Vemos então que a velha crença de que a grande potência da Atlântida estabeleceu uma espécie de colónias prontas a usar no Egipto, no norte de África, na América e noutros locais deve dar lugar à hipótese muito mais sensata e razoável de que uma espécie de penetração cultural se espalhou para Leste e Oeste a partir da área do continente actualmente submerso. Na verdade, é extremamente improvável que a Atlântida tenha efectivamente estabelecido algo da natureza de uma colónia. É muito mais provável que a influência atlante, depois de conquistar uma base nas costas da Europa, América e África, as tenha lentamente contornado e penetrado por fim alguma distância para o interior. De facto, é nas linhas costeiras destes continentes que descobrimos as melhores evidências daquilo a que podemos chamar a influência atlante.
Todas as grandes civilizações se distinguiram por um grupo muito definido de manifestações e práticas culturais e consuetudinárias, e a prova de que a civilização atlante se distinguiu desta forma é bastante evidente. Das costas da Europa Ocidental, às do leste da América encontra-se distribuído um certo complexo cultural que se encontra também nas localidades insulares intermédias, enquanto as suas manifestações podem também ser descobertas em grande medida no norte de África e no Egipto, por um lado, e no México, América Central e Peru, por outro. Este complexo cultural é tão constante na região mencionada que é agora evidente que um elo de ligação oceânico, actualmente desaparecido, uniu em tempos as extremidades americana e europeia.
Os principais elementos que distinguem o complexo cultural atlante são a prática da mumificação, a prática da bruxaria, a presença da pirâmide, o achatamento do crânio, a “couvade”, o uso de pedras de três bicos, a existência de certas tradições concretas de cataclismo e várias outras evidências culturais e tradicionais de menor relevo. O principal argumento é que todas estas são encontradas colectivamente confinadas a uma área que se estende das costas ocidentais da Europa às costas orientais da América, incluindo as ilhas ocidentais europeias e as Antilhas. Tanto quanto sei, estes elementos não se encontram associados entre si em mais nenhuma parte do mundo. Isto parece fornecer a mais firme das provas de que devem ter emanado de alguma região atlântica hoje submersa, que terá funcionado em tempos como elo de ligação entre Leste e Oeste, e a partir da qual estes costumes foram distribuídos, respectivamente, para Leste e para Oeste.
Vimos que os antigos aurignacenses de Espanha e França possuíam os rudimentos da arte da mumificação, e é também bem sabido que os seus parentes nas Ilhas Canárias estavam familiarizados com essa prática, numa fase mais avançada. Pelo trabalho de Alonzo de Espinosa, um monge do Século XVI, sabemos que existia nestas ilhas uma casta de embalsamadores que, tal como os da região do Nilo, eram considerados párias. O corpo era embalsamado com uma mistura de gordura de carneiro derretida e sementes de erva, pedras e casca de pinheiro, com o objectivo de dar à forma mirrada o aspecto da vida. O corpo era então colocado ao sol, até secar, e era mais tarde envolto em peles de ovelha cosidas, depois cobertas por casca de pinheiro. Alguns dos mortos mais importantes eram colocados em sarcófagos feitos de madeira dura e esculpidos numa só peça com o feitio do corpo, precisamente como os caixões das múmias egípcias. Sabe-se também que o corpo era enrolado em peles tratadas, tal como os cadáveres egípcios eram enrolados em faixas de linho. O costume das Ilhas Canárias assemelha-se ainda ao egípcio no aspecto de a primeira incisão no corpo ser feita com uma faca de pedra.
Exames feitos às múmias encontradas nas Ilhas Canárias provam que estas ostentam uma forte semelhança com as do Peru.
Os princípios da mumificação são assim encontrados entre os aurignacenses de Espanha e França e as suas fases posteriores entre o povo das Ilhas Canárias. Se cruzarmos o oceano até às Antilhas, descobrimos que a arte da mumificação também aí floresceu em tempos. Em Porto Rico, o crânio e ossos do morto eram enrolados em tecido de algodão ou colocados em cestos e preservados para veneração. Mais uma vez, os crânios eram frequentemente presos a corpos falsos, feitos de algodão, e guardados num templo separado. Os caribes, da mesma forma, faziam imagens de algodão que continham ossos humanos. Peter Martyr menciona certos zemis ou ídolos feitos de algodão, e um destes, descoberto em Santo Domingo, consistia de um crânio envolto numa cobertura de algodão e preso a um corpo cheio com o mesmo material. Tinham sido inseridos olhos artificiais nas órbitas e os braços e pernas estavam envoltos em ligaduras de algodão. No Haiti era costume, antes de sepultar o corpo, envolvê-lo com ligaduras de tecido e colocá-lo num túmulo com símbolos e amuletos. Las Casas e Colombo mencionam ambos que os índios do Haiti faziam estátuas de madeira, nas quais colocavam os ossos dos familiares, dando às estátuas os nomes das pessoas a quem os ossos haviam pertencido. Um mito dos índios haitianos contava como um certo ídolo, Faraguvaol, fora, tal como o Osíris mumificado, descoberto no tronco de uma árvore. Ao ser envolto em algodão era-lhe possível escapar, tal como a ba ou alma egípcia podia escapar das suas ligaduras.
