OVNI em Jogo de Futebol tornou Professor no maior ovniologista do Brasil

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Ademar José Gevaerd
Ademar José Gevaerd

Trinta e três anos depois ainda é difícil explicar sem soar a algo anormal o que aconteceu no céu de Campo Grande na noite de 6 de Março de 1982. Naquele sábado o Vasco da Gama tinha ido visitar o Operário em jogo para o campeonato brasileiro de futebol, mas o que ficou do jogo, ganho pela equipa da casa por 2 a 0, foi um objecto luminoso estranho a voar acima das bancadas do estádio.

Nas três décadas seguintes, tão numerosos quanto as estrelas no universo, surgiriam relatos de pessoas que olharam para cima e viram algo que não sabiam dizer o que era.

Maria das Dores, uma adepta fanática da equipa da casa, viu. Marquinhos Tavares, futuro dirigente da federação de futebol local, viu. O lateral Cocada, do Operário, foi um dos que mais viram. O árbitro José de Assis Aragão viu, mas não interrompeu o jogo. Alberto Pontes Filho, funcionário do estádio, também viu. O defesa Rondinelli, do Vasco, viu só um pouco.

Eis o que eles viram, ao tirar-se o denominador comum a todos os relatos: uma luz forte, aparentemente vinda de um grande objecto que não era nem um avião, nem um helicóptero, nem nada produzido por mãos humanas, a cruzar rapidamente o horizonte nocturno acima do estádio Morenão.

Não havia barulho, não havia fumo, não havia lógica: havia apenas uma velocidade de movimento que deixou quase todos os que presentearam perplexos.

Não houve imagens também, fotográficas ou de vídeo. Os operadores de câmara da TV Globo, que transmitia o jogo, disseram que o seu equipamento era muito pesado para que eles pudessem virá-lo para o céu tão rápido.

Não se sabe de alguém na bancada que estivesse com uma câmera fotográfica pendurada ao pescoço, mas isso é altamente improvável: estamos a falar do começo da década de 80.

Não há registos, mas mesmo sem registos, é possível fazer História.

A “coisa” a voar no céu aconteceu na primeira parte do jogo, afirmam a maioria das testemunhas. No intervalo, a falange de apoio só falava daquilo. Nos balneários, os jogadores só falavam daquilo. Muitas hipóteses foram levantadas para explicar o que era “aquilo”, mas ninguém tinha muita certeza.

Na edição preparada no dia seguinte, o jornal “Correio do Estado“, tornou-se no título principal na primeira página, sem meias palavras: “Um OVNI, espetáculo na capital”. À reportagem controladores de tráfego aéreo do aeroporto local confirmavam a visão de estranhas luzes no céu. A aeronáutica confirmava que não havia voos previstos para o horário.

A ausência de uma explicação oficial fez parte da população confirmar algo que era repetido ora como drama, ora como farsa: naquela noite, Campo Grande tinha sido mesmo visitada por uma nave espacial tripulada por seres Extraterrestres.

Jornal com Notícia sobre OVNI em Campo Grande
Jornal com Notícia sobre OVNI em Campo Grande

A 564 km dali, Ademar José Gevaerd estava a dactilografar na sua velha Olivetti e não testemunhou o fenómeno que mudaria a sua vida para sempre. Ele tinha 20 anos, dava aulas de química em pequenos cursos de Maringá, no Paraná, tentava concluir a universidade e conservava uma paixão profunda por discos voadores.

Naquela noite, recebeu um telefonema de Campo Grande. Era o seu professor de matemática, uma pessoa que sempre gozava com a seriedade com que Gevaerd tratava os seus estudos sobre a vida Extraterrestre.

No outro lado da linha, o cepticismo do professor tinha dado lugar ao espanto. “Você não vai acreditar no que eu acabei de ver”, disse ele. E começou a descrever os objectos voadores que tinham dançado sobre o céu da sua casa enquanto ele aparava a relva do jardim.

Gevaerd ficou maluco. Não demorou até que ele se mudasse – de mala, cuia e livros de ufologia – para Campo Grande, onde entrevistaria centenas e centenas de pessoas que naquela noite viram o que, ele tem certeza, eram naves espaciais.

Foi a primeira grande pesquisa daquele que muitos consideram o maior ovniólogo brasileiro. Quatro anos depois, ele fundaria a “Revista UFO“, a única no Brasil dedicada a divulgar e investigar as aventuras dos Alienígenas no nosso planeta.

Desde então, o investigador tem sido a principal referência brasileira entre os ovniólogos considerados sérios. A sua vida é quase inteiramente dedicada ao acúmulo de conhecimento sobre o que ele chama de “manifestações incontestáveis de vida inteligente Alienígena“.

Gevaerd participa em congressos internacionais onde descreve os casos de observações de OVNIs no Brasil. Ele viaja o país inteiro atrás desses relatos. Vai a programas de televisão onde discute com académicos cépticos esses assuntos e às vezes vê-se sem reacção diante de evidências científicas sobre a impossibilidade de viagens interestelares.

Entra em debates acalorados com ovniólogos que ele considera aldrabões e já chegou a ser processado pelas suas insinuações. Um deles é Urandir Fernandes de Oliveira, conhecido por se dizer o porta-voz no planeta Terra do ET Bilu.

Gevaerd considera Urandir um trapaçeiro e diz que Bilu era o nome de um gato que ele, Gevaerd, tinha em Campo Grande.

