Nas suas letras musicais, o rapper espanhol Pablo Hasel refere-se ao rei emérito Juan Carlos I como um “chefe da máfia” e um “tirano bêbado” e acusa a polícia de torturar e matar manifestantes e migrantes.
Hasel foi detido esta terça-feira pela Mossos d’Esquadra (Polícia Autónoma Catalã) na cidade de Lleida, a cerca de 150 km de Barcelona, no nordeste da Espanha, por “glorificar o terrorismo” e insultar a monarquia.
A polícia entrou na Universidade de Lleida para prendê-lo, onde o músico (cujo nome verdadeiro é Pablo Rivadulla Duro) barricou-se com uma dezena de simpatizantes no dia anterior, para evitar cumprir pena de prisão.
O rapper foi condenado a nove meses de prisão pelos crimes de “exaltar o terrorismo e injuriar a Coroa e as instituições do Estado” nas suas letras musicais e mensagens no Twitter em que ataca a monarquia e a polícia.
Por tratar-se da quarta sentença que lhe foi imposta, os juízes espanhóis decretaram a sua entrada na prisão.
A prisão do músico gerou protestos em várias cidades catalãs, incluindo Barcelona, que culminaram em confrontos entre a polícia e os manifestantes.
Na segunda-feira, o Tribunal Nacional Espanhol voltou a rejeitar a suspensão da execução da pena, lembrando que em 2017 foi condenado por crime de resistência ou desobediência à autoridade e em 2018, por invasão de local.
Na sentença que o condenou em 2011, o tribunal espanhol considerou que a liberdade de expressão não protegia o “discurso de ódio” e condenou-o por incluir nas suas letras musicais expressões como “não me da pena o teu tiro na nuca”.
Em 2017, um tribunal de Lleida impôs uma multa a Pablo pelos versos dirigidos ao presidente da câmara da cidade, Àngel Ros, numa das suas canções: “Angel desnutrido, você merece um tiro, vou te esfaquear, tu arruinaste-me, vou arrancar a tua pele às tiras”.
O rapper deveria ter-se entregado na semana passada, mas desafiou as ordens policiais e judiciais.
Quase duas horas depois de a polícia ter entrado na universidade na terça-feira, Hasel foi escoltado para fora do complexo enquanto gritava “eles nunca vão-nos silenciar, morte ao estado fascista”.
O músico foi transferido para a prisão onde começará a cumprir a pena.
Um porta-voz da polícia catalã disse à agência de notícias AFP que os policiais entraram na universidade para “fazer cumprir a decisão judicial”.
Em defesa de Hasel
Mais de 200 artistas, incluindo o cineasta Pedro Almodôvar e o ator Javier Bardem, assinaram uma petição contra a sua sentença, que foi confirmada por um tribunal espanhol na segunda-feira.
A Amnistia Internacional efectuou um “tweet” afirmando que a prisão de Hasel foi uma péssima notícia para a liberdade de expressão na Espanha.
Irei para a prisão “de cabeça erguida”, “tweetou” Hasel na noite anterior à sua detenção. “Não podemos permitir que ditem o que podemos dizer, o que podemos sentir ou o que podemos fazer”, disse ele, acrescentando que optou por não se exilar no estrangeiro.
O governo espanhol anunciou na semana passada que pretende reduzir a pena para crimes relacionados com a liberdade de expressão, como glorificação do terrorismo, discurso de ódio ou insultos à Coroa e à religião, no contexto de atividades culturais ou artísticas.
Numa mensagem, Pablo Hasel expressou o seu apoio a Victoria Gómez, uma prisioneira do grupo fora da lei marxista Grapo. Para além disso, acusou o rei Felipe VI e o seu pai Juan Carlos, ex-rei, de alguns crimes.
Fonte: bbc.com