Organizações noticiosas de todo o mundo foram enganadas – mais uma vez – por uma farsa que foi perpretada há mais de 50 anos.
O famigerado “memorando de Hottel” foi publicado em vários sites, incluindo o Vault do FBI. Foi apresentado como “recém-revelado” esta semana. O memorando supostamente confirma que naves extraterrestres aterraram no EUA no final da década de 40 e que a informação foi abafada.
Mas na verdade, esse famoso memorando tem vindo a fazer rondas durante vários anos (nunca foi confidencial). O Vault é simplesmente um novo sistema implementado pelo FBI, na semana passada, para tornar mais fácil acesso aos Documentos.
O memorando descreve o que foi dito a um agente do FBI, Guy Hottel, que era o agente especial de campo destacado pelos escritórios de Washington. O memorando refere um investigador da força aérea que descreveu ter encontrado uma nave acidentada no Novo México, tendo também afirmado que nessas naves foram encontrados corpos de extraterrestres. Hottel apenas relata o que esse informante anónimo lhe disse, não o que foram as suas próprias conclusões. O informante afirma que a nave foi avariada por um “radar de alta potência” presente na área.
Não só não se trata de uma informação em primeira mão, e muito afastada do Novo México, como está conectada a uma farsa com 60 anos de idade que resultou numa condenação por fraude.
O memorando foi o fim de uma longa cadeia de contos de histórias. O memorando Hottel repete uma história do Wyandotte Echo, um jornal de Kansas City, no Kansas, em Janeiro de 1950, que foi repetida a Guy Hottel por um investigador da Força Aérea que supostamente a leu (e Hottel passou-a para um memorando. Essas práticas eram comuns nos dias que antecederam a digitalização de Documentos e memorandos, tendo os memorandos de ser dactilografados). A história foi da autoria de Rudy Fick, um negociante de carros usados.
Fick ouviu a história de dois homens, I. J. Van Horn e Jack Murphy, que afirmaram tê-la obtido de um homem chamado “Coulter” – na verdade, tratava-se de um gerente de publicidade de uma estação de rádio, chamado George Koehler. Koehler soube da história através de Silas Newton.
O embuste começa com Newton e o seu cúmplice, Leo A. Gebauer. Newton e Gebauer vendiam “doodlebugs” – dispositivos que supostamente poderiam encontrar petróleo, gás, ouro ou qualquer outra coisa que o alvo do logro estivesse disposto a encontrar.
Numa entrevista de 2003 para um documentário chamado “The Other Side of Truth” (“O outro lado da verdade“), escrito e dirigido por Paul Kimball, o falecido ovniólogo Karl Pflock, descreveu a farsa original que levou até ao memorando de Hottel. Pflock observa que a diferença entre o logro de Newton e Gebauer e o de muitos outros que os precederam era de que eles afirmavam que os seus “doodlebugs” eram melhores porque eram baseados em tecnologia extraterrestre.
Os dois homens contaram a Frank Scully, um colunista da revista Variety, a história sobre a queda do OVNI. Não houve mais nenhumas testemunhas (reportagens de jornais locais não mostram nada em relativo às datas relevantes). Scully alegou no seu livro que Newton e Gebauer teriam dito que os militares tinham levado a nave para investigações secretas.
Entretanto, a história da tecnologia extraterrestre despertou o interesse de JP Cahn do San Francisco Chronicle. Cahn conseguiu convencer Newton e Gebauer a fornecer-lhe uma amostra do metal “extraterrestre”, que acabou por revelar ser alumínio.
O conto de Cahn acerca da farsa da nave extraterrestre – e dos dois vigaristas – apareceu na revista True em 1952. O resultado foi que várias pessoas que tinham sido enganadas por Newton e Gebauer apareceram para dar a cara. Uma das suas vítimas foi Herman Glader, um milionário de Denver, que tinha os meios para processá-los. Newton e Gebauer foram condenados por fraude no ano seguinte.
A farsa de Aztec surgiu novamente em 1986, quando William Steinman e Wendelle Stevens publicaram um livro chamado “Queda de um OVNI em Aztec“. Em 1998, Linda Mouton Howe, uma produtora de documentários, afirmou ter Documentos do governo que revelavam que uma nave extraterrestre teria aterrado em Roswell, Novo México, em 1947. A prova era o memorando de Hottel.
Várias agências de notícias descreveram o memorando como uma “prova” de que o governo sabia acerca das quedas de naves extraterrestres em Roswell. Mas não só o memorando não afirma nada disso, como também não está conectado à cidade de Roswell.
Há vários outros indícios de que algo está errado. O FBI tem vários Documentos que revela o seu conhecimento acerca de Newton e Gebauer, e de fraudes relacionadas com mineração que eram comuns no sudoeste, naquela época.
Além disso, uma nave extraterrestre avariada por um “radar de alta potência” é algo que não é plausível, dado que até os aviões normais podem voar sem incidentes provocados por um radar, e os radares de “alta potência” não são suficientes para danificar sequer electrónica convencional (os radares eram ainda menos poderosos nos anos 40). Acrescenta-se o facto da descrição fornecida no memorando de Hottel não coincidir com nenhuma das descrições dadas na altura do incidente dos OVNIs de Roswell.
Jesse Emspak
11 de Abril de 2011
Fonte: International Business Times
Artigo Original: http://www.ibtimes.com/articles/132868/20110411/fbi-hottel-memo-reveals-ufo-hoax.htm
O memorando de Hottel não se refere em momento algum ao incidente em Rosswell, NM, que, aliás, já foi comentado pelo astronauta Edgar Mitchell como sendo uma hipótese perfeitamente plausível. O incidente relatado no memorando de 1950 tem duas interpretações, que em nenhum momento foram levadas em conta no artigo (que tenta levar o leitor a uma forma equivocada de interpretação do evento), que o incidente de 1947 foi relatado oficialmente 3 anos depois do ocorrido ou o fato relatado por Hottel foi um caso a parte. A suposta queda em Rosswell também gerou um memorando, que aliás afirma ser um disco preso a um balão. O memorando de Hottel é bem específico e direto, na transmissão do depoimento de um investigador da Força Aérea, sobre o recolhimento de maquinas voadoras em formato circular com tripulação abatida.
Amigo Fernando Oliveira,
Este site não pretende guiar o leitor para nenhum caminho específico, seja ele o da crença em OVNI’s ou qualquer outro evento extraordinário, ou a crença em que tais coisas não existam.
O Paradigma da Matrix publicou um artigo posterior a este, chamado “Arquivo secreto do FBI expõe OVNI’s de Roswell – ou talvez não?” ( que pode consultar no link: http://paradigma-matrix.com/?p=352 ), no qual surgem múltiplas refutações à alegação de que o memorando de Hottel se possa referir, de facto, ao Caso Roswell.
O objectivo deste site, já tantas vezes referido, é o de promover o debate acerca de questões que, apesar da sua importância, raramente são colocadas.