Segundo Gevaerd, Urandir criou o ET Bilu só para provocá-lo. Os dois desprezam-se e ofendem-se em fóruns e sites de ovniologia.

Gevaerd está actualmente a organizar um congresso de pessoas que dizem ter sido “raptadas” por ETs, pessoas que dizem ter sido levadas a planetas distantes em viagens por dentro de “buracos de minhoca”.

Às vezes, ele é considerado maluco. Mas não se importa. Trinta e três anos depois do aparecimento daquelas luzes sobre os jogadores do jogo do Operário contra o Vasco, Gevaerd está a levar a vida que pediu aos céus, a estudar discos voadores, a teorizar sobre civilizações de outros planetas, a derrubar fraudes e a produzir conhecimento. “Eu acho que nasci para isto”, diz ele.

Gevaerd analisa Agroglifo em Santa Catarina
Gevaerd analisa Agroglifo em Santa Catarina

Mas existe um problema conceptual nessa história. Por definição, OVNI é um “Objecto Voador Não Identificado“, mas ovniólogos como Gevaerd não hesitam em identificar esses objectos como naves espaciais Alienígenas.

A maioria das testemunhas do “caso Morenão” consultadas pela reportagem confirma ter visto luzes inexplicáveis dançando no céu naquela noite, mas ninguém avança com grandes conclusões sobre a origem dessas luzes.

“Eu vi um objecto luminoso muito rápido no céu, mas não com muita clareza como algumas outras pessoas”, afirma Rondinelli, defesa do Vasco da Gama naquele jogo. “O pessoal começou a dizer que era um disco voador, que era o Chupacabras, mas eu não estou em condições de dizer o que era.”

Marquinhos Tavares, que tinha 14 anos naquela altura, vai um pouco mais além: “Não sei se era um disco voador, mas com certeza não era coisa algo conhecido no nosso planeta. Voava muito rápido e parava de repente, ficando ali parado no ar, e voava de novo. Nem hoje isso seria impossível, imagina naquela época!”

“Era uma luz muito, muito forte, nunca vi igual”, diz Cocada, ex-lateral do Operário. “Não posso afirmar que era um disco voador, mas não podia ser avião. Era grande, ficou uns dez segundo por cima do estádio e de repente sumiu. Foi uma coisa impressionante!”

Alguns ovniólogos mais próximos do campo científico admitem que alguns Fenómenos são inexplicáveis para os métodos e conhecimentos produzidos pela humanidade até hoje. Mas eles param por aí.

Ricardo Varela, que é engenheiro electrónico, com doutoramento em computação e trabalha no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – uma espécie de NASA brasileira – acredita que existem “indícios muito sensíveis” de que estamos a ser visitados por seres Alienígenas, mas evita falar com absoluta certeza que os OVNIs são naves espaciais Extraterrestres, dada a ausência de provas irrefutáveis.

“Alguns Fenómenos já foram ligados a OVNIs no passado e depois passaram a ser explicados pela física, na medida em que fomos conhecendo melhor o funcionamento da atmosfera. Coisas que são inexplicáveis hoje podem vir a ser perfeitamente explicáveis daqui a alguns anos”, diz ele.

O psicólogo Leonardo Martins, doutorado na Universidade de São Paulo, fez um estudo detalhado com pessoas que dizem ter tido contato com discos voadores ou sido “raptadas”. Ele chegou a duas conclusões importantes. Primeiro, elas não são loucas, ou seja, não têm sinais de distúrbios ou patologias mentais. Segundo, muitas costumam “saltar” para conclusões rapidamente.

“Às vezes você vê o mesmo fenómeno, mas a interpretação sobre ele varia de acordo com a bagagem cultural e trajectória de cada pessoa que o testemunhou”, afirmou.

Estádio Morenão, em Campo Grande
Estádio Morenão, em Campo Grande

Versões

No caso do OVNI do Morenão, as interpretações vão do épico ao cómico.

Gevaerd acredita que naquela noite houve “discos voadores a voar juntos no Brasil“, já que, de acordo com suas investigações, naves espaciais foram avistadas em cerca de 300 localidades em vários estados brasileiros num intervalo de tempo muito curto.

“Tratou-se de uma civilização menos discreta que veio visitar a Terra“, diz ele.

Para os adeptos do Operário, o que aconteceu foi um sequestro do futebol local pelos Extraterrestres.

O auge das equipas sul-mato-grossenses no cenário nacional aconteceu em 1977, quando o Operário foi o terceiro no Campeonato brasileiro de futebol, ao perder na semi-final para o São Paulo no estádio do Morumbi lotado.

Em 1982, a equipa conquistaria o seu único título internacional, num torneio amistoso contra o Bayer Leverkusen. A partir daí, só acumulou mais duas participações na primeira divisão do nacional, nenhuma com grande destaque.

Nos últimos anos, tem vivido a dura realidade da descida de divisão até ao campeonato estadual, uma tragédia que pareceria história do outro mundo a quem se acostumou com uma equipa campeã na década de 1970.

Enquanto isso, o estádio Morenão, que costumava lotar e ser temido no resto do Brasil, está interditado desde metade do ano passado, com problemas estruturais e sem condições de utilização.

“O disco voador chegou, o futebol saiu”, diz um provérbio muito comum no desporto local.

Fonte: http://esporte.uol.com

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