As origens antigas da Astrologia

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1880
Astrologia uma ciência milenar
Astrologia uma ciência milenar

«A posição de Vénus significa que, para onde quer que ele vá, [o planeta] ser-lhe-á favorável; terá filhos e filhas… A posição de Mercúrio significa que o bravo será o primeiro entre os seus; será mais importante do que os seus irmãos.»

–  Inscrição numa placa de barro para uma criança síria por volta de 200 a. C., considerada o mais antigo horóscopo ainda existente.

«Tudo o que aconteceu no passado, tudo o que acontecerá no futuro, tudo é revelado [ao astrólogo], pois ele conhece os efeitos dos movimentos celestes passados, presentes e futuros.»

–  Guido Bonatti, astrólogo italiano do Século XIII, afirmando a omnisciência da sua Ciência.

Nos seus dias, a Astrologia era, de todos os sistemas de previsão, o mais intelectualmente convincente. Apresentava uma visão holística do Universo com a Terra no centro. Um espantoso mecanismo celestial mantinha as estrelas e os planetas nos seus cursos, circulando eternamente em torno do mundo humano, numa órbita predestinada e fidedigna. Através de intensos exercícios mentais, o astrólogo conseguia determinar matematicamente o padrão do todo, projetando não só os movimentos das estrelas, mas também a arrebatadora influência que têm de exercer sobre o mundo sublunar.

As origens da Astrologia podem remontar à Babilónia, onde a observação do céu adquiriu, pela primeira vez, os atributos de uma Ciência séria. Desde os primórdios, foi estabelecida uma relação entre os acontecimentos na Terra e os céus. Inclusivamente, os sacerdotes estudavam o espaço à procura de presságios. Uma coleção de mais de sete mil observações, conhecidas como «Enuma Anu Enlil», sobreviveu em placas cuneiformes desenterradas da biblioteca do rei assírio Assurbanipal, em Nínive. Provam que eram registados sinais como halos lunares, eclipses e os primeiros aparecimentos de planetas. Estes sinais eram vistos como reveladores da boa ou má sorte para o Estado e, em particular, para a família real, que parece ter sido a principal clientela dos adivinhos.

Horóscopo
Horóscopo

A reputação dos observadores babilónicos de estrelas tornou-se conhecida por todo o antigo Médio Oriente. Eram os «Caldeus» do Antigo Testamento, cujo nome passou a ser sinónimo de «ler o futuro nas estrelas». Foram eles que delinearam, pela primeira vez, a trajetória da órbita terrestre (o percurso do Sol durante um ano contra o fundo de estrelas fixas, conforme observado da Terra). Esta descoberta viria a constituir a base para a criação da horoscopia.

Videntes do zodíaco

O aparecimento da Astrologia propriamente dita parece ter-se seguido à conquista da Mesopotamia por Alexandre, o Grande, no ano de 330 a. C. e da confluência das culturas babilónica e grega. Foi desenvolvido um novo centro de aprendizagem em Alexandria, cidade que Alexandre fundou na costa mediterrânica do Egipto. Aqui, seguindo o padrão duodecimal já estabelecido para os meses, os eruditos de língua grega dividiram a eclíptica em 12 secções equidistantes, cada uma cobrindo 30 graus da órbita de 360 graus do Sol. Cada secção estava associada ao padrão das estrelas visíveis na porção relevante do céu noturno, pois na Astronomia da altura a Terra era considerada o centro do Universo, com o Sol e a Lua a orbitarem ao seu redor contra um pano de fundo de estrelas fixas. As 12 constelações assim observadas acabaram por ser conhecidas como os signos do Zodíaco.

As 12 «casas» em que a eclíptica foi dividida formaram a base da Astrologia, o tabuleiro no qual o jogo do destino era jogado. As peças eram os planetas, não fixos, mas sim móveis, e suponha-se que as trajetórias exerciam uma influência poderosa. O mundo clássico apenas conhecia cinco planetas e, numa fase inicial, a cada um deles foram atribuídas determinadas características, que os astrólogos afirmavam ser empíricas, baseadas no conhecimento adquirido através de uma prática extensiva da horoscopia. Marte era associado a firmeza e agressividade, Vénus à beleza e ao amor, Júpiter ao optimismo e à justiça, Saturno à prudência e ao carácter prático e Mercúrio à velocidade e a mensagens. Da mesma forma, as constelações adquiriram misteriosamente personalidades próprias: Leão era imponente e dominador, Gémeos, rápido e versátil, e assim por diante. Desta combinação dos dois sistemas, bastante complexa e refinada através de uma sofisticação quase infinita de divisão e subdivisão, nasce a Astrologia.

Na época, a Astrologia era quase a Ciência perfeita, associando cada aspeto da vida na Terra ao funcionamento quase mecânico do resto do Universo. Na sua forma extrema, a Astrologia era completamente determinista: o vidente que, através de um estudo minucioso dos mapas, pudesse avaliar todos os movimentos dos corpos celestes poderia, pelo menos em tese, calcular o padrão do passado e do futuro. Na prática, a maioria dos astrólogos optava por afirmações menos radicais. Defendiam que os planetas exerciam uma influência na vida das pessoas, mas que, ainda assim, lhes permitiam um nível de livre arbítrio para agir a favor ou contra a interferência dos céus.

