Um dos resultados mais interessantes que derivam da electricidade atmosférica é a existência de um circuito eléctrico global estabelecido entre a litosfera terrestre e a ionosfera (uma camada condutora da atmosfera) que apresenta uma variação diária essencialmente igual em todo o planeta. Alguns autores adiantam que este é um processo de sincronização planetário que afecta igualmente todos os seres humanos através do chamado electromagnetismo natural. Naturalmente, com o crescente aumento da poluição electromagnética artificial este tipo de processos está em perigo.
As telecomunicações móveis são transmitidas através da propagação de ondas electromagnéticas descritas pelas equações de Maxwell. Estas ondas são caracterizadas pela sua frequência (Hz), ν, e comprimento de onda (m), λ, relacionadas entre elas pela velocidade da luz (m/s), c:
c = λν
Maiores frequências correspondem a menores comprimentos de onda. Além disso, também a irradiância (W/m2) deve ser considerada, ou seja, a potência incidente numa determinada área. Maiores irradiâncias, por principio, significam maiores efeitos biológicos. De resto, os efeitos da radiação electromagnética devem ser analisados combinando frequência, irradiância e duração da exposição.
O campo electromagnético é propagado por fotões cuja energia é proporcional à sua frequência:
ε = hν
Ou seja, quanto maior é a frequência maior a sua energia. Por este motivo, fotões com elevadas frequências conseguem ionizar atómos e moléculas e são designados por radiação ionizantes, p.e., radiação gama. Os fotões associados com as telecomunicações de quinta geração, 5G, têm frequências entre 0.45 – 100 GHz e os comprimentos de onda milimétricos entre 30 – 300 GHz, mas não têm energia suficiente para ionizar e, portanto, são designadas por não-ionizantes. Isto tem sido usado para se dizer que o seu efeito biológico é exclusivamente térmico e, assim, quase negligenciável. No entanto, extensiva literatura mostra que isso é errado. (3)
Uma das duas grandes diferenças entre o electromagnetismo natural (p.e., a radiação solar) e o electromagnestismo artificial é a polarização. A polarização define um plano onde os campos eléctrico e magnético variam ao longo do tempo de incidência e, portanto, esta determina o seu efeito na zona incidente.
O que acontece é que a radiação electromagnética natural não é polarizada e, desta forma, no ponto de incidência os efeitos da radiação limitam-se ao seu aquecimento porque os campos electromagnéticos cancelam-se (p.e., a radiação solar). No entanto, radiação electromagnética artifical é polarizada (normalmente linear) e isso implica que os campos não se cancelam e conseguem movimentar os iões existentes no sistema sanguíneo e nas células causando a disrupção das membranas selectivas como veremos de seguida. Mais informação pode ser encontrada aqui no artigo de Panagopoulos (2015) (5).
A outra grande diferença entre o electromagnetismo artificial e o usado nas telecomunicações é a modelação do sinal. De facto, o sinal electromagnético que é usado na comunicações móveis é uma complexa combinação de frequências em que as altas frequências que transportam a informação são modeladas por frequências mais baixas. Este tipo de modelação do sinal permite melhorar a qualidade do sinal entre o emissor e o receptor, aumentar a taxa de transferência de dados, mas potencia enormemente os efeitos biológicos prejudiciais destas ondas. Isto deve-se a que o electromagnetismo natural é tipicamente caracterizado por sinais sinusoidais, muito diferentes dos sinais modelados antes descritos.
A Tecnologia 5G usará emissão direccionada com o argumento de reduzir interferências. O preço que se paga por isto é que teremos intensidades de radiação muito mais elevadas, efeitos de interferência elevadíssimos e uma resolução milimétrica de localização dos dispositivos móveis. Isto é muito diferente às anteriores tecnologias cujo padrão de emissão é aproximadamente isotrópico. O 5G pode ter, por isso, um uso subversivo!
Podemos ver na imagem abaixo como o padrão de emissão da antena 5G é totalmente direccionado, ao contrário do padrão de emissão de uma antena 3G, que é disperso:
Outro conceito relevante para os efeitos biológicos da radiação electromagnética artificial é a taxa de absorção especifica (W/kg) ou SAR da sigla do inglês Specific Absorption Rate. Esta quantidade é definida por Greenebaum (2019):
em que σ é a condutividade eléctrica (S/m) do meio, E é o campo eléctrico (V/m) e ρ é a densidade (kg/m3) do meio absorvente. O SAR é uma grandeza intensiva usada para perceber quanto um determinado material pode intrinsecamente absorver radiação. No entanto, tal como a densidade não pode ser usada para definir o limite de peso dum indivíduo, o SAR não pode ser usado para definir os níveis máximos de radiação, como tem sido feito pela FCC (EUA).
Os crânios das crianças têm menor densidade e, portanto, menos radiação é absorvida no crânio e maior quantidade penetra no cérebro aumenta. Assim , as crianças relativamente aos adultos são muito mais vulneráveis no que se refere à exposição à radiação electromagnética.
O nosso corpo é constituído por 70% de água e, portanto, as propriedades electromagnéticas deste elemento são cruciais para a biologia humana. De facto, as moléculas de água formam dipolos eléctricos que respondem consideravelmente à radiação electromagnética incidente. Isto é particularmente importante entre os 2.45 GHz e os 100 GHz, onde a água, dependendo da temperatura, apresenta uma chamada relaxação dieléctrica e, deste modo, torna-se um meio dispersivo capaz de absorver de forma muito eficiente a radiação electromagnética (este fenómeno é usado nos fornos de micro-ondas). Uma vez que o 5G vai operar nestas bandas de frequências o balanço criado por este elemento no nosso corpo vai ser profundamente afectado e o aumento de temperatura causado por esta tecnologia será maior do que as anteriores gerações.
Devido ao facto de que a quinta geração de telecomunicações usa comprimentos de onda milimétricos esta interactua com as partículas atmosféricas reduzindo muito a sua transmissão e faz com que as tradicionais antenas de telecomunicações tenham de ser substituídas por “arrays” de antenas (muito mais antenas) com emissão direccionada. Ambos os factores potenciam enormemente os possíveis efeitos nocivos desta tecnologia que não pode ser vista como uma nova geração, mas como uma nova Tecnologia. Resumidamente, seremos expostos a muito mais radiação e mais energética, o que deverá aumentar a incidência dos problemas que de seguida vamos expor.
Devido à dificuldade de propagação das ondas milimétricas em enúmeras cidades do mundo têm-se abatido árvores saudáveis…
Fontes:
(1) Springer Link
(2) The SEG Wiki
(4) ESA (European Space Agency)
(5) Panagopoulos, D.J. et al. (2015). Polarization: A Key Difference between Man-made and Natural Electromagnetic Fields, in regard to Biological Activity, Scientific Reports 5, 14914. Doi: https://doi.org/10.1038/srep14914
(6) Wikipedia
(7) Research Gate
(8) Anteral
(10) Chemistry LibreTexts
(11) Water Sctrucuture and Science
(12) Wikipedia
(13) Trabalho realizado por Hugo Silva, que trabalha no Departamento de Física da Universidade de Évora. Doutorado na Universidade do Porto em Electrónica de Spin.