O reputado psicólogo suíço Carl Jung, fundador da psicologia analítica – também conhecida como psicologia junguiana -, e discípulo de Freud durante algum tempo, publicou em 1952, uma obra chamada “Synchronizität als Prinzip akausaler Zusammenhänge” (“Sincronicidade: um princípio de conexões acasuais“). O conceito de sincronismo vai para além das explicações puramente causais do mundo – que ainda é o domínio das nossas Ciências naturais. Jung argumenta que acontecimentos que ocorrem sincronizados não têm necessariamente de estar relacionados causalmente. Poderá existir, no entanto, uma importante ligação entre eles.
Jung baseou-se em acontecimentos da sua própria vida para descrever o sincronismo. Um dia, retratava ele na tela imagens tiradas da sua imaginação, quando o carteiro lhe trouxe um livro sobre Profecias chinesas que continha uma cena igual àquela que estava a pintar. O efeito que este incidente teve foi levá-lo a sentir-se ligado por aquele trabalho interior ao mundo mais vasto. Os sincronismos constituem um exemplo de como a mente e o mundo estão ligados.
O sincronismo é um conceito empírico que surge para tentar dar conta daquilo que foge à explicação causal. Jung diz que “a ligação entre os acontecimentos, em determinadas circunstâncias, pode ser de natureza diferente da ligação causal e exige um outro princípio de explicação”. A física moderna tornou relativa a validade das leis naturais e assim percebemos que a causalidade é um princípio válido apenas estatisticamente e que não dá conta dos Fenómenos raros e aleatórios.
Ao longo da sua obra, Jung deu várias definições ao conceito de sincronicidade. Aqui estão algumas delas:
- “… coincidência, no tempo, de dois ou vários eventos, sem relação causal mas com o mesmo conteúdo significativo.”
- “… a simultaneidade de um estado psíquico com um ou vários acontecimentos que aparecem como paralelos significativos de um estado subjectivo momentâneo e, em certas circunstâncias, também vice-versa.”
- “Um conteúdo inesperado, que está ligado directa ou indirectamente a um acontecimento objectivo exterior, coincide com um estado psíquico ordinário.”
- “…um só e o mesmo significado (transcendente) pode manifestar-se simultaneamente na psique humana e na ordem de um acontecimento externo e independente.”
- “Um caso especial de organização acausal geral.”
- “Coincidência significativa de dois ou mais acontecimentos, em que se trata de algo mais do que uma probabilidade de acasos.”
- “Uma peculiar interdependência de eventos objectivos entre si, assim como os estados subjectivos (psíquicos) do observador ou observadores.”
- “O princípio da causalidade afirma que a conexão entre a causa e o efeito é uma conexão necessária. O princípio da sincronicidade afirma que os termos de uma coincidência significativa são ligados pela simultaneidade e pelo significado”.
Jung define também três categorias de sincronicidade:
- 1.) coincidência de um estado psíquico com um evento externo objectivo simultâneo.
- 2.) coincidência de um estado psíquico com um evento externo simultâneo mas distante no espaço.
- 3.) coincidência de um estado psíquico com um evento externo distante no tempo.
Através da definição destas categorias, podemos perceber que nos Fenómenos sincronísticos, o tempo e o espaço são relativos, isto é, o fenómeno acontece independente destes. Basicamente o que define a sincronicidade são a coincidência e o significado.
Outros exemplos baseados na vida de Carl Jung:
Anthony Stevens, um conhecido analísta junguiano, descreve uma experiência pela qual Jung passou. Durante um sonho, ele encontra uma figura com as asas de um alcião (uma ave). Jung quis desenhar a figura para poder recordar a imagem. Enquanto o fazia, encontrou no seu jardim o corpo morto de um alcião. Estas aves são extremamente raras na zona de Zurique. Esta situação extraordinária coincidiu com fortes emoções internas.
Noutra ocasião, Jung trabalhava com uma paciente que apresentava uma forte resistência à terapia. A monotonia não escapava a nenhum dos dois, até ao dia em que ela relatou um sonho com um escaravelho dourado. Mal acabara de contar-lhe a trama quando ouviram uma batida na vidraça. Jung pôde então observar uma espécie de besouro de coloração dourada muito rara naquelas paragens e naquela estação do ano. Daí para diante a análise desenvolveu-se, ocasionando o renascimento daquela personalidade. Besouro e renascimento… um símbolo egípcio muito antigo.
O próprio relata: “Na manhã do dia 1 de Abril de 1949 eu transcrevera uma inscrição referente a uma figura que era metade homem, metade peixe. Ao almoço houve peixe. Alguém nos lembrou o costume do “Peixe em Abril” (primeiro de Abril). De tarde, uma antiga paciente minha, que eu já não via há vários meses, mostrou-me algumas figuras impressionantes de peixe. De noite, alguém me mostrou uma peça de bordado, representando um monstro marinho. Na manhã seguinte, bem cedo, vi uma outra antiga paciente, que veio visitar-me pela primeira vez depois de dez anos. Na noite anterior ela sonhara com um grande peixe. Alguns meses depois, ao empregar esta série num trabalho maior, e tendo encerrado justamente a sua redacção, dirigi-me a um local à beira do lago, em frente à minha casa, onde já estivera diversas vezes, naquela mesma manhã. Desta vez encontrei um peixe morto, de mais ou menos 30cm de comprimento, sobre a amurada do lago. Como ninguém pôde lá estar, não tenho ideia de como o peixe foi ali parar.”
O termo sincronicidade é, então, uma tentativa de encontrar formas de explicação racional para Fenómenos que a Ciência de então não alcançava, tais como os referidos acima, Fenómenos não causais que não podem ser explicados pela razão, porém são significativos para o indivíduo que os experimenta.
A construção do conceito de sincronismo surgiu também da leitura que Jung fez de um grande número de obras sobre alquimia e o pensamento renascentista. Jung chegou a possuir grande quantidade de textos alquímicos originais, que o levaram também a usar a expressão Unus Mundus na sua autobiografia, e também a ideia de Anima Mundi.