O Tarot

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Leitura das cartas do Tarot
Leitura das cartas do Tarot

«Quando um homem está totalmente iniciado, possui um conhecimento de todos esses processos e sabe que guarda esses segredos sob pena de morte.»

–  Eliphas Levi sobre o Enforcado, que supostamente representa a necessidade de silêncio dos verdadeiros seguidores do tarot.

«O Livro da Revelação primitiva de Antigas Civilizações, o livro mais antigo do mundo.»

– O tarot esotérico descrito pelo ocultista francês Papus no final do Século XIX.

As cartas de tarot são, nos dias de hoje, provavelmente os acessórios de adivinhação mais comuns no Ocidente, apenas rivalizando em popularidade com o I Ching.

O baralho básico de tarot é constituído por 68 cartas, das quais 56 (os chamados Arcanos Menores) são dispostos em quatro naipes: taças, moedas, gládios e bastões. Cada naipe tem 14 cartas (mais uma do que o baralho ocidental comum, de 52 cartas). A carta adicional retrata um personagem da corte, o Cavaleiro, entre a Rainha e o Valete. As restantes 22 cartas formam os Arcanos Maiores. Trata-se de uma série de cartas ilustradas, cada uma apresentando a imagem de uma figura simbólica: Sol, Justiça, Morte e outras. Vinte e uma destas cartas são numeradas de 1 (o Mágico) a 21 (o Mundo). A carta 22 é o Bobo, que tem uma função semelhante à do Joker no baralho ocidental moderno.

Para ler a sorte no tarot, o tarólogo pode dispor as cartas num sem-fim de formas, sendo que em cada uma das formas a posição de uma carta influencia o seu significado. Uma das disposições mais populares é a cruz celta, que utiliza dez cartas escolhidas ao acaso depois de baralhadas pela pessoa a consultar o tarot (o consulente). O tarólogo retira, então, a primeira carta e coloca-a virada para baixo no centro da mesa, com uma outra por cima, na horizontal. Essas duas cartas representam respetivamente o tema central da consulta e quaisquer influências que possam afectá-lo. De seguida, são dispostas quatro cartas ao redor destas duas, começando pelo fundo e seguindo na direção dos ponteiros do relógio. Estas, por sua vez, refletem o contexto duradouro da situação, o passado recente, o resultado possível e o futuro próximo. Por fim, as restantes quatro cartas são colocadas ao lado da cruz, começando perto do tarólogo e subindo em linha. Em sequência, descrevem a influência do consulente e de terceiros sobre a situação, os medos e as esperanças do próprio consulente e, por fim, o provável desfecho. Uma consulta de tarot inclui, assim, uma análise profunda de uma dada situação. O indivíduo é forçado a considerar a sua posição de várias perspetivas, quase independentemente das cartas voltadas para cima.

O novo jogo

Tarot
Tarot

No que diz respeito às cartas, muitos foram os disparates escritos quanto à sua suposta antiguidade, que o estudioso inglês Michael Dummett procurou desmistificar. No livro «The Game of Tarot», de 1980, demonstrou que o baralho começou exactamente como um jogo de cartas para fazer truques. O tarot foi, na verdade, inventado na Itália do Século XV e, durante mais de trezentos anos após o aparecimento do jogo, não há referência à sua utilização – nem, de facto, a qualquer outro baralho de cartas – como meio de Adivinhação. Aparentemente, a cartomancia (adivinhação através de cartas), pelo menos no Ocidente, é uma novidade do Século XVIII, embora possa ter existido uma tradição mais antiga que passou despercebida na literatura. Pouco tempo após a introdução da cartomancia, o baralho do tarot foi alvo das primeiras reivindicações esotéricas, supostamente atribuindo o seu simbolismo ao Antigo Egipto.

Não existem, de facto, provas de qualquer ligação à Antiguidade. As cartas mais antigas existentes provêm de um baralho pintado à mão para um duque de Milão, em 1440. Os primeiros baralhos recreativos tinham chegado à Europa, vindos do Oriente islâmico, cerca de sessenta anos antes. A sua referência mais antiga consta numa carta escrita, em 1377, num convento suíço por um monge alemão, que menciona um novo jogo que «chegou até nós este ano». Os baralhos conhecidos mais antigos são idênticos aos Arcanos Menores do tarot, com quatro naipes de 14 cartas cada um.

Os nomes dos naipes derivaram diretamente dos utilizados nos países islâmicos na altura: taças, moedas, gládios e tacos de polo (os tacos de polo foram substituídos por bastões, já que o jogo de polo ainda era desconhecido no Ocidente). Copas, ouros, paus e espadas, os naipes do baralho popular de 52 cartas, foram inventados mais tarde, introduzidos somente por volta de 1480. Estes novos naipes, idealizados sobretudo para facilitar a impressão, só foram adotados no Oeste europeu. Taças, moedas, gládios e bastões são, ainda hoje, os naipes conhecidos pela maioria dos jogadores de cartas no sul da Europa.

