O projecto “Ice Mine” e o colapso da economia

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Colapso da economia
Colapso da economia

Na obra «Cat’s Cradle» do autor Kurt Vonnegut, uma das personagens (um físico chamado Dr. Félix Hoenikker) criou um polimorfo da água, um rearranjo da molécula H2O, chamado “Ice Nine“. Uma das particularidades que a distinguiam da água é que a água era congelada assim que entrasse em contacto com esta substância. Ou seja, se houvesse o descuido de largar uma gota que fosse nas correntes aquáticas, toda a água do planeta ficaria congelada através de uma reacção em cadeia. [1]

Foi neste conceito que James Rickards se apoiou como metáfora, para descrever o previsto congelamento das contas e demais activos bancários e mercados de capitais, aquando da próxima crise económica / financeira. [2]

James Rickards é advogado, economista, banqueiro de investimentos, palestrante, comentarista na imprensa e autor norte-americano de assuntos de finanças e metais preciosos. Trabalhou em Wall Street, colaborando com várias empresas da alta finança durante 35 anos. [3]

James Rickards
James Rickards

Segundo Rickards, a próxima grande crise financeira, que deverá ser bem maior do que a anterior (despoletada em 2008 através do colapso de grandes entidades bancárias), será marcada pelo congelamento súbito das contas bancárias, não só em bancos comerciais, mas como em bancos de investimento e não só de numerário, como de outros activos (acções, obrigações, etc.). Os mercados de capitais também serão encerrados. Isso acontecerá para prevenir perdas de capitais e supostamente, evitar a “derrocada” total. À custa de todos nós, é claro. [2]

Nesse sentido, ao longo dos últimos anos, tem vindo a avançar bastante legislação, que legitima o congelamento das contas, como por exemplo:

1) Dodd-Frank Act de 2010 [4]

2) regulamentação da SEC (Security and Exchange Comission) de 2014, onde pode ser recusado o retorno do capital ao investidor. [5]

No mesmo sentido, ao longo do tempo, os terminais caixa automático (ATM) têm vindo a reduzir os montantes autorizados para levantamento.

Além disso, o congelamento de activos bancários já aconteceu:

1– Na crise bancária de Chipre em 2012 (onde os activos bancários foram congelados por tempo indeterminado e o próprio dinheiro dos depositantes foi utilizado para resgatar os bancos), tendo a forma de resgate bancário utilizado no Chipre, se tornado no modelo a nível mundial. [2]

2– Na crise de dívida da Grécia, em 2015 (onde foi impedido o levantamento de dinheiro em caixas ATM e impossibilitado a utilização dos cartões de crédito para efectuar pagamentos). [2]

Um pequeno preâmbulo histórico

A partir de Bretton Woods (1944) [6], as várias moedas internacionais passaram a estar vinculadas ao dólar, que passou a ser a moeda utilizada para o comércio de petróleo (Petrodólar). O dólar podia ser amortizável em ouro, o que significava que todas as moedas, através do dólar, eram suportadas pelo ouro.

Richard Nixon
Richard Nixon

A partir de 1971, essa situação alterou-se e o então presidente norte-americano Richard Nixon, anunciou que o dólar deixaria de ser suportado pelo ouro. [7]

Começava a era da “Fiat Currency” (Moeda Fiduciária), ou seja, qualquer título não-conversível, não tendo qualquer valor intrínseco. [9]

A partir desse momento, os países passaram a viver numa bolha de dívida que tem vindo a agudizar-se.

Na verdade, não vivemos num sistema capitalista, mas sim num sistema de crédito, onde todos os activos que circulam são dívida.

Como o dinheiro não tem qualquer valor intrínseco, isto dá oportunidade a que os bancos centrais imprimam dinheiro “à vontade”, quando consideram ser necessário, para “estimular” a economia. Essa é, na verdade, basicamente a única estratégia financeira que é utilizada actualmente para fazer face a crises. No entanto, quanto mais dinheiro se coloca em circulação, mais o seu valor decresce, aumentando os preços dos bens.

Um sistema baseado na dívida implica que para pagá-la se precise de mais dinheiro do que aquele que está em circulação, levando à criação de mais numerário e ao consequente aumento da bolha da dívida.

É evidente que essa bolha não pode crescer para sempre e os defensores deste sistema dependem de um crescimento contínuo da economia, para que se evite o desabamento.

Este sistema é – e está cada vez mais -, vulnerável a eventos que possam ter um efeito negativo na economia.

As medidas deletérias adoptadas para fazer face ao problema percepcionado como COVID-19 são obviamente, um desses eventos.

Após a crise de 2008, e apesar dos enormes estímulos aplicados, o poder de compra do cidadão médio, nunca mais aumentou. Os preços dos bens têm vindo a encarecer. Após o advento da COVID-19, esse problema recrudesceu bastante, associado à quebra de muitas cadeias de fornecimento e à consequente escassez de bens.

