O mais profundo mistério da aviação norte-americana refere-se a um episódio quase totalmente esquecido, mas ainda inexplicado, que começou em Novembro de 1896 e terminou em Maio do ano seguinte.
Da Califórnia ao Maine, milhares de norte-americanos afirmaram ter visto grandes aeróstatos pilotados, muito tempo antes de Santos Dumont e de os irmãos Wright terem inventado aparelhos de navegação mais pesados que o ar e mudado para sempre o curso da História. Os aeróstatos, aparelhos mais leves que o ar, maravilharam as pessoas que os viram e geraram muita especulação a respeito de quem seria o seu inventor ou inventores, porém até aos nossos dias ninguém sabe. Tudo o que temos à mão são algumas pistas desconcertantes, nenhuma delas mais intrigante do que a que se refere a um homem estranho, cognominado de Sr. Wilson.
No dia 19 de Abril de 1897, o Sr. Wilson fez com que a sua presença fosse conhecida. Um jovem de Lake Charles, Louisiana, estava a levar alguns cavalos, quando viu um enorme aeróstato passar a voar sobre os animais, assustando-os de tal forma que eles dispersaram e o rapaz ficou caído no chão. Nesse ponto, o aeróstato parou e pairou no ar. Pairar no ar era apenas uma das improváveis capacidades desses misteriosos engenhos, enquanto uma escada de cordas foi jogada para baixo.
Dois dos ocupantes do aeróstato desceram e ajudaram o jovem a levantar-se.
“Foi gratificante descobrir que eles eram norte-americanos normais como eu”, afirmou o jovem.
Os aeronautas desculparam-se pelo problema que tinham causado e como uma espécie de compensação, convidaram o rapaz de Lake Charles a subir a bordo da “nave”, apresentando-se como Scott Warren e Sr. Wilson. Wilson explicou o sistema de propulsão do veículo, porém o relato foi tão técnico que o jovem não entendeu nada do que eles falavam.
Um dia depois, perto de Uvalde, Texas, um aeróstato pousou e foi descoberto pelo xerife H. W. Bayler, que conversou com membros da tripulação. Um deles identificou-se como Wilson, e disse que nascera em Goshen, Nova York. De seguida, o Sr. Wilson perguntou pelo capitão C. C. Akers, morador local. Posteriormente, quando um repórter quis através de Akers saber quem era aquele tal Wilson, o capitão repondeu:
“Só posso dizer que, enquanto morei em Fort Worth, em 1876 e 1877, conheci um homem chamado Sr. Wilson, originário do estado de Nova York e nós nos demos muito bem. Ele era aficionado da mecânica e naquela ocasião, trabalhava em navegação aérea e num projecto que surpreenderia o mundo. Lembro-me de que era muito educado, aparentando ter 24 anos de idade e com dinheiro suficiente para prosseguir com as suas arrojadas invenções, dedicando todo o seu tempo a elas. Como resultado das conversas que tivemos em Fort Worth, acho que o Sr. Wilson, se conseguisse construir um aeróstato prático, provavelmente iria procurar-me para mostrar que não era tão louco quanto eu imaginava”.
De seguida, o aeróstato apareceu, um ou dois dias mais tarde, quando pousou para reparação em Kountze, Texas. Algumas testemunhas conversaram com os pilotos, que disseram chamar-se Wilson e Jackson.
No dia 25, entre a meia-noite e uma hora da manhã, o San Antonio Daily Express reportou sobre o dia seguinte:
“O céu estava muito nublado e não podia-se ver nem mesmo uma estrela. Isso fortaleceu ainda mais a luz branca e brilhante dos faróis do aeróstato e a forte iluminação que provinha dele. Por outro lado, as condições climáticas e a luz forte impediram que pudéssemos ver a estrutura do veículo. Mas, quando o estranho objecto fez uma manobra e aproximou-se mais, pode claramente vislumbrar-se uma dúzia ou mais de luzes mais fracas e de entre elas um conjunto de luzes verdes num dos lados da nave estava voltado para a cidade e outro conjunto de luzes vermelhas a estibordo indicaram claramente a sua natureza artificial”.
