi lá parar? Terá sido produto de alguma civilização, inimaginavelmente antiga e tecnologicamente avançada, que desapareceu sem deixar rasto? Existem muitos sites na Internet que contêm especulações quanto à finalidade e origem do mecanismo mas não fornecem quaisquer provas para essas especulações. As teorias acerca da sua função são diversas, desde uma superantena até um condensador ou uma vela de ignição. Esta última sugestão é a mais comum: uma vela de ignição produzida por uma civilização avançada, como parte de um aparelho tecnológico misterioso.
Curiosamente, o editor do INFO Journal, Paul J. Willis, conjecturou que o artefacto seria algum tipo de vela de ignição, mas era incapaz de compreender a função da mola, que não coincidia com as velas contemporâneas. Por volta da época da descoberta original do Artefacto de Coso, Virginia Maxey especulou que seria possível o objecto não ter mais de cem anos. Ela pensava que se ele tivesse permanecido sob um leito de lama e depois tivesse cozido e endurecido ao Sol, teria possivelmente acabado nas condições em que o encontraram. Mas também foi Maxey que afirmou que o artefacto tinha possivelmente quinhentos mil anos e era «um instrumento tão antigo como as lendárias terras de Mu e Atlântida. Talvez fosse um aparelho de comunicação, ou algum tipo de detector direccional, ou um instrumento fabricado para utilizar princípios energéticos que desconhecemos.» Assim começaram as fantásticas especulações acerca do artefacto.
O cerne do mistério anda à volta do geodo de quinhentos mil anos com conchas fósseis, no interior do qual o artefacto foi encontrado. No entanto, o exterior do objecto era constituído principalmente por barro endurecido com uma mistura de matéria orgânica, enquanto um geodo tem uma carapaça exterior composta por sílica calcedónica. Quando foi aberto por Mike Mikesell, no dia seguinte à descoberta, o interior do objecto revelou ter uma composição diferente da de um geodo Raio X do Artefacto de Coso. – não tinha um centro oco com uma camada de cristais de quartzo, como é comum na maioria dos geodos. Contudo, ainda permanece a questão das conchas fósseis encrustadas na superfície do objecto. Mas o valor destas conchas fósseis na datação do objecto é negligenciável, se nos lembrarmos de que os descobridores originais identificaram um prego e uma anilha na mesma superfície em que se encontravam as conchas fósseis.
Foram levadas a cabo investigações acerca das origens do Artefacto de Coso pelo autor Pierre Stromberg e pelo geólogo Paul V. Heinrich, tendo eles descoberto que tinha havido exploração de minérios nas montanhas de Coso no início do Século XX. Eles conjecturaram que talvez tivessem sido utilizados motores de combustão interna nas operações mineiras e que os proponentes da teoria da vela de ignição poderiam estar afinal parcialmente correctos. De forma a testar a sua teoria provisória, o duo tentou que o objecto fosse identificado por uma organização chamada Coleccionadores de Velas de Ignição da América. Enviaram cartas e cópias das películas de raios X do artefacto a quatro coleccionadores diferentes, que não tinham qualquer conhecimento prévio do caso e nunca tinham visto as imagens antes. Os coleccionadores chegaram independentemente à mesma conclusão: estavam certos de que se tratava de uma vela de ignição Champion dos anos vinte, uma das que provavelmente foram utilizadas nos Ford modelo T, possivelmente modificada para ser utilizada nas operações mineiras da serra de Coso. O grau de corrosão patente no artefacto era coincidente com o que seria de se esperar de uma vela de ignição dessa época. Assim, o Artefacto de Coso não estivera na montanha por mais de quarenta anos.
Parece claro que a vela de ignição não estava de facto embutida numa rocha, mas num nódulo de óxido de ferro. A formação deste nódulo foi provavelmente acelerada por «pó mineral» corrosivo, levado do leito seco do lago Owen pelo vento até às terras altas onde o artefacto foi encontrado.
O Artefacto de Coso não é a única vela de ignição encontrada num lugar estranho. Na edição do Verão de 1998, a revista The Igniter, publicada pelos Coleccionadores de Velas de Ignição da América, incluía uma descoberta feita por mergulhadores do que parecia ser «uma bola de conchas e percebes», mas com a ponta de uma vela de ignição a sair do interior. Uma vela de ignição aparentemente embutida num pedaço de rocha derretida deu à costa numa praia do Delaware, mas descobriu-se que essa rocha era composta por uma combinação de lama e ferrugem (como no caso do Artefacto de Coso). Essa combinação, depois de cozer ao Sol, ficava quase tão dura como rocha. Afinal, o Artefacto de Coso é mais um caso de pensamento veleitário (e por vezes secretismo deliberado) do que propriamente um embuste propositado. Não existem provas de que os descobridores originais planearam enganar alguém à partida, apesar de a ideia lhes ter possivelmente passado pela cabeça depois de darem mais atenção ao objecto (como é sugerido quando Wallace Lane colocou o objecto à venda por vinte e cinco mil dólares). Infelizmente, apesar de se ter provado quase sem qualquer dúvida que este controverso artefacto é uma vela de ignição dos anos vinte, ainda é possível navegar na Internet e encontrar facilmente vários websites que utilizam o Artefacto de Coso para sustentar a teoria da existência de civilizações tecnologicamente avançadas num passado impossivelmente remoto.