Bem no fundo do vale de Kennet em Wiltshire, no Sul de Inglaterra, aparece o vulto do misterioso Silbury Hill (monte Silbury), a maior colina feita pelo Homem na Europa e uma das maiores do mundo. O local fica no meio da paisagem sagrada pré-histórica que rodeia a actual aldeia de Avebury e contém um complexo de monumentos neolíticos que inclui círculos de pedra, alinhamentos de pedras e câmaras funerárias. A imponente estrutura de Silbury Hill tem quarenta metros de altura, o topo plano tem trinta metros de largura e a base tem cento e sessenta e sete metros de diâmetro. A enorme vala com trinta e nove metros de largura que rodeia Silbury foi a origem de muito do material que constitui o monte, uns fantásticos 247.994,8416 metros cúbicos de giz e terra. Calculou-se que a construção do monumento necessitou do esforço de mil e quinhentos a dois mil homens trabalharem durante um ano, trezentos a quatrocentos homens a trabalharem durante mais de cinco anos ou sessenta a oitenta homens a trabalharem durante mais de vinte e cinco anos. Ao todo, foram calculadas cerca de quatro a seis milhões de horas de trabalho e houve mesmo quem sugerisse um número ainda mais elevado, na ordem dos dezoito milhões de horas. Devido às suas dimensões, Silbury foi muitas vezes comparado à Grande Pirâmide do Egipto, que é contemporânea do enorme monte inglês. De acordo com uma datação de radiocarbono recentemente obtida a partir do fragmento de um chifre, Silbury teria chegado à sua forma final entre 2490 a. C. e 2340 a. C. Mas qual era o objectivo de um empreendimento tão vasto em organização e recursos humanos?
No presente não existe qualquer consenso entre os arqueólogos sobre quantas fases de construção teria havido no enorme monte de Silbury, apesar de sabermos que os seus construtores utilizaram ferramentas de pedra, osso, madeira e chifre. O falecido Richard Atkinson, que escavou o monte no final dos anos sessenta, colocou a hipótese de ter havido três fases separadas. Numa primeira fase (Silbury I), datada de meados de 2700 a. C., o monte consistia num baixo amontoado de gravilha coberto por camadas alternadas de pedra de giz e de turfa, com cerca de cinco metros de altura por trinta e cinco de largura. Atkinson acreditava que Silbury II teria sido começado duzentos anos mais tarde, consistindo num monte muito maior construído sobre o topo de Silbury I. Nesta fase o monte tinha uma base com o diâmetro de setenta e cinco metros e uma altura de vinte. Silbury III foi a forma final do monte, praticamente aquilo que vemos hoje em dia. Atkinson pensava que a estrutura de Silbury III tinha sido construída sobre socalcos de giz, dos quais apenas os dois do topo estão agora visíveis. Cada um destes socalcos horizontais tem uma inclinação de sessenta graus para o interior, para dar estabilidade ao monumento; os socalcos foram então enchidos com terra, provavelmente vinda da vala na base do monte. Apesar da teoria das três fases de Atkinson, os últimos indícios provenientes de levantamentos de certas partes de Silbury revelaram a possibilidade de ter havido apenas uma fase de construção. Apenas um levantamento completo de todo o monumento permitiria resolver esta questão.
Houve três escavações principais em Silbury Hill, numa tentativa de compreender o seu mistério. A primeira foi levada a cabo pelo duque de Northumberland em 1776, que contratou uma equipa de mineiros da Cornualha para cavarem um poço a partir do topo do monte. Contudo, nada encontraram que fosse digno de nota e, como os trabalhadores não voltaram a encher adequadamente o poço depois do fim das pesquisas, a sua escavação acabou por levar ao desmoronamento parcial do cume do monte no ano 2000. Em 1849, o antiquário Dean Merewether supervisionou a escavação de um túnel de um dos lados do monte em direcção ao seu núcleo, mas não teve sucesso em descobrir qual a função de Silbury Hill. As escavações do professor Richard Atkinson, que tiveram o patrocínio da BBC e que decorreram entre 1968 e 1970, foram a investigação mais exaustiva alguma vez feita no local. Uma das três trincheiras de Atkinson seguiu o túnel de Merewether, mas não ocorreram quaisquer descobertas sensacionais. De facto, não foram encontrados quaisquer artefactos preciosos, nem túmulos, nem pistas para a função da estrutura. No entanto, a partir do seu trabalho no local, Atkinson pôde chegar à sua teoria sobre como o monte fora construído. As escavações de Atkinson também revelaram consideráveis indícios ambientais, que incluem a presença de formigas voadoras na turfa da construção, o que serviu para sugerir que a edificação do monte começou no mês de Agosto, que alguns interpretaram como tendo coincidido com o festival celta de Lughnasadh, ou Lammas. Apesar de Silbury ter sido construído dois mil anos antes, existem indícios da cultura celta na Grã-Bretanha.