Mr. J. H. Fewjes, que investigou os costumes nativos das Antilhas, observa que: “Os mortos eram por vezes envolvidos em tecido de algodão, e escritos antigos mencionam bonecos ou efígies de algodão nas quais eram guardados os ossos dos mortos. Um dos melhores exemplos figura num artigo deste autor, no seu panfleto sobre os zemis de Santo Domingo […] A figura, que foi encontrada, segundo o Dr. Cronan, numa gruta nas imediações de Maniel, a oeste da capital, media setenta e cinco centímetros de altura.” Segundo o mesmo autor, a cabeça deste espécime era um crânio com olhos artificiais e coberto por tecido de algodão.
Em volta da parte superior dos braços e das coxas encontravam-se tecidos, provavelmente de algodão, segundo um costume para o qual já chamamos a atenção. Há uma representação de faixas sobre a testa. Aqui vemos uma distinta reminiscência das ligaduras das múmias, e uma grande abertura no abdómen da figura mostra conclusivamente que a intenção do autor era representar um corpo eviscerado.
Se avançarmos agora mais para Oeste, para o continente americano, encontramos evidências abundantes da prática de embalsamar os mortos. Isto é mais evidente, claro, nos centros altamente civilizados como México, América Central e Peru. O método de embalsamar o corpo diferia entre estas regiões. No México o cadáver era colocado numa posição sedentária, dentro de um feixe-múmia, que era coberto com adornos, penas e símbolos. Sobre isto era colocada uma rede de corda e, por cima, uma cabeça falsa ou máscara, o que nos dá um elo de ligação com a prática das Antilhas. Na América Central o corpo, depois de embalsamado, era colocado numa posição reclinada e enrolado em ligaduras, quase como no Egipto. As imagens encontradas nos manuscritos nativos mexicanos e Maias fornecem muitas representações de múmias. Os Maias da América Central enterravam os corpos de reis e sacerdotes em elaborados sarcófagos de pedra, acompanhados com vasos canópicos semelhantes aos empregues nas práticas funerárias egípcias, e cobertos por tampas que representavam os génios dos quatro pontos da bússola, tal como acontecia no Egipto.
Também como os egípcios, os Maias associavam certas cores com os principais órgãos do corpo e com os pontos cardeais. Em alguns casos, cores e órgãos coincidiam nos exemplos Maias e egípcios. Encontramos também o cão como guia dos mortos, tanto no Egipto como no México. Quando um chefe mexicano morria, era morto um cão que, supostamente, o precederia para o outro mundo, precisamente como o cão Anubis fazia no caso dos mortos egípcios. Outra notável semelhança entre a prática funerária egípcia e mexicana é a presença nos manuscritos mexicanos do símbolo tat em associação com a múmia, cujo emblema se acreditava fornecer ao morto uma nova espinha dorsal na altura da ressurreição. Este símbolo tat, diga-se de passagem, ostenta uma forte semelhança com certos símbolos azilenses encontrados em seixos pintados e em grutas de França e Espanha.
Certos deuses mexicanos desenvolveram-se efectivamente a partir da ideia da múmia. Um deles, Tlauizcalpan-Tecutli, o deus do planeta Vénus, é representado, tanto no Codex Borgia como no Codex Borbonicus, como uma múmia acompanhada por um pequeno cão azul, o companheiro dos mortos. Na altura do seu festival erguia-se uma múmia falsa num mastro, em torno do qual os sacerdotes celebrantes dançavam. Talvez a imagem mais instrutiva relacionada com este tema, entre os manuscritos mexicanos, seja a encontrada no Manuscrito Sahagun, no qual são representados sacerdotes mexicanos durante a confecção da múmia falsa, da máscara e dos ornamentos de papel e bandeiras que a acompanhavam. Quase tão interessante é a Reiación de las ceremonias y Ritos de Michoacan, citada por Seler, que contém várias imagens notáveis que ilustram o processo de mumificação nessa região.
No Peru, a arte da mumificação estava muito disseminada e os túmulos desse país têm fornecido grande número de corpos mumificados. Os mortos eram envoltos em peles de alpaca, nas quais eram cuidadosamente desenhados os contornos dos olhos e da boca. A mumificação era praticada em muitas outras partes da América mas, uma vez que já me debrucei pormenorizadamente sobre todas estas evidências noutra obra, seria desnecessário repeti-las aqui[1].
