A história do Priorado de Sião é uma verdadeira saga, que ocupa um espaço de tempo de quase mil anos, além de ser uma confusa rede de mistérios interligados, envolvendo nobres franceses, monges belgas, reis francos, o Sudário de Turim, códigos secretos, a Igreja Católica e, alegadamente, uma linha de pensadores originais, ocultistas e alquimistas. Na verdade, o Priorado de Sião pode ser o guardião de segredos políticos, religiosos e esotéricos tão importantes, que poderiam destruir nações e a principal crença da Igreja Cristã.
A sociedade secreta foi fundada em 1090 por Godfroi de Bouillon, um nobre francês, que foi um dos líderes da Primeira Cruzada e a quem foi oferecida a posição de Rei de Jerusalém — um título que recusou, aceitando antes ser o Defensor do Santo Sepulcro. Bouillon viajou para Jerusalém com um conclave de monges belgas, que acreditavam que ele descendia dos Merovíngios, uma dinastia de reis francos.
Os Merovíngios governaram uma parte substancial do actual território francês, entre os Séculos V e VII, mas foram derrotados pela dinastia rival, Carolíngia. A História relembra que esta dinastia acabou nesta altura, mas os «Dossiers Secrets» (uma colecção de documentos do Priorado de Sião, depositados anonimamente na Biblioteca Nacional de Paris, nos anos 60) asseguram que esta dinastia sobreviveu, graças às suas actividades secretas.
O Priorado de Sião afirma ainda que influenciou muitos acontecimentos mundiais numa tentativa de colocar descendentes dos Merovíngios no poder político, através de uma rede de segredos, Esoterismo e práticas ocultas. Muitos dos seus Grão-Mestres eram alquimistas ou ocultistas e encontravam-se por detrás de diversos grupos esotéricos, como os Rosacrucianos e algumas ordens de Franco-Maçons.
A primeira sede da sociedade foi a abadia Our Lady of Mount Sion, em Jerusalém, que foi mandada construir por Godfroi de Bouillon. Os Cavaleiros a ele ligados intitulam-se Knights of the Order of Our Lady of Sion e até esta data têm sido associados com os Cavaleiros Templários, mas separaram-se uns dos outros em 1188.
O Grão-Mestre (ou Nautonnier) era um nobre normando chamado Jean de Gisors. Grão-Mestres posteriores adoptaram o nome Jean (ou Jeanne, para as mulheres). Estes incluíam nomes como Sandro Botticelli, Leonardo Da Vinci, Nostradamus, Isaac Newton, Victor Hugo, Claude Debussy e Jean Cocteau. Rumores apontam como actual Grão-Mestre um advogado espanhol, e o nome de Pablo Norberto tem sido mencionado, mas a sua identidade é ainda desconhecida. Outros acreditam que o actual Grão-Mestre vive na Bélgica.
Se a História acabasse por aqui, seria mera curiosidade, uma diversão esotérica, poderia mesmo ser uma fraude bem elaborada e fundamentada, mas existem outros segredos por desvendar.
Nos anos 90, os investigadores Lynn Picknett e Clive Prince estavam a trabalhar no Sudário de Turim quando foram abordados por um indivíduo que afirmava ser membro do Priorado de Sião.
Ele revelou-lhes que o Sudário de Turim tinha sido falsificado em 1492, pelo décimo segundo Grão-Mestre, Leonardo da Vinci, usando a sua própria face e “impressão alquímica” — uma técnica fotográfica primitiva. Picknett e Prince investigaram a denúncia, fazendo a sua própria pesquisa e, em 1994, publicaram os livros «Turin Shroud», «In Whose Image? The Truth Behind the Centuries Long Conspiracy of Silence», e três anos mais tarde, «O Segredo dos Templários – O Destino de Cristo».
Surgiu outra revelação com a descoberta de um padre, de 33 anos, numa pequena igreja católica em 1885. O padre era François Bérenger Saunière e a sua descoberta foi feita na igreja de Sta. Maria Madalena, na pequena freguesia Rennes-le-Château. A igreja, situada num planalto da região francesa de Languedoc, era originalmente a capela privada dos senhores de Rennes-le-Château.
Em 1891, ao restaurar a igreja, Saunière descobriu um pergaminho secreto, dentro de um dos suportes de um antigo altar, que alguns cálculos apontam para o período Visigodo dos Séculos VII e VIII. Outros relatos afirmam que Saunière descobriu quatro documentos distintos — duas genealogias datadas de 1244 e 1644 e duas cartas. Descobriu ainda duas mensagens codificadas no cemitério exterior, no túmulo de Marie de Nègre d’Ables, marquesa de Blanchfort e do último marquês de Rennes-le-Château, que tinha morrido em 1781.
Mostrou os achados ao seu superior, o Bispo de Carcassonne, que o mandou para o Seminário Saint Súplice, em Paris (local que se pensa ter sido a sede de uma sociedade secreta, chamada Compagnie du Saint-Sacrement, a antecessora do Priorado de Sião).