Com a injecção prevista de enormes somas de dinheiro fresco na economia, o problema da inflação só poderá agravar-se.

Corremos o risco de cair na armadilha da hiper-inflacção, como aconteceu na República de Weimar, onde um pão custava 300 marcos de manhã e 3 mil marcos à noite?

República de Weimar
República de Weimar

Como sobreviver ao colapso económico?

O primeiro passo é ter a consciência de que as verbas depositadas em bancos, poderão ser congeladas a qualquer momento. O colapso de um grande banco ou outra qualquer eventualidade do género, poderão dar origem a uma rápida cascata de acontecimentos que originem a derrocada prevista e o consequente congelamento dos activos bancários. Tudo isto pode acontecer num ápice.

A transacção de outros activos, como acções, obrigações, etc. poderá também ser interrompida.

Logo, será de evitar acumular muitos activos financeiros, sobretudo se depositados em bancos.

O segundo passo é saber que o valor da moeda, que tem vindo a decrescer continuamente, poderá sofrer uma quebra súbita e muito acentuada, pelo que, pessoas com reservas em numerário poderão observar a diminuição do seu património líquido em muito pouco tempo.

Uma boa forma de prevenir essas quebras é investir em activos que tendem a manter o seu valor ao longo do tempo e através de crises. Ouro e prata são bons exemplos. Não são facilmente transacionáveis nem são activos que gerem rendimentos, mas são uma segurança para não se perder toda uma reserva de capital ao atravessar um colapso económico / financeiro. O ouro tem actualmente o seu preço em alta (embora possa subir mais), mas a prata estará subvalorizada.

JP Morgan
JP Morgan

Como afirmou JP Morgan: “Dinheiro é ouro, o resto é apenas crédito.” [10]

É óbvio que se deve evitar que estes activos estejam depositados em bancos, ou poderão também ser congelados.

O terceiro passo é obter um stock de bens que possa ser transacionável caso o colapso financeiro seja total.

Entre eles:

Tabaco (somente é permitido por lei, a posse de cinco quilogramas em casa);
Bebidas Alcoólicas;
Café;
Chocolates;
Banco de Sementes.

(Quanto mais auto-suficiente se for a nível alimentar e energético, melhor. Esses bens, se gerarem um excedente, também poderão ser transacionáveis).

Conclusão

A bolha que estoirou em 2008, está maior actualmente. Os verdadeiros problemas de base, nunca foram resolvidos. O colapso está iminente há alguns anos.

As medidas aplicadas devido à suposta pandemia de COVID-19, vêm talvez criar o cenário perfeito para despoletar um grande rebentamento da bolha de dívida.

Joseph Schumpeter
Joseph Schumpeter

Já o famoso economista Joseph Schumpeter, na sua obra “Capitalismo, Socialismo e Democracia” previa a queda do capitalismo através do rebentamento da bolha de crédito. [8]

É difícil prever o que acontecerá. É difícil saber qual a extensão do colapso. Mas não custa prevenir com algumas medidas de protecção financeira.

Tendo em conta a vastidão do tema, tentamos reunir uma pequena súmula de informação. O suficiente para, esperamos, consciencializar sobre a questão. Também tentamos avançar com o esboço de algumas sugestões práticas para fazer face aos problemas propostos.

Post-Scriptum:

Os documentários “End of the Road: How Money Became Worthless (2012)” [11] e “The Money Masters (1996)” [12] são uma boa fonte de informação. O livro “Road to Ruin” do já citado James Rickards é outra excelente fonte de informação para quem desejar aprofundar o tema. [2]

Fontes:

[1] «Cat’s Cradle», goodreads

[2] «The Road to Ruin: The Global Elite’s Secret Plan for the Next Financial Crisis», goodreads

[3] «James Rickards», Wikileaks.org

[4] «The Dodd-Frank Wall Street Reform and Consumer Protection Act: Background and Summary», Congressional Research Service. 21 de Abril de 2017

[5] «SEC Adopts Money Market Fund Reforms», Harvard Law School Forum on Corporate Governance. 16 de Agosto de 2014

[6] «Launch of the Bretton Woods System», Federal Reserve History. 1958

[7] «Nixon Ends Convertibility of U.S. Dollars to Gold and Announces Wage/Price Controls», Federal Reserve History. Agosto de 1971

[8] «Schumpeter’s Capitalism, Socialism and Democracy – A Twenty-First Century Agenda», Routledge. 30 de Setembro de 2020

[9] «Fiat Money», Investopedia

[10] «Why Did JP Morgan Say “Money is Gold, Nothing Else”?», MonetaryMetals. 3 de Agosto de 2018

[11] «End of the Road: How Money Became Worthless | Gold | Financial Crisis | ENDEVR Documentary», Youtube.com. 30 de Dezembro de 2020

[12] «Os Mestres do Dinheiro (documentário», Youtube.com. 12 de Setembro de 2019

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