O segundo elemento distintivo do complexo cultural atlante é a presença de bruxaria. Não se pretende transmitir a impressão de que a bruxaria não se encontra em países onde este complexo cultural não penetrou, mas a intenção é demonstrar que esta prática é encontrada em ligação com os outros elementos do complexo cultural atlante nos locais onde este penetrou. Na verdade, parece provável que a bruxaria, como culto, tenha tido origem na Atlântida. É na realidade um culto de fertilidade, com origem num culto muito antigo do touro enquanto símbolo de fertilidade animal, mas o que a torna de grande significado para os estudantes da arqueologia atlante é o facto de, nos seus aspectos mais marcantes, estar associada às regiões que foram indubitavelmente mais afectadas pela imigração da Atlântida — França, Espanha e México, e na região aurignacense dos dois primeiros países.
De facto, a sua distribuição é praticamente a mesma dos antigos costumes que se vieram a desenvolver, mais tarde, na mumificação.
Temos as melhores evidências de que os aurignacenses a praticavam, através das suas pinturas rupestres. Num abrigo rochoso em Cogul, perto de Lerida, Espanha, foi descoberta uma pintura que representa várias mulheres vestidas com a indumentária tradicional das bruxas, de chapéus bicudos e saias compridas, a dançar em torno de um ídolo ou sacerdote masculino, que está pintado de preto — na verdade, o “homem negro” da tradição das bruxas. Acena é representativa de uma assembleia de bruxas. Sabe-se também que o culto das bruxas florescia no México, antes e depois da invasão de Cortez. As bruxas mexicanas, as ciuateteo, vagueavam supostamente pelo ar, assombravam entroncamentos, atacavam as crianças com paralisia e usavam setas de sílex como armas, precisamente como as bruxas da Europa. A assembleia das bruxas era de facto uma instituição tão conhecida no México antigo como na Europa medieval. A bruxa mexicana, tal como a sua irmã europeia, tinha uma vassoura na qual voava pelos ares, e estava associada com a coruja-das-torres. Na verdade, a rainha das bruxas, Tlazolteotl, é representada montada numa vassoura e com o chapéu bicudo das bruxas. Noutros locais é vista de pé ao lado de uma casa, acompanhada por uma coruja, num quadro que representa a residência da bruxa, com ervas medicinais penduradas nos beirais. Também as bruxas mexicanas, como as suas correspondentes europeias, se besuntavam com unguentos que lhes permitiam voar e envolviam-se em danças selvagens e lascivas, precisamente como os aderentes do culto na Europa. Na verdade, os antigos monges espanhóis que as descrevem chamam-lhes bruxas.
A ligação entre a mumificação e a bruxaria é suficientemente clara, pois as bruxas da Europa valorizavam acima de todas as coisas um pedaço de carne de múmia egípcia como veículo para as suas operações mágicas, e a mesma prática vigorava na América, onde as mãos e dedos de mulheres mortas eram usados pelo feiticeiro com finalidades mágicas. Mais ainda, os feiticeiros Kwakiutl do noroeste da América utilizavam como veículo mágico a pele e carne de um homem morto, seca e assada sobre o fogo, e depois esfregada e amassada. Esta era depois envolta num pedaço de pele de animal ou tecido, e enfiada dentro de um osso humano oco, que era então enterrado no solo num caixão em miniatura. A relação entre a bruxaria europeia e americana é pois suficientemente clara, e nenhum dos dois sistemas mostra grandes semelhanças com os cultos de feitiçaria da Ásia, a maioria dos quais se baseia essencialmente numa organização masculina. Estas semelhanças, quando consideradas em conjunto com a ocorrência geográfica do culto, parecem demasiado significativas para poderem ser ignoradas, especialmente se tivermos em mente que a antiga área aurignacense foi, em época posterior, um dos baluartes da bruxaria na Europa.
Parece também que temos as melhores razões possíveis para considerar a bruxaria na Europa e na América como uma emanação da Atlântida. Nas lendas mitológicas gregas dos Jardins das Hespérides e das Amazonas de Hespéria encontramos memórias de um bem marcado culto feminino, tal como acontece nas tradições dos guanches das Ilhas Canárias, os últimos vestígios da Atlântida. Já resumi o material tradicional relacionado com as amazonas e a sua invasão da Atlântida, a partir do qual parece claro que elas tinham uma distinta associação com a bruxaria. Eram, em suma, um culto feminino de tendências guerreiras e talvez de inclinações canibalescas, como as mais modernas amazonas de Dahomey. Também é significativo que encontremos as bruxas do México a comportar-se precisamente do mesmo modo que as amazonas da tradição clássica. De facto, num período da história mexicana, uma grande força de amazonas ou mulheres guerreiras residente na região de Huaxtec, na costa oriental do México, invadiu o vale mexicano. Sacrificavam os seus prisioneiros de guerra e é de assinalar que a sua líder, por vezes, era Tlazolteotl, a principal deusa das bruxas. A sua arma principal, tal como a das amazonas, era o arco, e é evidente na descrição feita por Camargo desta deusa protectora que ela vinha dos clássicos Jardins das Hespérides. Camargo diz que ela “vivia num lugar muito agradável e deleitável, onde existem muitas fontes encantadoras, regatos e jardins floridos, que se chama Tamoanchan, ou lugar onde estão as flores, o nove vezes acorrentado, o lugar dos ventos frescos e suaves.” Esta passagem liga obviamente as amazonas da Hespéria às do México, e a circunstância de ambas estarem armadas com arcos, bem como com escudos de pele de serpente, parece encerrar a questão.