Apesar de a maioria dos arqueólogos não conseguir explicar a função de Silbury Hill, não tem havido falta de teorias apresentadas durante os trezentos anos em que o local tem vindo a ser estudado. A crença dos investigadores dos Séculos XVIII e XIX era de que o monte representava o túmulo de algum rei britânico da antiguidade. De facto, o folclore local sugere que o monte é a última morada de um desconhecido rei Sil (ou Zel), ou que contém uma estátua em tamanho real montada num cavalo dourado. Outra lenda reza que o Diabo estava prestes a despejar um enorme avental cheio de terra sobre a vila de Marlborough, mas foi forçado a despejá-lo em Silbury devido à magia dos sacerdotes de Avebury. Apesar de o folclore conter sempre alguma verdade, não há memória da descoberta de restos humanos nas escavações feitas no monte, apesar de termos de admitir que a estrutura ainda não foi estudada na sua totalidade. Outras teorias dizem que o cume plano de Silbury Hill funcionava como uma plataforma para a realização de sacrifícios pelos druidas, ou que o monte era um templo dedicado a Mercúrio, um relógio de sol gigante, um observatório astronómico, uma representação simbólica da Deusa-Mãe, uma fonte de energia para naves espaciais extraterrestres em passagem ou um centro para reuniões e procedimentos legais. De facto já decorreram feiras no cume de Silbury Hill, mas isso aconteceu no Século XVIII.
Uma característica do gigantesco monte que parece apontar para uma função ritual é o possível caminho em espiral que vai até ao topo. Uma nova teoria (cujos indícios foram revelados por um levantamento sísmico a três dimensões levado a cabo em 2001) vai contra a hipótese que Richard Atkinson aventara sobre a construção do monte numa sucessão de camadas planas, sugerindo antes que os socalcos de Atkinson podem na verdade ser uma aba em espiral. Esta espiral pode ter tido uma dupla utilidade, tanto como estrada de acesso ao topo durante a construção como um caminho até ao cume para procissões rituais. Esta ideia também pode ser associada à profusão de motivos em espiral na arte do Neolítico, como pode ser observado, por exemplo, no templo/túmulo de Newgrange, na Irlanda. A ideia de que o monte tinha algum tipo de significado religioso é credível, visto que se encontra no interior de um complexo de monumentos rituais, funerários e cerimoniais situado à volta de Avebury, apenas trinta e dois quilómetros a norte do monumento mais ou menos contemporâneo de Stonehenge.
A enorme vala que circunda Silbury, que outrora seria provavelmente enchida com água de forma intencional, pode ser um outro indício da sua função ritual. No início do Verão de 2001 foi identificada uma marca rectilínea com dez metros de largura na vegetação, que se estendia até à vala do monte. A vegetação e as marcas indicam uma vala profunda feita pelo Homem debaixo do solo, possivelmente – como acreditam alguns arqueólogos – construída para canalizar água das fontes locais para o fosso de Silbury Hill. As valas à volta de locais pré-históricos podem nem sempre ter sido escavadas por motivos práticos, antes terem tido funções menos tangíveis como uma barreira para separar o religioso do mundano ou para proteger o local de influências malignas. O local do monumento de Silbury é também interessante. Quando foi originalmente construído, Silbury Hill teria sido provavelmente uma estrutura branca e brilhante rodeada por um fosso cintilante. Contudo, em vez de terem colocado uma tão impressionante estrutura numa montanha onde poderia ser vista a quilómetros de distância, os seus construtores colocaram Silbury num vale, de tal forma que mal se distingue no horizonte e quase não se consegue ver a partir dos outros monumentos. Talvez isto indique que o solo em que foi erigido seria tão importante como o próprio edifício, apesar de a sua colocação em terras baixas ter certamente enfatizado o seu enorme tamanho.

