Os Reis Magos são familiares para a maior parte das pessoas como os Sábios do Oriente da Bíblia. O Evangelho de Mateus descreve a sua viagem seguindo a Estrela de Belém para encontrarem o salvador e oferecer-lhe ouro, incenso e mirra. Mas estes misteriosos sábios que traziam presentes exóticos existiram mesmo fora desta história bíblica? E, se assim foi, o que era a Estrela de Belém?
A palavra Mago vem do latim Magus que tem origem na palavra grega Magoi, que por sua vez originou do persa antigo Magus. É daqui que vem a nossa palavra magia. Uma das referências mais antigas aos Magos foi feita pelo historiador grego Heródoto (484–425 a. C.), que afirmou que eles eram uma classe sagrada de sacerdotes que viviam em Media (vagamente a parte noroeste do Irão e a área do Curdistão) e uma das seis tribos originais que compunham os Medes. No entanto, quando o império persa se expandiu para a sua região no Século VI a. C., os sacerdotes da antiga religião mediana, que possivelmente teve origem na Mesopotamia, acharam necessário adaptar as suas práticas à fé monoteísta zoroastra, apesar de ter sido um processo lento e doloroso. Está registado que quando Dário, o Grande, imperador persa de 521 a. C. a 486 a. C. e um dos primeiros reis da Dinastia Aqueménida (560 a. C.–330 a. C.), descobriu que os Magos da corte mediana eram hábeis intérpretes de Sonhos, estabeleceu-os em preferência à religião oficial da Pérsia. Qualquer que seja o fundamento destes factos, na época em que Heródoto escreveu, os Magos tinham-se tomado sacerdotes da religião zoroastra persa, desempenhando um papel comparável ao dos xamãs ou curandeiros. Parte dos seus deveres era servirem como consultores astrológicos dos imperadores persas e em breve atingiram uma influência religiosa poderosa, sendo respeitados como sábios por todo o império.
Uma fonte importante para os Magos ao serviço de Dário são as Tábuas da Fortificação de Persépolis, uma colecção substancial de textos administrativos persas em escrita cuneiforme, datados entre 506 a. C. e 497 a. C. É nestes textos que os Magos são descritos como operando em dois níveis, tendo influência política e religiosa. Esta função combinada de sacerdote e administrador era uma prática comum nas sociedades do Médio Oriente desta época. Os Magos tinham responsabilidades religiosas, como está ilustrado na descrição do sacrifício na capital persa, Persépolis. Como as tábuas descrevem os Magos como os que ateavam o fogo, este ritual parce ter sido um tipo de sacrifício ígneo a Ahuramazda (o senhor sábio), o deus supremo de todos os antigos Persas. Juntamente com testemunhos de escritores gregos da antiguidade, as Tábuas da Fortificação indicam que os Magos estavam presentes na corte real dos imperadores persas envolvidos nos mais altos níveis da prática religiosa e da administração persa.
Com a invasão da Pérsia por Alexandre, o Grande, no Inverno de 331 a. C., a Dinastia Aqueménida teve um final abrupto. Apesar de fontes antigas se referirem a Magos na corte de Alexandre, envolvidos em rituais de algum tipo, também é claro que Alexandre destruiu muitos santuários zoroastras, provavelmente por ver a religião deles como uma ameaça à sua autoridade.
O escritor e geógrafo grego Estrabão (63 a. C.–21 d. C.) descreve uma tribo de Magianos na Capadócia (Turquia central). Chamou-lhes ateadores de fogos, que possuíam templos de fogo com um altar onde uma chama era mantida continuamente acesa. Os Magianos visitavam o templo diariamente durante cerca de uma hora e lá faziam encantamentos, segurando feixes de ramos de tamarisco ou de outras plantas defronte do fogo e «usando à volta da cabeça altos turbantes de feltro, que descem até às faces de tal forma que chegam a cobrir os lábios». Parece que alguns Magos também viajaram para ocidente, chegando à Grécia e à Itália, onde se instalaram. Alguns vestígios das suas crenças e práticas podem ser encontrados no Mitraísmo, uma antiga e misteriosa religião baseada na adoração do deus Mitras, que se tornou popular entre as legiões romanas por volta dos Séculos III e IV d. C. No tempo do Império Romano, a palavra Mago começou a ser utilizada como um termo mais abrangente, que descrevia quaisquer representantes de um culto oriental, e na época do nascimento de Jesus tinha tomado o significado de alguém que estivesse envolvido na magia, na Astrologia ou na interpretação dos Sonhos. Os Magos parece terem sido aceites como membros na corte do Império Romano, pois alguns são mencionados como acompanhantes de governadores e de oficiais de alto posto.