Encontram-se também cultos de bruxaria nas ilhas europeias e americanas que formavam os elos de ligação na cadeia entre a Atlântida e os respectivos continentes. Entre os guanches das Ilhas Canárias encontrou-se uma seita conhecida como os Effenecs, cujas sacerdotisas virgens, as Magades, veneravam em círculos de pedras. No Barranco de Valeron ainda se pode ver o círculo onde celebravam os seus rituais. Tal como as bruxas mexicanas, aurignacenses e cretenses, envolviam-se em danças simbólicas e atiravam-se ao oceano, como sacrifício às águas que acreditavam que um dia submergiriam as suas ilhas. Também, como a sacerdotisa da deusa mexicana Tlazolteotl, era seu dever baptizar as crianças. A poliandria vigorava entre elas, e parecia que a ilha funcionava sob um domínio feminino. Nas Antilhas é um pouco mais difícil desenredar os elementos nativos de bruxaria dos elementos do culto de Obeah, que é de origem africana, mas a presença distinta nestas ilhas de sacerdotisas desse culto mostra que devia ter tido também uma forte influência na zona.
A presença da pirâmide é mais uma evidência da presença do complexo atlante. Já mencionámos as evidências nesse sentido, e basta apenas dizer aqui que as pirâmides, quer de carácter completamente desenvolvido ou em forma evolucionária, se encontram intimamente associadas com os outros elementos do complexo cultural atlante na Europa, tal como nas Ilhas Canárias (em forma de dólmen), nas Antilhas, no México e no Peru, bem como na região dos construtores de cerros na região do Mississipi. Mas passemos agora a evidências de carácter muito mais notável.
O costume de achatar artificialmente o crânio é um costume tão peculiar que não se pode considerar que tenha tido origem em mais do que uma área distinta, e contudo encontramo-lo indubitavelmente associado aos outros elementos do complexo atlante, ao mesmo tempo não o encontramos noutras partes do mundo onde esse complexo não penetrou. Assim, podemos vê-lo muito claramente nas figuras aurignacenses representadas nas maravilhosas pinturas rupestres de Alpera, entre os nativos da Biscaia nos dias de hoje, nas Antilhas, e entre os Maias e aztecas da América Central. Este tipo de distorção craniana parece de facto ter feito parte de uma cultura específica que se espalhou ao longo da rota atlântica, da Biscaia à América Central. Sir Daniel Wilson observa que o Dr. Foville, “um distinto médico francês, director do Asilo para Loucos na região de Seine-lnferieure e Charenton, trouxe à luz do dia o facto admirável de a prática de distorcer o crânio na infância, através de um toucado peculiar e ligaduras, ainda existir em França; e na sua grande obra «Anatomy of the nervous system» que ele apresenta exemplos de cabeças comprimidas desta forma, uma das quais pode mesmo ser confundida com uma relíquia sepulcral peruana. A prática foi provavelmente herdada de uma época remota, e encontra-se principalmente em determinadas regiões. Normandia, Gasconha, Limousin e Bretanha são especialmente conhecidas pela prevalência desta prática, com algumas variações locais em termos de método e resultados.” Sabe-se também que a deformação do crânio é hoje largamente praticada pelos bascos, que ocupam quase o mesmo território que os Cro-Magnon em tempos aurignacenses.
Este costume da distorção de cabeças também é praticado entre os índios das Antilhas, de quem Charlevoix diz: “Achatavam as cabeças por arte, reduzindo assim o tamanho da testa, o que lhes agradava muito. Para fazer isto, as mães tinham o cuidado de manter as cabeças firmemente apertadas entre as mãos ou entre duas pequenas tábuas, o que, gradualmente, achatava a cabeça, endurecendo assim o crânio numa forma moldada.”
Hoje é um facto bem conhecido que o achatamento de cabeças através do método conhecido como tábua de berço era, e ainda é, praticado entre várias tribos no continente americano. Os maias, em particular, aplicavam pressão sobre a testa durante a infância, como pode ser visto pelos crânios oblíquos das figuras representadas nas suas estátuas e baixos-relevos, e o mesmo é verdade em relação a vários povos índios na costa ocidental da América. Não consigo encontrar indícios de nenhuma prática do género nas Ilhas Canárias, e é possível que o costume aí tenha morrido, mas é bastante estranho descobrir um costume tão pronunciado precisamente na linha que se presume para a disseminação da cultura atlante, tanto a Leste como a Oeste, tratando-se de uma prática que não é de modo algum comum noutras partes do mundo.
Parece também que a prática de tatuar o corpo deve estar associada ao complexo atlante.