A novidade no baralho do tarot foi, então, o acréscimo das 22 cartas dos Arcanos Maiores ao baralho existente geralmente utilizado na época. A sua função é sugerida pelo nome original: triunfi ou «triunfos», evoluindo para «trunfos». Eram numeradas de 1 a 21, sem intenção de qualquer significado profundo e simbólico, mas simplesmente para indicar o valor de cada uma.

Tarot
Cartas do Tarot

O jogo depressa se tornou popular e continua a sê-lo; é jogado, até aos nossos dias, na Áustria e Europa Central. Estranhamente, a Grã-Bretanha foi um dos poucos locais onde nunca foi adoptado. Com o passar do tempo, o jogo deixou de estar na moda em Paris e, ao ser reintroduzido na capital francesa, no final do Século XVIII, gozava de um toque exótico que se prestou a interpretações arcanas.

A cartomancia na moda

A criação do tarot divinatório deve-se à cidade de Paris pré-revolucionária do final do Século XVIII, quando aristocratas entediados estavam em constante busca de novas distrações. Pairava no ar um gosto pelo exótico, sustentado por um fascínio pelo oculto e, ainda, pelo Antigo Egipto, que estava em voga e cujas maravilhas iam sendo, na altura, gradualmente reveladas. A nova fama esotérica do tarot conseguiria, assim, satisfazer ambas as necessidades ao mesmo tempo.

Três homens tiveram papéis fundamentais na atribuição de um sentido mais renovado às cartas. Um foi o vendedor de estampas de nome Alliette, que escreveu livros sob o pseudónimo Etteilla (o seu próprio nome lido de trás para a frente). Um dos livros, publicado em 1770, auto-intitulava-se Etteilla, ou «A Way to Amuse Oneself With Cards», e sugeria uma forma de dispor as cartas para ler sinas – um novo tipo de lazer.

O sistema original de Etteilla não tinha ligação com o tarot, que só foi reintroduzido em Paris alguns anos mais tarde. Porém, quando o jogo reapareceu, chamou a atenção de um escritor, Antoine Court de Gebelin, que há muito propunha teorias místicas sobre o Antigo Egipto. Segundo o seu próprio relato, um dia deparou-se com umas senhoras a jogarem num salão e, ao examinar as cartas, depressa se apercebeu de que representavam um léxico há muito esquecido de uma antiga simbologia egípcia, que de certa forma sobrevivera ao longo dos milénios sob o disfarce inofensivo de um jogo de salão. Na verdade, parece provável, nos dias de hoje, que a ideia não foi do próprio Court de Gebelin. O escritor obteve-a de um correspondente, que assinava apenas Conde de M. e que, pouco tempo antes, lhe enviara um ensaio em que descrevia o tarot como sendo o perdido «Livro de Thoth», o deus egípcio associado à magia. Assim que Court de Gebelin publicou a sua descoberta, Etteilla reapareceu em cena com a adaptação do livro anterior à nova moda. Quando Etteilla morreu, em 1791, o mito das antigas origens do tarot estava já firmemente enraizado.

Nas décadas que se seguiram, a teoria das origens egípcias do tarot foi deixando de ser apreciada, mas surgiram outras interpretações igualmente exóticas. O ocultista francês Eliphas Lévi associou o baralho ao antigo sistema místico judeu conhecido como Cabala, identificando ingenuamente 22 cartas dos Arcanos Maiores com as 22 letras do alfabeto hebraico. A partir de França, a popularidade do tarot oculto difundiu-se, com o tempo, para Inglaterra, onde membros da seita mística conhecida como Ordem Hermética da Aurora Dourada identificaram neste jogo um simbolismo cristão baseado na lenda arturiana e na procura pelo Santo Graal. Desde então, foram proliferando novas teorias e reinterpretações: existem, no mercado actual, baralhos de tarot astecas, nórdicos e dos indígenas norte-americanos.

Entre todas as investigações históricas e a desconstrução de teses insustentáveis, é bastante fácil esquecer o quão misteriosas e evocativas são, na verdade, as cartas dos Arcanos Maiores. Parte da sua estranheza pode ser atribuída à passagem do tempo. Ainda reconhecemos imediatamente a figura da Justiça numa mulher com uma espada e uma balança. Outras imagens, como a Papisa ou a Torre fulminada por um relâmpago, permanecem inexplicáveis. O tarot tem ainda mistérios a revelar.

O Tarot dos Ciganos

A ideia de que, durante séculos, os ciganos utilizaram o tarot para propósitos de Adivinhação é um mito de origem relativamente recente. Existe, de facto, uma antiga tradição cigana de Adivinhação, mas baseada na quiromancia, e não em cartas. As primeiras referências a ciganos a utilizarem o tarot são bem posteriores aos relatos impressos que o mencionam, feitos por autores ocultistas ansiosos por estabelecer as ligações orientais do baralho. Embora existam, hoje em dia, cartomantes de origem cigana, parece que podem ter inicialmente adoptado tal prática para corresponder à expectativa dos restantes cartomantes.

Fonte: Livro «As Profecias que Abalaram o Mundo» de Tony Allan

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