O jornal continua com os seus comentários sobre o episódio, sem explicar como o jornalista soube dos seguintes dados:
Os inventores do aeróstato eram Hiram Wilson, natural de Nova York e filho de Willard B. Wilson, assistente do mecânico-chefe da New York Central Railroad e o engenheiro eletricista C. J. Walsh, de São Francisco. Os homens trabalharam no projecto vários anos e quando os planos amadureceram, as partes do seu veículo aéreo foram construídas sob encomenda em diferentes regiões do país, sendo posteriormente enviadas para São Francisco, onde a nave foi finalmente montada.
O Daily Express prossegue o seu relato informando:
“Depois de ter sido testada na Califórnia, a aeronave voou para Utah e foi escondida em alguma região distante do Oeste, enquanto os seus defeitos iam sendo corrigidos. Nessa altura, ela voltou a voar em direção ao leste, atravessando os Estados Unidos da América. E então não se ouviu mais nada sobre o Sr. Wilson e a sua incrível máquina de voar”.
Quem era ele? Todas as pesquisas realizadas recentemente foram inúteis. Alguns estudos de relatórios de aeróstatos de 1897 dão-nos motivos para suspeitar que o Sr. Wilson era ainda mais misterioso do que podemos pensar à primeira vista. Vejamos, por exemplo, o que diz Daniel Cohen, autor do livro «The Great Airship Mystery»:
“Muitas coisas nessa história de Wilson são confusas e contraditórias. Qualquer tentativa de traçar o rumo do aeróstato de Wilson pelo sul do Texas durante as últimas semanas de Abril de 1897 é inútil. Parece que as pessoas viam aeróstatos em todos os lugares. Teria sido necessário haver pelo menos dois, ou talvez três aeróstatos diferentes, todos a seguir rumos erráticos, para podermos acreditar em todas as aparições e todos os encontros. Além do nome Wilson, que aparece em pelo menos cinco relatos separados, os nomes dos outros tripulantes diversificam. Assim como a quantidade de tripulantes, que varia de dois a oito. Não obstante muitas pessoas afirmarem que o inventor teria dito que em breve tornaria o seu aeróstato público, ele nunca o fez”.
Outro investigador, Jerome Clark, notou algo ainda mais estranho. Declarou ele:
“Temos um facto simplesmente impossível, que já é suficiente para levantar profundas dúvidas a respeito do papel de Wilson. O facto é o seguinte: o capitão Akers diz que vinte anos antes do aparecimento de Wilson em Uvalde, ele tinha 24 anos de idade. Em Lake Charles, em 1897, descreve-se-o como aparentemente, um jovem. Mesmo hoje, com as nossas expectativas de vida mais longa, um homem de 45 anos de idade jamais é chamado de jovem, excepto num sentido muito relativo. Assim, com oitenta anos, ele teria a aparência de um homem de meia-idade”.
Alguns inevstigadores chegaram a especular que o episódio não era o que parecia ser. Os aeróstatos e os seus ocupantes de aparência humana não eram inventores norte-americanos que, inexplicavelmente, jamais revelaram as suas invenções ao grande público, mas sim produtos de uma enigmática inteligência Extraterrestre, que procuravam disfarçar-se, usando um tipo de roupa que a cultura dos Estados Unidos da América daquele período pudesse aceitar. Trata-se de uma explicação fantástica e nós, quase um século depois, ainda não temos condições de saber se ela é verdadeira ou não. Só podemos ter certeza de que o misterioso Sr. Wilson e os estranhos aeróstatos associados com a sua aparição continuarão sendo algo indecifrável.
Fonte: Livro «O Livro dos Fenómenos Estranhos» de Charles Berlitz