O economista João Ferreira do Amaral surpreendeu ao sugerir numa entrevista que Portugal deveria usar o dinheiro da troika como uma almofada para sair da zona euro.
Para muitos, a ideia pode soar a provocação – e é possível que tenha sido pensada para o ser -, mas esta é uma provocação que vale a pena valorizar. Em Portugal temos de responder a uma pergunta simples: vale a pena continuarmos no euro? A resposta não é assim tão simples. Este debate é importante no curto prazo – como instrumento de pressão sobre a Europa -, mas é decisivo no médio e no longo prazo se quisermos recuperar um projecto para o país.
Debater internamente a saída do euro serve para já como uma arma de pressão sobre a Europa. Na Grécia – país em que políticos e população estão a ser levados a pensar que já não têm nada a perder – sair do euro é um dos cenários equacionados. Isto deve causar arrepios em todas as capitais europeias. Um abandono do euro levaria à fuga em massa de capitais de outros países periféricos – como Portugal, Espanha, Irlanda ou mesmo Itália – forçando a sua saída da moeda única. As perdas para o sistema financeiro europeu seriam esmagadoras, a depressão económica inevitável.
É por isso que à medida que a Grécia – e eventualmente Portugal – é espremida por sucessivos planos de austeridade sem resultados, esta opção tem de estar sobre a mesa nestes países. É uma arma negocial. Mas mesmo que a crise europeia se resolva e mesmo que Portugal consiga cumprir o essencial do seu programa e reestruture entretanto a dívida – o cenário mais provável – o debate sobre o euro continua a ser urgente.
O novo ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, escreve com candura no livro que lançou: “Em retrospectiva, a decisão de entrar no euro pode não ter sido a mais acertada.” A experiência da última década, feita de estagnação económica, parece confirmá-lo. Portugal, país com atrasos profundos – nas instituições, na educação, na indústria… – não estava em condições de entrar no euro. O euro, regido por uma política monetária em função das maiores economias e uma ortodoxia cega na inflação, não estava em condições de receber Portugal.
Mas o que mudou entretanto? Por que razão devemos pensar que os próximos dez anos serão diferentes? Será Portugal capaz de resolver em poucos anos os bloqueios que resultam de um atraso de décadas? Irá a política económica europeia mudar? O que acontece à sociedade portuguesa com mais uma década de esmagamento de oportunidades? É tudo culpa da entrada no euro?
Em Portugal fugimos a estas perguntas. A Europa foi o único grande projecto unificador do país em democracia e a entrada no “pelotão da frente” do euro foi o coroar desse projecto. É por isso que a discussão sobre a moeda única é tão difícil para a classe política portuguesa. Nos partidos da governação (PSD, CDS e PS) poucos conseguem imaginar um país sem euro – seria uma orfandade, pensam. Não percebem que Portugal já está órfão de projecto.
Fazer este debate sobre o euro, pesando os prós e os contras, é um passo essencial para recuperar um projecto. Evitar a discussão, por outro lado, poderá ditar uma saída mais à frente – mesmo que essa seja uma péssima opção.
Bruno Faria Lopes
8 de Setembro de 2013
Fonte: iSabe
Artigo Original: http://isabe.ionline.pt/conteudo/2874-o-que-ganha-portugal-em-sair-no-euro