O costume persistente das tatuagens, ainda tão prevalecente entre as nossas classes operárias e de marinheiros, tem sido encarado por mais do que um antiquário como uma relíquia de um passado remoto em que, muito provavelmente, toda a população das ilhas britânicas ostentava esse tipo de decorações. O facto de as tatuagens serem consideradas pelos romanos como um costume particularmente britânico é evidente em muitas passagens clássicas, mas especialmente numa de Claudian, que personifica a Britânia como uma mulher cuja cabeça é coroada com a pele de um “monstro caledónio”, e cujas faces estão fortemente marcadas com as impressões do ferro de tatuar. Herodiano, um grego contemporâneo de Severo, é a autoridade a quem recorremos para a afirmação de que os bretões do Norte, que esse general encontrou durante as suas campanhas, não usavam roupa porque não queriam esconder as tatuagens com que os seus corpos estavam cobertos.
Na verdade, existem amplas provas de que o nome tribal “britons[2]“ significava “povo tatuado”. Os habitantes goidélicos ou de língua gaélica das Ilhas Britânicas chamavam-se a si próprios “Cruithne” ou “Qrtanoi“, “aqueles que se tatuam”. Esta palavra, nas bocas dos marinheiros de língua galesa de Marselha, que transportavam mercadoria para a Grã-Bretanha, tornou-se “Brtanoi“, e na boca dos mercadores gregos dessa cidade, Bretanoi, associando assim para sempre a nossa denominação nacional com um erro de pronúncia estrangeiro. Para os nativos do País de Gales, outro povo de língua galesa, Pictland era conhecida como “Priten“, e existem provas de que, em tempos remotos, eles deram este nome a toda a ilha, “Ynys Prydain“, ou “Ilha dos Pictos“, isto é, “Ilha do Povo Tatuado“.
O facto de “Cruithne” ou “Qrtanoi” significar “tatuados” é bastante claro por outra passagem em Herodian, que diz que os bretões do Norte tatuavam na pele figuras de animais. Esta indicação dessa prática é duplamente valiosa por ter sido escrita pelo menos um século antes de o nome Pictos, ou povo tatuado, ser mencionado na literatura clássica. É apoiado por uma interpretação do antigo escritor gaélico Duald MacFirbis, que diz que “Ceuithneach (Pictus) é aquele que tem as cruths, ou formas de animais, aves e peixes, no rosto e em todo o corpo”.
Esta evidência, como veremos, está completamente à parte das mais antigas derivações que vão buscar o nome “Picto” ao latim picfus, “pintado”. Mas é certo que o nome Picto, na sua forma nativa e não latina, significava “tatuado”. Remonta a uma antiga forma goidélica, Qict, e a uma raiz muito mais antiga ariana, peik, que significava “tatuado”, e não pode haver dúvidas de que os romanos confundiram naturalmente a palavra com o seu próprio termo, pictus. A muito citada afirmação de Cláudio, de que os Pictos eram “nec falso nomine Pictus“, “não erradamente chamados o Povo Pintado“, implica simplesmente que Cláudio sabia que eles decoravam os seus corpos com símbolos, e ficou bastante surpreendido ao descobrir que o seu nome tribai se assemelhava à palavra latina para coisa ou pessoa pintada. “Pictos” diz Rhys, “era uma palavra celta da mesma etimologia e aproximadamente com o mesmo significado que o latim pictus. Os celtas aplicavam-na já em tempos muito antigos aos Pictos, devido ao facto de estes se tatuarem, e os Pictos aceitavam-no.”
Mas é geralmente menos conhecido que a palavra “Scots“[3] também significa “tatuados”. Rhys crê que deriva de um radical que significa “cortados”, ou “tatuados”, e é apoiado por Macbain nesta derivação. Uma passagem em Isidore of Seville explica “Scot” como “uma palavra que implica que se tem o corpo pintado, no qual foram desenhadas várias figuras com ferros afiados e manchas coloridas”. Segundo Mr. E. W. Nicholson, da Biblioteca Bodleana, parece haver pouca ou nenhuma diferença real entre “Scot” e “Picto“. “Provavelmente não havia maior distinção entre um ‘Scot’ e um ‘Picto’” observa ele, “do que entre um saxão e um anglo: ambos os nomes significam a mesma coisa, ‘tatuado’.” Falando dos Pictos e dos Scots da Irlanda, o Professor Rhys observa que “toda a História irlandesa mostra que eles eram comunidades intimamente semelhantes aos Cruithne, e presumo que os nomes Cruithne e Scots podem ter sido originalmente aplicáveis igualmente a ambos”.
Mas evidências muito interessantes preservaram vestígios sobre a forma como os nossos antepassados efectivamente se tatuavam. Havia Pictos em França, bem como na Grã-Bretanha e na Irlanda, os Pictavi de Poitiers e Poitou, cujo costume de gravar figuras nas peles é ilustrado nas suas moedas. Numa moeda dos Unalli, que habitavam no Cotentin, é representada uma cabeça tatuada com o desenho de uma espada curta, com o punho no pescoço e a ponta ao nível das narinas. Mr. Nicholson chama a atenção para isto como estando provavelmente associado com o nome Calgacus, o nome do chefe caledónio que lutou contra os romanos em Mons Graupius, e que na sua forma nativa, Calg, significa “espada”. Calgacus, pensa ele, talvez tivesse tatuada a figura de uma espada, tal como o guerreiro representado na moeda em questão.