A nova Ciência foi rapidamente difundida para leste, chegando à Índia por volta do Século II da Era Cristã e seguindo com os missionários budistas para a China (onde se desenvolvia uma tradição distinta, mas relacionada) e para o sudeste asiático. A Astrologia ganhou ainda fortes raízes no Irão e, mais tarde, nos países islâmicos e terras bizantinas da Europa Oriental e Médio Oriente. Estranhamente, a Europa Ocidental foi quase a única região onde a Astrologia permaneceu desconhecida nos séculos seguintes à queda do império romano; o conhecimento da Astrologia perdeu-se com o conhecimento da língua grega, na qual estavam escritos muitos dos seus textos essenciais. A Ciência só foi redescoberta nos Séculos XIIXIII com os primeiros sinais do Renascimento, sobretudo graças às traduções de dissertações árabes sob influência dos Mouros na Espanha.

Horóscopo Persa
Horóscopo Persa

Daí em diante, surgiram astrólogos por todos os países europeus. Os astrólogos eram consultados com frequência por governantes e políticos e a sua disciplina ocupou uma posição de prestígio nas universidades pelo continente fora. A Astrologia parecia ser não só intelectualmente válida, mas também uma Ciência de importância central.

Declínio e ressurgimento

Tudo mudou com a revolução científica dos Séculos XVI e XVII. Quando a nova Ciência da Astronomia retirou a Terra da sua posição no centro do Universo, as antigas crenças astrológicas foram quase literalmente apagadas do céu. O declínio da reputação dos astrólogos alongou-se por bem mais de um século a partir das descobertas de Copérnico. Quando a verdade acabou por ser compreendida, o efeito foi devastador: a Astrologia perdeu toda a credibilidade como Ciência, já que os alicerces sobre os quais se firmara tinham desaparecido.

Antes de mais, a eclíptica, que parecera ser o caminho percorrido pelo Sol em torno da Terra, revelou-se não existir objetivamente (recaindo a sua única realidade nas perceções humanas do percurso anual do Sol). Não era sequer constante; o fenómeno conhecido como a precessão dos equinócios, causado pelo movimento oscilatório da Terra à medida que orbita no espaço, significava que modificava com regularidade a um ritmo suficientemente percetível para o Zodíaco avançar uma casa inteira desde a criação do esquema inicial. Mais uma vez, as constelações em si não são padrões de luz marcados indelevelmente na esfera exterior do céu. Aos olhos do observador, também estas eram compostas por estrelas individuais, muitas vezes separadas por milhares de anos-luz e a diversas distâncias da Terra.

A Astrologia nunca mais se refez do golpe desferido pelos avanços científicos de Copérnico, Galileu e Newton. O tumulto provocado pela Astronomia faz com que o ressurgimento da sua popularidade nos Séculos XXXXI seja ainda mais surpreendente, pois o horóscopo é, hoje em dia, uma actividade muito maior do que em qualquer época passada, tendo encontrado um novo espaço nos meios de comunicação. Torna-se igualmente difícil de explicar, em termos lógicos, o incontestável sucesso nos dias de hoje, tal como no passado, de alguns astrólogos individuais. Os cépticos vêem-se agora obrigados a atribuir este sucesso a um determinado talento profético inato ou adquirido do vidente e não à influência das estrelas.

A crescente procura de horóscopos demonstra que a Astrologia preenche uma necessidade humana real e, por incrível que pareça, a Ciência apresentou uma nova disciplina de previsão: o estudo da genética e hereditariedade, tidas hoje como responsáveis por dois terços da personalidade e capacidades de cada indivíduo. Não é arriscado demais que uma profecia sugira que o engenho humano criará, um dia, um novo horóscopo baseado nos tipos genéticos um horóscopo que, no futuro, possa restaurar alguma da credibilidade intelectual de que a Astrologia desfrutou nos seus tempos áureos.

O navio desaparecido

Uma história astrológica de notável sucesso provém dos anais da exploração ultramarina europeia. Em 1519, o navegante português Fernão de Magalhães partiu com cinco navios de bandeira espanhola numa viagem épica que constituiu a primeira circum-navegação do mundo. Ao chegar ao estreito meridional da América do Sul que hoje tem o seu nome, parou para esperar por uma das embarcações, o San Antonio, que se separara da restante frota. Seis dias depois, ainda não havia sinal do navio desaparecido. Assim, Magalhães conferenciou com o astrólogo da frota, Andreas de San Martin, para descobrir o que lhe sucedera. San Martin consultou os seus mapas e informou que a tripulação se amotinara, aprisionara o capitão e regressara à Europa. Magalhães prosseguiu com a viagem rumo a Oeste e, embora tenha sido assassinado no caminho, um dos seus navios acabou por chegar a terras espanholas depois de três anos passados no mar. Ao regressar, a tripulação descobriu que San Martin tivera razão: o San Antonio regressara, de facto, à Europa e da forma que revelara.

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