«A Terra abrir-se-á na parte ocidental dos Estados Unidos. Grande parte do Japão deverá ser inundada pelo mar. O norte da Europa transformar-se-á num abrir e fechar de olhos. Aparecerá terra ao largo da costa este dos Estados Unidos.»
– Previsões em transe não realizadas de Edgar Cayce sobre grandes movimentações da placa tectónica, datadas de Janeiro de 1934.
Um vidente muito famoso, cuja reputação tem sido recentemente abalada, é Edgar Cayce. Conhecido como curandeiro até ao dia da sua morte, em 1945, a fama de clarividente foi impulsionada por uma biografia póstuma, «The Sleeping Prophet», publicada em 1967. O título («O Profeta Adormecido») derivou do hábito de Cayce proferir previsões, assim como conselhos médicos, em estado de transe.
Cayce nasceu em 1877 numa quinta perto de Hopkinsville, no Kentucky. Aos sete ou oito anos de idade, sentado numa clareira na floresta, viu uma luz forte e ouviu uma voz perguntar, como se de um conto de fadas se tratasse, quais seriam os dons que gostaria de ter. Ele pediu o dom da cura e, a partir daí, passou, segundo consta, a desfrutar de poderes terapêuticos anormais.
Segundo os relatos existentes, Cayce era um curandeiro dedicado que muito fazia pelas pessoas que tratava. Porém, as suas profecias parecem, nos dias de hoje, menos impressionantes. Em vida, Cayce ficou conhecido como o homem que previu a queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929 e a Segunda Guerra Mundial, embora as suas verdadeiras palavras fossem sempre mais vagas do que tal afirmação sugere. Em 1929, seis meses antes da «Quinta-Feira negra», Cayce disse a um corretor da Bolsa que vendesse as suas acções, porque haveria um colapso financeiro. Embora fosse uma visão presciente, outras vozes fizeram-se ouvir na altura afirmando que o mercado estava sobrevalorizado. Da mesma forma, pouco antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, Cayce avisou reservistas do exército que seriam convocados (um conselho não inteiramente inesperado, dada a instabilidade política global da época).
«The Sleeping Prophet», de Jess Stearn, preferiu centrar-se numa série de avisos geofísicos de grande importância que Cayce proferiu em transe, em meados de 1930. Estes indicavam que a Terra sofreria uma série de catástrofes geológicas entre 1958 e 1998. O eixo polar do planeta oscilaria e as movimentações tectónicas consequentes causariam oscilações terrestres a uma escala gigantesca. A cidade de São Francisco seria destruída, a Califórnia engolida pelo oceano, assim como grande parte do norte da Europa e o Japão. Também Nova Iorque acabaria por ser destruída; Cayce teve uma visão de si próprio a regressar à Terra em 2100, aterrando sobre os destroços daquilo que um dia fora Manhattan.
Cayce tinha, obviamente, fascínio pela noção de movimentações tectónicas em grande escala. Em 1915, Alfred Wegener publicara as suas teses de movimentação continental e o conceito foi alvo de uma cobertura de imprensa crescente nos anos 20. Algumas destas ideias parecem ter influenciado imenso Cayce, moldando-lhe não só a visão do futuro do planeta, como também a do passado. Convenceu-se de que a Atlântida, que, na sua ideia, estava submersa algures ao largo da costa oriental dos EUA, surgiria de novo; contava que a parte oeste emergiria perto das Bahamas no final da década de 60. Garantiu, ainda, que o continente fora habitado por uma grande civilização tecnologicamente avançada por volta de 10.000 a. C., cujos registos seriam encontrados numa câmara secreta sob a pata esquerda da Esfinge de Gizé, no Egipto, entre 1996 e 1998. Escusado será dizer que nenhum destes acontecimentos teve lugar, nem, felizmente, uma outra visão, prevendo uma terceira guerra mundial, em 1999, e o fim da civilização tal como a conhecemos.
Cayce pode ter tido um talento invulgar para entrar em transe quase por vontade, mas, perante as suas previsões, tal visão subconsciente não tinha uma ligação directa fiável com o futuro.
O vidente de Poughkeepsie
Um outro profeta norte-americano cuja reputação se desvaneceu com o passar dos anos foi Andrew Jackson Davis, o «vidente de Poughkeepsie». Tal como Edgar Cayce, Davis teve uma visão em criança que o iniciou na carreira profética e também entrava em transe para diagnosticar e curar males. Afirmava igualmente possuir o dom da previsão em estado de transe e algumas das visões foram depois registadas em livros, com destaque para «The Penetralia», publicado em 1856. As suas ideias em muito se assemelhavam às dos primórdios da era da máquina: carruagens sem cavalos, prédios pré-fabricados, ortografia fonética e um aparelho que imprimiria as ideias das pessoas com a mesma rapidez com que um piano reproduz notas musicais (uma descrição nada má dos computadores). Porém, Davis chegou igualmente a errar por completo, como aconteceu ao relatar que seriam descobertas formas avançadas de vida em Marte, Júpiter e Saturno. Hoje em dia, as suas obras são pouco lidas.
Fonte: Livro «As Profecias que Abalaram o Mundo» de Tony Allan