A pesquisa cingiu-se a ex-ministros, ex-secretários de Estado e ex-deputados, mas a aplicação de um critério mais lato permitiria a inclusão de outros nomes com ligações políticas. Por exemplo, Fernando Ulrich, presidente da Comissão Executiva e vice-presidente do Conselho de Administração do BPI, que exerceu as funções de chefe de gabinete do ministro das Finanças e do Plano, entre 1981 e 1983. No mesmo BPI tem assento – como vogal da Comissão Executiva e do Conselho de Administração – José Pena do Amaral, que exerceu as mesmas funções de Ulrich, entre 1983 e 1985. Ulrich trabalhou com o ministro João Salgueiro, no VIII Governo Constitucional, ao passo que Amaral foi chefe de gabinete do ministro Ernâni Lopes, no IX Governo Constitucional.
Também poderia ser incluída Maria Celeste Hagatong, vogal da Comissão Executiva e do Conselho de Administração do BPI, uma das escassas mulheres num meio quase exclusivamente masculino. Hagatong tem um currículo repleto de cargos técnicos na esfera Política, desde directora administrativa e financeira da AR em 1977, até directora dos serviços financeiros da Direcção-Geral do Tesouro do Ministério das Finanças de 1978 a 1985, entre outros. Ou Fernando Teixeira de Almeida, presidente do Conselho Fiscal do Banif, que foi vogal da Comissão Política Nacional do PSD, eleita em 1992, sob a liderança de Cavaco Silva.
Quanto ao economista Vítor Bento, vogal do Conselho de Administração da Galp Energia, trata-se de um membro do Conselho de Estado (o órgão político de consulta do Presidente da República), para o qual foi nomeado em 2009, substituindo Dias Loureiro. Aliás, Vítor Bento tem sido sucessivamente apontado como potencial ministro das Finanças e terá mesmo recusado um convite nesse sentido do primeiro-ministro Passos Coelho em 2011. De salientar que na anterior configuração do Conselho de Administração da Galp Energia a presidência era assumida por Francisco Murteira Nabo (ex-ministro do Equipamento Social e ex-secretário de Estado dos Transportes), entretanto substituído no cargo pelo empresário Américo Amorim.
No Conselho de Administração da Jerónimo Martins assistiu-se recentemente a uma troca de cadeiras: saíram Artur Santos Silva e Luís Palha da Silva (que chegou a ser presidente executivo da Jerónimo Martins e, entretanto, assumiu a vice-presidência executiva da Galp Energia), possibilitando a entrada de Francisco Seixas da Costa. O ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus e diplomata de carreira também integra o recém-criado Conselho Consultivo Estratégico da Mota-Engil, sob a direcção de Jorge Coelho – (ex-presidente executivo da Mota-Engil), a par de outros ex-políticos como Luís Valente de Oliveira, António Lobo Xavier ou Francisco Murteira Nabo.
Quem permanece na renovada administração da Jerónimo Martins é António Borges, apontado em várias ocasiões como putativo candidato à liderança do PSD. Além das passagens pelo banco de investimento Goldman Sachs International (no cargo de vice-presidente do Conselho de Administração, 2000-2008) e pelo Fundo Monetário Internacional (director do Departamento Europeu, 2010-2011), do currículo de Borges constam também dois cargos políticos: vice-presidente da Comissão Política Nacional do PSD (2008-2010) e presidente da Assembleia Municipal de Alter do Chão (2001-2009).
Mais relevante, Borges foi contratado pelo Governo de Passos Coelho como consultor, estando a acompanhar – junto dos representantes da Troika – os processos de privatizações, as renegociações das parcerias público-privadas, a reestruturação do sector empresarial do Estado e a situação da banca. O contrato foi acordado no dia 29 de Fevereiro de 2012 entre a empresa estatal Parpública e a ABDL Lda., uma sociedade detida por António Borges (quota no valor de 15.012,02 euros) e Diogo Lucena (quota no valor de 4.897,98 euros). “Até agora, sem contar com o IVA, a empresa de António Borges e Diogo Lucena já recebeu 300 mil euros, de 1 de Fevereiro de 2012 a 1 de Fevereiro de 2013, fora o montante das despesas efectuadas neste ano de contrato, que foi entretanto renovado por mais um ano.”
Entre as privatizações acordadas com a Troika, cujo processo foi acompanhado por António Borges, incluem-se os activos do Grupo CGD nas áreas da Saúde e dos seguros. Aliás, a HPP Saúde, detentora de sete unidades hospitalares em Portugal, já foi vendida, em Novembro de 2012, ao grupo empresarial brasileiro Amil, por cerca de 40 milhões de euros. Segue-se a venda das seguradoras do Grupo CGD, após a aprovação em Conselho de Ministros (no dia 2 de Maio de 2013) da alienação das participações na Fidelidade, Multicare e Cares. No caso da Multicare, trata-se de uma seguradora especializada no sector da Saúde.
António Borges presta serviços de consultoria ao Governo no âmbito destas operações de privatização, ao mesmo tempo que integra o Conselho de Administração da Jerónimo Martins. A Sociedade Francisco Manuel dos Santos é a principal accionista da Jerónimo Martins (detentora da cadeia de supermercados Pingo Doce) e inaugurou um novo negócio de clínicas médicas em Julho de 2012 – as Walk’In Clinics, que já têm quatro unidades em funcionamento nos espaços dos supermercados Pingo Doce de Telheiras, Sintra, Aveiro e Santa Maria da Feira.
Entre tantos outros exemplos, referência ainda para Henrique Granadeiro, que preside ao Conselho de Administração da Portugal Telecom. Granadeiro integrou os gabinetes do ministro de Estado e secretário de Estado do Planeamento (1971-1972), além de ter exercido as funções de director-geral da Acção Regional no Ministério da Administração Interna (1974-1976) e chefe da Casa Civil do Presidente da República António Ramalho Eanes (1976-1979).