Uma moeda dos Aulerci de Maine mostra um rosto cuja face está tatuada com um círculo de pontos, dentro do qual está a figura de um galo — talvez a mais antiga representação dessa ave como emblema nacional da Gália. Numa moeda dos Bodiocasses de Bayeux aparece um rosto rodeado por pontos tatuados, no interior do qual se encontra a letra “A“. Moedas encontradas em Jersey são abundantes com figuras semelhantes, representando rostos tatuados. Frequentemente os desenhos são astronómicos, representando cometas e outros corpos celestes. Numa das moedas dos Pictos continentais há uma cabeça, no maxilar da qual está gravada uma cruz, com uma protuberância em cada uma das quatro pontas. Todos estes exemplos são provenientes do ocidente da Gália, e os desenhos das tatuagens representadas são considerados por Nicholson como, provavelmente, as marcas distintivas de uma população goidélica ou de língua gaélica, que a distinguia dos celtas galeses que não parecem ter-se tatuado.
Sabe-se que estas tribos pícticas, que estavam espalhadas por toda a área do noroeste de França, até aos Orkneys, eram um povo de marinheiros com tendências piráticas. Foi uma destas tribos, os Veneti, que Júlio César encontrou num combate naval ao largo das costas da Bretanha, e que eram, diz-nos ele, auxiliados pelos seus semelhantes da Grã-Bretanha. Os seus navios eram tão melhores e maiores do que as galés romanas que só depois de uma resistência desesperada César conseguiu vencê-los. As costas do noroeste da França e da Grã-Bretanha, da Cornualha a Caithness, pululavam com Cruithnes ou Britannis de tipo semelhante, que subsistiam do comércio marítimo uns com os outros, da pesca e, quando estas falhavam, da pilhagem. Estas tribos, em suma, foram os verdadeiros geradores do poder marítimo britânico, que, enquanto os normandos e os saxões ainda eram desconhecidos no mar, já faziam viagens de centenas de milhas em embarcações de tonelagem considerável, com velas de peles e cabos de aço.
Não será possível que, destes intrépidos marinheiros do passado distante, tenha passado até aos marinheiros britânicos modernos o costume marítimo da tatuagem? É de assinalar que a indumentária do marinheiro britânico do tempo de Nelson, com o seu boné, gola alta e colete às riscas, é idêntica à indumentária popular das regiões marítimas da Bretanha, cujos marinheiros e pescadores eram tatuadores afamados. Não temos, claro, nenhuma evidência da continuação da prática durante a Idade Média. Mas é preciso ter em mente que não era habitual, na altura, registar em ilustrações as classes mais humildes da sociedade, e é evidente que, se o costume ainda persiste entre certas classes, deve ter por trás uma antiguidade venerável.
No que diz respeito às origens da tatuagem na Grã-Bretanha, esta pode quase certamente remontar à associação etnológica das suas tribos celtas com a raça ibérica. Os celtas misturaram-se livremente com os iberos em Espanha, França e na Grã-Bretanha. Sabe-se que os iberos eram de origem africana e os antigos egípcios deixaram registado que as tribos ibéricas do norte de África tinham o hábito de tatuar o corpo. Quer a tatuagem tenha ou não tido origem no Norte de África, parece provável que esse costume se tenha espalhado, a partir daí, até à Ásia Menor e, mais tarde, à India, de onde parece ter encontrado caminho até à Polinésia. Seja como for, é evidente que se estabeleceu na Grã-Bretanha, numa era muito remota, tão fortemente, na verdade, que se tornou a marca distintiva das raças nativas, dando o seu nome à própria ilha.
Para nós, claro, “ibero” significa “atlante”, e uma vez que a tatuagem na Europa teve certamente origem nos iberos de África, parece óbvio que deve ser de origem atlante. Isso é confirmado pelo facto de os índios das Antilhas se tatuarem precisamente da mesma forma que os povos da Grã-Bretanha e da Gália. Os guetares da Costa Rica também se tatuavam com figuras de animais, e os maias da América Central empregavam a tatuagem como sinal honorífico, a par das cabeças achatadas.
Como vimos, os antigos habitantes de Espanha e da Gália eram tatuados. Não encontro qualquer registo desta prática nas Ilhas Canárias mas, quando encontramos esse costume em vigor em três dos “elos de ligação”, dos quais a Atlântida é o elo desaparecido, parece que o costume da tatuagem deve também ter emanado do continente afundado, e ter sido introduzido no Leste e no Oeste juntamente com as outras características do complexo. Na Grã-Bretanha, em particular, parece ter persistido, como aconteceria naturalmente numa área tão isolada, e a partir daí podemos sugerir que outras importações atlantes terão florescido na nossa ilha até uma era relativamente recente.
