Os partos gemelares da Ciência

0
701
Elisha Gray e Alexander Graham Bell
Elisha Gray e Alexander Graham Bell

A melhor maneira de saber que tempo vai fazer amanhã é esperar 24 horas e ver. Sarcasmo com a Ciência? Seguramente, mas uma grande verdade. A Ciência de tão endeusada que é, perdeu o sentido de humor e não gosta de ditos jocosos. Na realidade, há nela muita coisa inesperada.

Sabia que Alexander Graham Bell e Elisha Gray apresentaram o pedido de registo da patente do telefone no mesmo dia? E que a Teoria da Evolução foi desenvolvida simultânea e independentemente por Charles Darwin e Alfred Russel Wallace? Isto só para referir duas coisas muito conhecidas. Mas, se escavarmos na História da Ciência, sobre coisas que nem sabemos bem o que são, é um espanto! A Geometria Hiperbólica foi desenvolvida ao mesmo tempo e separadamente pelo matemático húngaro János Bolyai e pelo russo Nikolai Lobachevsky, a fita de Möbius, do matemático alemão August Möbius, foi criada ao mesmo tempo por ele e por outro alemão, Johann Benedict Listing, a descoberta do processo electrolítico de refinar o alumínio foi feita simultaneamente pelo americano Charles Martin Hall e pelo francês Paul Héroult, etc,.

Fita Mobius
Fita Möbius

Os cientistas e investigadores são todos boa gente, de primeira ou primeiríssima água, mas também são todos uns grandes sacanas. O físico canadiano William Osler costumava dizer que o crédito de uma ideia vai para o homem ou mulher que convenceu o mundo e não para quem teve a ideia.

Tive a oportunidade de ver isso ao longo de 40 anos de actividade profissional. Ninguém imagina o que são os bastidores das revistas científicas, especialmente das mais credenciadas. O golpe baixo, a jogada rasca de antecipação, o trabalho aldrabado, o plágio até, são o “pão nosso de cada dia”. O mundo nunca esquecerá o professor Jacques Benveniste, defensor da homeopatia, com o trabalho sobre a “memória da água”, publicado na impoluta revista “Nature”.

Mas o que queria dizer hoje não era só má língua, embora esta também tenha cabimento nos antros científicos. Pensava eu, antes de descarrilar e começar a bater, não nos ceguinhos, mas naqueles que vêem mais que os outros, em falar porque acontece isto das descobertas simultâneas. Mark Twain, quando interrogado porque ocorrem tantas invenções simultâneas e independentes, dizia: “Quando é tempo para o navio a vapor, você viaja em navio a vapor”. Referia-se Twain ao facto da pressão do vapor de água já ser usada por Hero de Alexandria, há mais de 2 mil anos, e só ter sido aplicada na prática industrial no Século XVIII. As descobertas simultâneas, provavelmente entre mais razões, devem-se a duas circunstâncias:

1 – O estado de amadurecimento global da Ciência no momento, que ao criar o potencial intelectual para a invenção, dá fatalmente origem ao parto desta, muitas vezes parto gemelar;

2 – A pressão da necessidade social, Política, filosófica e até religiosa. Não é por acaso que muitas grandes invenções surgiram durante guerras ferozes e duradouras. Quando a pressão é muita, como acontece com a procriação assistida, os gémeos são mais prováveis.

Mas é bom que haja muita gente a inventar a mesma coisa e ao mesmo tempo. Significa isso que a invenção é óptima e exequível. E que vai ser mais fácil receber o acolhimento do mundo.

Fonte:

odolicocefalo.blogspot.pt

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here