O líder máximo da Maçonaria no Brasil, entregou livros com os segredos da organização

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Grande Oriente do Brasil
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O sigilo que cerca os rituais, códigos e tradições são a marca da maçonaria que, ao longo dos séculos, protegeu com um manto de silêncio as particularidades do seu universo. Recentemente, uma pessoa resolveu quebrar essa regra. Tratou-se justamente da autoridade máxima do Grande Oriente do Brasil (GOB) – a maior e mais antiga associação maçónica no Brasil –, o soberano grão-mestre-geral da Ordem, Marcos José da Silva. O que Marcos simplesmente fez foi registar na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, 21 livros secretos que explicam os ritos misteriosos da irmandade. Na altura a sua iniciativa despoletou uma reacção: pela primeira vez, um presidente da instituição poderá sofrer impugnação. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, o GOB foi fundado no Brasil em 1822, tem 60 mil membros e nunca antes na história da maçonaria aconteceu algo similar.A assembleia que decidiu o destino e possível punição de Silva foi marcada para Sábado, dia 18 de Setembro de 2010, no Templo Nobre do GOB, em Brasília. Mas a peleja já começou. O grão-mestre-geral recorreu ao Supremo Tribunal Federal Maçónico (STFM) – as instituições maçónicas reproduzem em quase tudo a sociedade civil – e conseguiu retirar o assunto da pauta. Porém, os 600 maçons que estiverem presentes na assembleia podem deliberar o contrário e manter a votação para abertura do processo de impugnação. O delito cometido por Silva está previsto em dois artigos do código penal maçónico: o 73, inciso XIV, condena quem “facilitar ao profano (não maçom) o conhecimento de símbolos, rituais, cerimónias ou de quaisquer actos reservados aos maçons” e o artigo 74, inciso I, pune a traição ao juramento maçónico no qual figura o sigilo.

Mas porque teria justamente o grão-mestre ferido um dos princípios básicos da organização? Há algumas versões. Os defensores de Silva sustentam que ele registou os livros secretos para evitar que outra pessoa com interesses escusos o fizesse. Seria uma iniciativa para proteger a associação de oportunistas no futuro. Os maçons favoráveis ao afastamento de Silva, por sua vez, vêem má-fé e cobiça, pois agora ele figura como organizador das obras que revelam os segredos maçónicos. Isso, na prática, confere-lhe os direitos de autor sobre as mesmas. Ou seja, passou a ter direito a comissão de 5% sobre o preço de capa de eventuais livros baseados no conteúdo registado por si. Essa tese é reforçada pelo raciocínio de que Silva poderia ter feito o registo em nome do GOB e não no de si próprio. Os livros secretos não estão disponíveis para qualquer um manuseá-los. Mas, além de alguém poder reivindicar na Justiça o direito de vê-los, os funcionários da Biblioteca Nacional já têm acesso ao material. É o fim do sigilo.

Fiel ao estilo da maçonaria, o registo das obras foi feito dissimuladamente, assim como a denúncia efectuada por uma pessoa ligada ao GOB e que trabalha na Biblioteca Nacional. “Como maçom, sinto-me ultrajado e decepcionado. Se um aprendiz mostra o livro dos rituais a um profano, é sumariamente expulso”, esbraveja um dos deputados da Soberana Assembleia Federal Legislativa da instituição, que vai participar da sessão e por isso preferiu não se identificar. “Isto é uma aberração. O que sustenta a irmandade é o sigilo em torno dos seus ritos e tradições. Até porque esses ritos são usados por maçonarias de outros países”, afirma surpreendido o professor de história da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Marco Morel, autor do livro “O Poder da Maçonaria“.

A conservação secreta dos conhecimentos e métodos de trabalho dos maçons é um dos princípios mais rígidos da doutrina. Tanto que ao ser iniciado na maçonaria, num ritual secular no qual o postulante permanece vendado na sessão até que o seu nome seja aceite pelo grupo, o novato faz um juramento no qual compromete-se a “nunca revelar qualquer dos mistérios da maçonaria e nunca os escrever, gravar, imprimir ou empregar outros meios pelos quais possa divulga-los”. Na Idade Média, a violação dos mistérios seria punida com castigos terríveis, descritos no juramento: “Se violar este juramento, seja-me arrancada a língua, cortado o pescoço e que o meu corpo seja enterrado na areia do mar…” Mas os tempos mudaram e, hoje, o grão-mestre-geral poderá ser no máximo punido como qualquer presidente corrupto.

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