Um outro costume, de adopção mais universal, pode também ser encontrado em ligação com o complexo atlante. Trata-se da couvade, essa estranha ideia que dita que, quando uma criança nasce, o pai deve recolher ao leito e aí permanecer dias ou semanas depois de a mãe ter retomado o seu modo de vida normal. Diodoro Sículo assegura-nos que este costume prevalecia entre os antigos corsos, e Apolónio Rodio diz que era praticado pelos iberos do norte de Espanha. Mas encontramo-lo também entre os bascos de Espanha e França, ou seja, quase na antiga região aurignacense, e entre os caribes das índias Ocidentais, bem como na costa sul-americana. Parece ter tido origem na noção de que havia uma união espiritual entre o pai e a criança, e que esta última sofreria se o seu progenitor não fosse tratado tanto como a mãe. Este costume remonta à Europa, a povos de raça mediterrânica, ou seja, às raças que estavam mais intimamente relacionadas com os povos imigrantes da Atlântida.
Um uso simbólico, que de certa forma une as várias partes do complexo atlante, era a crença na pedra-trovão e nas suas estranhas propriedades. Este símbolo, tal como a seta de sílex, ou noutras formas, é quase universal, e é encarado não só pelos povos primitivos, mas também pelos povos modernos como fonte de tempestades e de fenómenos sísmicos e vulcânicos, quer se trate do raio de Vulcano, da lança dos caribes ou da seta das divindades mexicanas e egípcias. Mas, na região atlante, proporciona mais um elo de ligação entre os cultos das bruxas e da mumificação do seu peculiar complexo cultural. No México, o planeta Vénus, a estrela de Quetzalcoatl, era encarado como a pedra-trovão, e este símbolo, em muitas localidades americanas e da Europa Ocidental, era cuidadosamente embrulhado em faixas de tecido ou couro, precisamente como a múmia é embrulhada. Parece, na verdade, que as ideias originais a ele associadas foram geradas em alguma região sísmica e, em qualquer caso, como já dissemos, liga os cultos da bruxaria e da mumificação com a ideia de instabilidade sísmica. Em algumas das ilhas irlandesas, as tempestades eram precipitadas desenrolando as ligaduras de flanela em que estas pedras sagradas eram embrulhadas, e no México, o deus Hurakan, o furacão, era o equivalente sulista do deus Itzilacoliuhqui, que era meramente a faca de pedra do sacrifício, Quetzalcoatl, na sua forma do planeta Vénus, enrolado em ligaduras de múmia. Este deus, tal como Vulcano, fora estropiado por um acidente sobrenatural, pelo que tinha obviamente um significado vulcânico, como o deus do Monte Etna, cujas escórias vulcânicas eram encaradas como relâmpagos.
É difícil acreditar que, subjacente a estas ligações, não exista algum simbolismo original com aplicação à actividade sísmica. Provavelmente a pedra-trovão era considerada o próprio germe e essência da tempestade, a coisa mágica que causava ebulições da natureza, ventos, terramotos ou erupções. Noutra das suas formas, era indubitavelmente encarada como um instrumento para sacudir a terra, através do qual os deuses moldavam os seus contornos. Enrolá-la em ligaduras, contudo, parecia torná-la temporariamente tranquila, fazendo dela uma “múmia”. Enquanto estivesse confinada ao interior das suas ligaduras, estava simbolicamente “morta” e incapaz de funcionar, mas assim que estas eram desenroladas o seu espírito de destruição era solto.
Os arqueólogos descobriram, em algumas partes das Antilhas, várias estranhas pedras de três bicos, que parecem ter uma relação próxima com o símbolo. A sua distribuição geográfica está confinada a Porto Rico e à extremidade oriental de Santo Domingo, ou seja, a parte do arquipélago que provavelmente fazia parte da quase desaparecida Antilha. Estas pedras são geralmente talhadas em forma de montanha, sob a qual podem ser observadas a cabeça e as pernas enterradas de um titã. Diz o Professor Mason: “Todas as Antilhas são de origem vulcânica, como mostra claramente o material dos nossos instrumentos de pedra.” Prossegue dizendo que o formato destas pedras é altamente sugestivo das ilhas em questão, e que parecem representar figuras mitológicas com a ilha sobre as costas. Ele aponta para a lenda de Tifeu, que foi assassinado por Júpiter e enterrado sob o Monte Etna, e conclui: “Um mito semelhante pode ter sido imaginado em vários locais para explicar fenómenos vulcânicos ou montanhosos.” Não há dúvida de que está de acordo com a concepção maia do cosmos, que alude à terra como sendo suportada nas costas de um grande dragão ou baleia de quatro patas, e parece estar associado ao mito do próprio Atlas, o portador do mundo relacionado com a história da Atlântida, reflectindo-se ainda no mito de Quetzalcoatl que, na sua forma centro-americana, é garantidamente o dragão ou serpente que vivia no mar. Estas pedras parecem-me sem dúvida simbolizar uma divindade, cujo dever era sustentar a terra mas que, como Atlas, por vezes sentia a imensidão do seu fardo e o arremessava para longe, causando destruição e catástrofe universal.