A descrição dos Magos no Evangelho de Mateus (escrito entre 60 e 80 d. C.), visitando Jesus em Belém, é a única fonte que temos do evento. O texto diz que «vieram sábios do Oriente a Jerusalém» e posteriormente refere-se ao interesse dos Magos pelas estrelas, por isso é provável que os Magos de quem fala fossem astrólogos. Esta preocupação com as estrelas levou algumas pessoas a pensar que os sábios eram provenientes da Babilónia, um centro de Astrologia bem conhecido à época. No entanto, partindo puramente da natureza dos presentes que levavam – ouro, incenso e mirra -, a Arábia parece mais apropriada, apesar de não ter sacerdotes magianos. Mateus nunca menciona quantos Magos havia, mas o número dos presentes indicaria três. A natureza destes presentes tem um forte poder simbólico para os cristãos: o incenso representa a divindade de Cristo, o ouro a sua realeza e a mirra, que era usada para untar corpos, era um símbolo da paixão e da morte que estavam para vir.
De acordo com o Evangelho de Mateus, antes de chegarem a Belém os Magos visitaram primeiro Herodes, o rei da Judeia, fantoche dos Romanos. Depois de avistarem a estrela a oriente inquiriram Herodes em relação ao novo rei. Herodes, com o seu conhecimento das Profecias do Velho Testamento, conseguiu dirigi-los para Belém. Ele pediu aos Magos que o voltassem a visitar quando tivessem novidades, para que pudesse prestar homenagem ao salvador recém-nascido. Quando se aproximavam de Belém, a estrela apareceu de novo no céu e os Magos seguiram-na até encontrarem o rei dos Judeus e lhe terem oferecido os seus presentes. Posteriormente, os astrólogos foram avisados num sonho para evitarem a nova visita a Herodes e viajaram de volta para a Pérsia por um caminho alternativo. Em resultado deste truque, Herodes ficou enfurecido e ordenou o massacre dos santos inocentes, todas as crianças de Belém com menos de dois anos e da área circundante. Mas nessa altura já José levara Maria e Jesus em segurança para o Egipto.
Tem havido uma grande discussão sobre qual seria o tipo de estrela que levou os Magos do Oriente numa longa viagem até à Judeia. As explicações avançadas para este fenómeno astronómico incluem meteoritos, o planeta Vénus, conjugações planetárias, supernovas, cometas e até OVNI. Hoje em dia as duas sugestões com maior aceitação são que a estrela era ou o planeta Júpiter ou o cometa Halley.
A palavra grega aster, utilizada por Mateus no seu evangelho para descrever a Estrela de Belém, pode ser interpretada com o significado de cometa. Mas há algum registo de um cometa nesta época? No mundo romano existia a crença de que o aparecimento de um cometa era frequentemente prenúncio de eventos políticos catastróficos, ou até da morte de um imperador, o que sugere que não poderia estar associado ao nascimento de um novo messias. Mas entre os Magos da costa turca do mar Negro os cometas eram aparentemente vistos como bons presságios.
O governo muito bem sucedido de um rei em particular nessa área, Mitrídates VI, estava tão associado aos cometas como portentos celestiais positivos que ele mandou cunhar em moedas as suas imagens. O aparecimento do cometa Halley em 12 a. C. causou consternação por todo o mundo mediterrânico, em especial nos céus de Roma. Como agora se acredita que Herodes morreu em 4 a. C., a maioria dos estudiosos coloca o nascimento de Cristo entre 12 a. C. e 4 a. C., o que faz do cometa Halley um bom candidato a Estrela de Belém. Contudo, há um problema na teoria do cometa: Mateus menciona que Herodes e o povo de Jerusalém não viram a Estrela de Belém no céu nocturno, mas isso não teria acontecido se se tratasse de algo tão óbvio como o cometa Halley.
Júpiter, conhecido como a estrela de Zeus, era o planeta tradicionalmente associado aos reis e o astrónomo Michael R. Moinar, da Universidade Rutgers, em New Jersey, interpretou as afirmações do Evangelho de Mateus de que a estrela «dirigiu-se a» e «permaneceu sobre» como referências ao retorno e ao estacionamento do movimento do planeta Júpiter. Moinar descobriu uma moeda romana cunhada em Antióquia, a capital da Síria romana, datada do tempo do nascimento de Jesus e que retrata o signo astrológico de Carneiro, com o carneiro virando a cabeça para olhar para uma estrela. Moinar acredita que esta moeda foi cunhada para comemorar a tomada da Judeia por Antióquia em 6 d. C. Investigações posteriores revelaram que num importante trabalho astrológico de Cláudio Ptolomeu, o «Tetrabiblos», o Carneiro é explicado como aquele que controla o povo da «Judeia, Idumeia, Samaria, Palestina e Síria» – todos territórios governados por Herodes. Assim, é possível que a estrela na moeda seja uma representação do destino da Judeia nas mãos da Antióquia romana. Isto pode indicar que os astrólogos esperavam o nascimento de um grande rei dos Judeus anunciado pelo aparecimento da Estrela de Belém na constelação de Carneiro. A pesquisa de Moinar demostrou que os eventos celestiais em 17 de Abril de 6 a. C., quando Júpiter estava em Carneiro e se deu também um eclipse lunar do planeta, eram exactamente aqueles que indicariam o nascimento de uma pessoa divina. Apesar de ser necessário fazer muito mais investigação sobre esta teoria, ela fornece a melhor prova até agora de que os Magos da Pérsia seguiram de facto uma verdadeira estrela, neste caso Júpiter, que acabaria por levá-los a Belém e ao futuro rei dos Judeus.