«Estais a dormir, rei da Irlanda e Inglaterra?… Consultei as nuvens… e descobri que ides conquistar a Inglaterra, a Grã-Bretanha e a Gália.»
– Adivinho druida citado num antigo manuscrito irlandês.
Em tempos anteriores à Era Cristã, os druidas formavam a classe sacerdotal dos povos celtas do Oeste europeu. Pouco se sabe sobre eles, pois não deixaram as suas crenças por escrito. Embora seja possível retirar algumas conclusões a partir de mitos e poesias celtas que sobreviveram, grande parte da informação existente provém de observadores forasteiros, muitas vezes claramente hostis. As principais fontes são os historiadores romanos, em particular Júlio César, que desenvolveu um interesse pessoal pelos druidas no Século I a. C. Relatou que eram vistos com grande estima nas terras celtas, figurando ao lado de chefes militares em termos de respeito popular. Além de realizarem sacrifícios e outras obrigações religiosas, actuavam como professores e magistrados. Possuíam um vasto conhecimento oral que podia levar vinte ou mais anos a ser adquirido. Eram dispensados de todas as obrigações militares e não pagavam impostos.
Um outro facto indesmentível é que os druidas praticavam actos de Adivinhação e Profecia. O estadista e ensaísta Cícero, um contemporâneo de César, narrou uma conversa com um druida que afirmava prever o futuro «por vezes através de presságios e outras vezes por conjectura». Existem igualmente relatos de líderes romanos que consultavam mulheres druidas. A Diocleciano foi dito: «Quando matardes o javali, sereis imperador.»
Uma previsão que se realizou após a morte do inimigo, o prefeito Aper, nome que em latim significa «o javali».
Não se sabe ao certo como os druidas praticavam a adivinhação. Por um lado, esta provinha evidentemente da observação atenta da Natureza. Dizia-se que os druidas experientes conseguiam prever o futuro a partir das formas das nuvens ou do voo dos pássaros. Existe uma referência a lebres presas que eram libertadas para que os druidas pudessem estudar o caminho que tomavam para, assim, determinarem o resultado de uma batalha. Parece também ter sido praticada uma forma de escapulomancia nos ossos de animais de sacrifício e existem relatos de videntes que abriam ossos de cães, gatos e porcos para lhes provar o tutano.
Animais mortos em rituais também figuram em forma de oráculo de sonhos, que era praticado nas terras celtas. Segundo o historiador grego do Século I a. C., Diodoro Sículo, um druida mastigava um pequeno pedaço da carne de um porco ou cavalo e colocava-o sobre uma laje à porta da casa onde estava a descansar, aparentemente como oferenda aos deuses. De seguida, caía num sono profundo, no decurso do qual um animal totémico assomava perante ele para responder a questões sobre o futuro. Semelhantes são os relatos de uma cerimónia conhecida como «sono do touro», na qual o adivinho dormitava na pele curtida de um touro em busca de sonhos proféticos. Outras fontes mencionam indivíduos levados para lugares escuros, onde eram mantidos num estado de privação sensorial durante horas ou até dias; quando eram conduzidos de volta para a luz, supostamente proferiam enunciações inspiradas.
Uma estranha forma de Adivinhação era a então chamada «meditação na ponta dos dedos», que envolvia tambores e cânticos para munir a ponta dos dedos de poder para sentir o conhecimento do passado e futuro numa pessoa ou objecto que tocavam.
O Salmão do conhecimento
Um mito irlandês que pode ter alguma relevância em noções druidas de Adivinhação descreve como o herói Finn Mac Cumhaill foi aprendiz, em criança, de um bardo para estudar a arte da poesia. O mentor de Finn passava os seus dias nas margens do rio Boyne, tentando pescar um salmão mágico que supostamente fora alimentado, enquanto cria; com o fruto da Árvore do Conhecimento. Estava previsto que quem comesse o peixe receberia o dom da premonição. O velho senhor acabou por conseguir pescar o salmão e entregou-o ao aprendiz para que o cozinhasse. Enquanto Finn grelhava, vislumbrou uma bolha na pele do peixe e, com o polegar, tentou rebentá-la, queimando-se ao fazê-lo. Para aliviar a dor, levou o dedo à boca, tornando-se, assim, a primeira pessoa a provar o salmão e, por conseguinte, o beneficiário da sua sabedoria.
Fonte: Livro «As Profecias que Abalaram o Mundo» de Tony Allan