Parece também que, nestas pedras de três bicos, encontramos uma combinação da ideia de Atlas e da ideia da picareta ou martelo formador do mundo. Assim, segundo parece, todo o significado do complexo cultural atlante encontra um núcleo no símbolo da pedra-trovão. A ele deve ser remetido, como ao eixo de uma roda, a prática da mumificação, a bruxaria e os mistérios da arte de construir em pedra. O martelo do deus do trovão ou divindade criativa, com o qual ele talhava e formava a terra, era na verdade idêntico ao instrumento com que os primeiros escultores efectuavam o seu trabalho. Manibozho, o deus dos índios Algonquinos, moldava as colinas e vales com o seu martelo, construindo grandes represas e molhes nos lagos. O seu mito diz que ele “esculpiu a terra e o mar ao seu gosto”, precisamente como Poseidon esculpiu a ilha da Atlântida em zonas alternadas de terra e água. Poseidon era notoriamente um deus do terramoto, bem como uma divindade marítima, e é justo inferir que ele empreendeu a tarefa em questão com a grande picareta primeva, um bico afiado de sílex, montado sobre um cabo de madeira, o mjolnir de Thor, o martelo de Ptah, com o qual a operação de formação da terra era empreendida na maioria das mitologias.
Parece que esta picareta ou martelo sagrado deve ter-se tornado simbólico de Poseidon no continente da Atlântida. Muito provavelmente seria mantido embrulhado em linho, no seu templo, tal como a pedra negra de Júpiter era preservada em Pergamos, ou as setas de Uitzilopochtli na grande pirâmide-templo no México. Na Kaaba, em Meca, o centro do mundo maometano, uma pedra semelhante é preservada enrolada em seda, e já vimos que nas ilhas irlandesas a sua correspondente era envolta em flanela e guardada numa casa à parte.
A mitologia do México contém muitas alusões a um certo Huemac ou “Grande Mão“, que parece ser idêntico a Quetzalcoatl. Esta figura encontra-se também na mitologia maia como Kab-UI, a “Mão Trabalhadora“, uma deificação da mão que segura a grande picareta ou martelo, como se torna óbvio pelas suas representações nos manuscritos nativos. Quetzalcoatl era o artesão hábil, o pedreiro, que veio de uma região atlântica. Na sua forma de Tohil, entre os quiché, é representado por uma pedra de sílex. Parece então que temos aqui o herói cultural de uma localização marítima, simbolizado por aquilo que parece ser o emblema central do complexo cultural atlante. Quetzalcoatl é também o planeta Vénus, e esta identificação dá um significado duplo ao complexo. Tal não é de modo algum enfraquecido quando vemos que esta Grande Mão é efectivamente identificada com a Atlântida nas lendas medievais, pois o mapa de Bianco, que data de 1436, contém uma ilha, cujo nome italiano pode ser traduzido como “a Mão de Satã“. Formaleoni, um escritor italiano, observara o nome mas não compreendeu o seu significado até tropeçar acidentalmente numa referência a um nome semelhante num antigo romance italiano, que contava como uma grande mão se erguia do mar todos os dias para arrebatar alguns dos habitantes para o oceano. A lenda está indubitavelmente associada à ideia do terramoto ou cataclismo numa localização marítima, e parece óbvio que a Grande Mão era o deus desta ilha atlântica, que tomava como tributo vidas humanas através de terramotos. A história parece estar ligada à do Minotauro, a divindade-touro de Poseidon, que também levava muitas vidas humanas em Creta, e à prática das Ilhas Canárias, cujas sacerdotisas, como vimos, se lançavam ao mar para aplacar o deus do Oceano, bem como ao mito dos titãs.
No relato da Atlântida feito por Platão podem ser descobertos praticamente todos os detalhes do complexo atlante, e o mesmo é verdade em relação ao mito de Quetzalcoatl. Não só os dois continentes exibem nítidos indícios da presença deste complexo cultural como os seus grupos avançados de ilhas falam eloquentemente da sua influência. Tentei demonstrar que em lado nenhum do mundo se revelou existir um complexo cultural que abarque estas manifestações particulares. Sem dúvida que, com o tempo, será possível localizar muitas adições a este complexo, maiores ou menores, mas as que já se provou estarem associadas com ele devem ser suficientes para deixar bem claro que existiu efectivamente, e que é muito provável que tenha emanado de uma região no Atlântico hoje submersa.
NOTAS:
[1] Ver «Atlantis in America», ps. 99-121.
[2] Bretões. (N. da T.)
[3] “Escocês“. (N. da T.)
Fonte: LIVRO: «A História da Atlântida» de Lewis Spence