Enquanto Saunière estava em Paris, começou a mover-se nos círculos da elite e pode mesmo ter tido um romance com uma cantora de ópera parisiense, chamada Emma Calve, uma importante alquimista (ela visitou-o frequentemente em Rennes-le-Château). Qualquer que tenha sido a natureza deste relacionamento, uma coisa é certa: depois de regressar de Paris, Saunière sofreu uma mudança dramática na sua sorte. Recebeu avultadas quantias em dinheiro para restaurar a igreja e para construir muitas outras estruturas naquela área, incluindo uma vasta biblioteca, um jardim zoológico e uma torre chamada Tour Magdala (Torre de Madalena — a mulher que os Merovíngios afirmam ser a mãe dos filhos de Jesus). Encarregou-se ainda da construção da estátua de Asmodeus (“destruidor”), o nome do demónio apocalíptico e depravado sexual, mencionado no «Livro de Tobias do Velho Testamento» (III, 8), uma poderosa figura do oculto e o construtor mitológico do templo de Salomão. Asmodeus é também símbolo de anarquia — a letra maiúscula “A” dentro de um círculo é uma representação de Asmodeus.
Dentro da igreja, Saunière construiu um painel pintado, que é uma representação ambígua do corpo de Jesus a ser transportado para o sepulcro, apesar da cena ter lugar sobre uma lua cheia, podendo ser interpretado como o momento em que o corpo foi secretamente removido da sepultura. Na entrada da igreja colocou uma placa onde se podia ler Terribilis Est Locus Iste (“Este local é terrível”), que é extraordinariamente parecido com a declaração de Jacob no Genesis 28:17, quando este viu os Portões do Céu.
A sua ascenção e subsequente riqueza ostentosa coincidem precisamente com as suas importantes descobertas. Saunière foi excomungado em 1912 e morreu cinco anos mais tarde, em circunstâncias duvidosas. Sofreu um derrame cerebral cinco dias depois da sua governanta, Marie Dernaud, lhe ter encomendado um caixão e, quando um padre o ouviu em confissão, este recusou-se a dar-lhe a extrema-unção. O segredo da sua riqueza foi confiado à sua governanta, que o revelaria no seu leito de morte. Infelizmente, também ela sofreu um derrame cerebral, que a deixou paralisada e sem fala, assim o segredo morreu com ela.
As duas mensagens codificadas encontradas no túmulo de Marie de Nègre dAbles e do Marquês de Rennes-le-Château diziam:
“A DAGOBERTO II REI E A SIÃO PERTENCEM ESTE TESOURO E ELE ESTÁ LÁ MORTO” e “PASTOR NENHUMA TENTAÇÃO QUE POUSSIN TENIERS GUARDAM A CHAVE PAZ DCLXXXI (681) PELA CRUZ E ESTE CAVALO DE DEUS EU COMPLETO (OU DESTRUO) ESTE DEMÓNIO GUARDIÃO AO MEIO-DIA. MAÇÃS AZUIS“.
Esta segunda mensagem foi descodificada através de um puzzle chamado Knight’s Tour of the Chessboard, o método do “passeio de cavalo” combinado com a palavra-chave “MORT EPEE” retirada do túmulo de Marie de Nègre. Diz-se que se refere a três quadros: Pastores da Arcádia de Poussin, A Tentação de Sto. Antonio de Tenier e ao retrato do Papa Celestino V (o único papa a renunciar).
Pressupõe-se que Saunière viu estes três quadros no Louvre, durante a sua visita a Paris.
Então, quais foram as outras ligações de Saunière ao Priorado de Sião? A resposta reside no simbolismo com que este decorou a igreja, considerado invulgar pelos padrões católicos convencionais, e que está sujeito a interpretações maçónicas. O autor francês Gérard de Sède, por exemplo, argumenta que a nona estação da via sacra está relacionada com a ordem maçónica Beneficent Knight of the Holy City. Saunière parece estar ligado ao Rito Escocês Rectificado e também participou em reuniões da Ordem Martinista em Lyons. Juntemos-lhe o facto da família Rennes-le-Château também ser maçónica e é muito provável que a boa sorte de Saunière tenha origem maçónica. De acordo com Picknett e Prince, o “Priorado de Sião” é, na verdade, uma “capa” usada pelos membros do Rito Escocês Rectificado e da Ordem Martinista.

No livro «The Turin Shroud and the Truth Ahout the Resurrection», Holger Kersten e Elmar R. Gruber dizem que a Igreja Católica planeou a revelação de fraude do Sudário de Turim, porque a verdade destruiria a Igreja. Chegaram à chocante conclusão de que Jesus ainda estava vivo quando foi coberto pelo Sudário e colocado na sua sepultura. Os autores Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln chegaram a conclusões semelhantes nos seus best-sellers «O Sangue de Cristo», «Santo Graal» e «The Messianic Legacy»: que Jesus não morreu na cruz, mas casou e teve filhos de Maria Madalena, cujos descendentes são os Merovíngios.
Foi este o segredo maçónico que Saunière descobriu? Que Jesus não ressuscitou, pois nunca chegou a morrer na cruz; que o Santo Graal não é um cálice, mas é o símbolo da descendência dos Merovíngios? — um segredo tão perigoso que quem quer que o descubra tem de fazer um pacto faustiano e aceitar tesouros terrenos em troca do silêncio?
Fonte: Livro: «O Manual das Sociedades Secretas» de Michael Bradley