De forma intrigante, Silbury parece ter retido a sua importância como um local sagrado muito depois de ter sido construído. As escavações no monte revelaram um grande número de descobertas romanas, que incluem uma plataforma ritual embutida no monte, mais de cem moedas romanas na vala circundante e muitos poços romanos. No adjacente Waden Hill foi descoberta uma povoação romano-britânica que nos sugere (em conjunto com os achados do próprio Silbury Hill) que Silbury era ainda um local sagrado no período romano. Existem paralelos fascinantes com Newgrange, que também manteve o seu significado ritual no período romano. A atracção religiosa de Silbury parece ter continuado no período medieval, como é sugerido pelos achados de olaria, pregos de ferro, uma ponta de lança de ferro e uma moeda do rei Etelredo II (datada de 1010) no local. Os pregos de ferro foram encontrados no interior de pequenos buracos escavados para receberem postes de madeira, que de início indicavam uma estrutura defensiva – talvez uma fortificação no monte. Contudo, estes buracos estavam localizados no interior dos terraços, o que significa que os postes serviriam como escoras e não como defesa. Futuros estudos do monte irão certamente revelar mais indícios de interesse medieval em Silbury.
Infelizmente, a história recente de Silbury Hill tem sido deveras preocupante. Em 2000, o desabamento do poço escavado em 1776 (devido a fortes chuvas) provocou um grande buraco no topo do monte. O aspecto positivo deste desastre é que permitiu à English Heritage Society levar a cabo um levantamento sísmico do monte para sondar a extensão dos danos causados. Felizmente, o trabalho de restauro que se seguiu levou à realização de mais estudos arqueológicos da estrutura, que revelaram a possível escadaria em espiral já mencionada e a primeira datação segura de radiocarbono no local. Desde este desabamento, por forma a preservar a estabilidade do local a longo prazo, o monte de Silbury foi vedado ao público. Mas, apesar dos avisos de proibição, continua a haver pessoas que tentam entrar no local e escalar até ao topo. Os piores prevaricadores até à data foram o casal holandês Janet Ossebaard e Bert Janssen, entusiastas profissionais dos círculos das colheitas e caçadores de extraterrestres. Suspeitando de que Silbury fosse algum tipo de fonte de energia da antiguidade, o casal, em conjunto com outro caçador de círculos das colheitas, fizeram um túnel por baixo do telhado temporário instalado pela English Heritage e penetraram no poço, danificando o monte. Existe mesmo um filme disponível comercialmente da investigação do casal no interior de Silbury que mostra «a descida ao buraco, a combustão espontânea do ecrã de um telemóvel, o aparecimento de belas bolas de luz coloridas e a descoberta de salas secretas no interior de Silbury Hill». O casal foi multado em cinco mil libras pelo seu acto de vandalismo e transgressão.
Em Novembro de 2005 foram revelados novos planos da English Heritage para estabilizar Silbury Hill. A sua estratégia consiste em encher de giz os vários poços e buracos, causados pelos desastrados estudos feitos no local durante os Séculos XVIII e XIX. Nos próximos anos, a English Heritage irá também estudar a erosão do monumento causada pelos muitos visitantes que subiram ao monte de forma entusiástica ao longo de milhares de anos. Infelizmente, apesar de já não haver visitas supervisionadas ao local, haverá sempre pessoas dispostas a ignorarem os avisos e a tentarem subir ao cume. Esperemos que a English Heritage tome este facto em consideração quando aplicarem a sua nova estratégia. Tudo isto deixa-nos ainda longe de descobrir uma explicação e um significado para a construção de Silbury Hill. É importante considerar a grande estrutura no contexto da área sagrada de monumentos neolíticos em que se encontra. O significado do monte pode estar intimamente ligado à paisagem circundante e aos outros monumentos vizinhos, como o West Kennet Long Barrow (um monte funerário rectangular feito de terra), o Avebury Henge e os alinhamentos de pedras. Toda a zona de Avebury funcionou como um monumental centro religioso durante gerações e numa Sociedade sem escrita talvez o melhor método para preservar a memória dos antepassados fosse dar-lhe uma forma material. Silbury Hill é talvez uma dessas memórias que persistem dos nossos antepassados remotos.