Avancemos para a análise crítica e objectiva das consequências do sistema financeiro sobre a Sociedade.
Concluímos que a dívida cresce a um ritmo exponencial que requer crescimento perpétuo para não entrar em colapso. Forçosamente, o crescimento impõe o consumismo à Sociedade. Assim para potenciar o crescimento perpétuo, a Indústria programa o tempo de vida dos produtos que fabrica o que causa graves desequilíbrios no planeta; assistimos ao desperdício irresponsável de recursos do planeta mas os Governantes culpam o povo taxando-o, até quando?
Convido a visionar o DOCUMENTÁRIO: The Light Bulb Conspiracy (Comprar,llençar,comprar) (2010) que evidencia a forma como a indústria programa a durabilidade dos produtos incentivando e até forçando o consumismo.
Por sua vez, o consumismo é estimulado pelos Bancos Comerciais de uma forma muito simples; ciclicamente e na última década quem não se lembra de ver os bancos potenciarem o crédito ao máximo, isto é, “oferecerem” dinheiro fácil às pessoas, quer através de cartões de crédito (muitas vezes enviados directamente por correio), créditos para viagens, para móveis, para viaturas, para casas, para consumo, enfim créditos para tudo e mais alguma coisa?
Pessoalmente, presenciei comportamentos muito duvidosos por parte de vários Bancos Comerciais, nomeadamente aquando da aprovação de créditos imobiliários com taxas de esforço próximas de 60%. Apesar de ter alertado os clientes acerca dos riscos deste tipo de operações, o acesso a “dinheiro fácil” potenciado pela aprovação do próprio Banco (que tira partido do facto da maioria das pessoas desconhecer os mecanismos básicos do funcionamento do sistema monetário) conduziu muitas famílias à insolvência.
Frequentemente oiço profissionais da Banca afirmarem que a culpa é exclusivamente de quem contrai créditos, uma vez que ninguém forçou ao endividamento. Devo discordar, pelo simples facto de que todo o sistema foi desenvolvido para forçar a maioria das pessoas a endividar-se.
Mais grave ainda, é o facto de nenhum profissional da Banca explicar e exemplificar, aos seus clientes, que o vício de forma que caracteriza o sistema monetário é bem real e que inevitavelmente força ao incumprimento das famílias e das empresas; é matemático.
Convido aqueles que alguma vez contraíram um crédito a analisar as cláusulas dos seus contratos; concluirão que nenhum contrato de crédito/financiamento descreve este mecanismo de forma explícita nem identifica os riscos reais que são incontornáveis, por outras palavras, este mecanismo é ocultado intencionalmente.
1ª Pergunta
Não será uma obrigação e um dever de qualquer Instituição, o de informar e esclarecer devidamente os seus clientes?
2ª Pergunta
Não será crime ocultar, dos seus clientes, mecanismos que intencionalmente e inevitavelmente irão prejudicá-los no futuro?
Conforme exemplificado em «Como é criado o dinheiro a partir do nada?», o valor inerente aos juros cobrados pelos Bancos não existe e como tal não é introduzido no stock de moeda, sendo este o mecanismo que provoca falta de liquidez nas economias mundiais, daí resultando crises cíclicas e repetitivas, que não são fruto do mero acaso.
Analisemos como surgem as crises
Conforme foi demonstrado anteriormente, a viabilidade do sistema monetário assenta na criação perpétua de dívidas promovidas através de empréstimos concedidos pelos Bancos Comerciais. Nos períodos em que os Bancos concedem crédito, há aumento do stock de moeda e naturalmente alavancagem da Economia.
A “cilada” surge quando a falta de liquidez na Economia começa a fazer-se sentir; a maioria
das pessoas e empresas serão então confrontadas com a realidade em função do nível de endividamento a que se expôs e eu diria, a que foi incentivada a expor-se. Mas também aqueles que não estão expostos ao endividamento podem ser vítimas deste sistema, conforme veremos mais à frente, nesta análise.
A falta de liquidez resultando do dinheiro que é cobrado pelos Bancos em forma de “juros” (pois como nunca existiu não foi introduzido no stock de moeda), sempre que é celebrado um contrato de crédito, o facto de os seus titulares pagarem juros à Banca, faz com que estejam a retirar dinheiro que circula na Economia e consequentemente contribuem, ainda que de forma inconsciente, para a “descapitalização” da Economia.
Exemplo:
Uma família contrai um crédito de 100.000 € para a compra de uma casa. Para o exemplo, admitamos que o valor total dos juros a pagar ao Banco é de 30.000 €.
Extrapolemos agora este exemplo à quantidade de empréstimos existentes e percebemos que os Bancos “secam” gradualmente a Economia; em determinado momento verificar-se-á que não existe dinheiro suficiente a circular para suprir todas as necessidades. Está assim instalada a crise.
Com o surgimento da crise, as empresas serão inevitavelmente confrontadas com problemas de cobranças impossíveis, pelo facto de não haver dinheiro suficiente em circulação. Os actores da Justiça (Advogados e Juízes) desempenham então um péssimo papel que contribui para a aniquilação do tecido empresarial, movendo acções judiciais que visam penhorar e executar o património dessas empresas (que são na realidade vítimas de um esquema fraudulento da Banca). Concluímos então que a própria Justiça e os seus actores também contribuem para o agravamento da crise.
Destes comportamentos, que estão em total desfasamento daquelas que seriam as medidas a aplicar, resultam falências e crescimento do desemprego.
O que acontece a uma família com um ou mais membros que ficam desempregados?
O rendimento do agregado familiar vai naturalmente diminuir. Em paralelo o custo de vida aumenta (o que também não acontece por acaso). Perante este cenário, a maioria das famílias não consegue cumprir com as suas “obrigações” mas na realidade é forçada ao incumprimento conforme já foi demonstrado anteriormente.
Quando as crises surgem, ocorre também a desvalorização do imobiliário. Este factor terá uma incidência dramática na vida das pessoas.
Vejamos o que acontece quando uma família entra em situação de incumprimento; os Bancos exercem uma pressão psicológica arrogante e intimidatória sobre os “incumpridores”, culminando num processo de execução, do qual resultam 3 sanções;1 – As famílias, que por desconhecimento não se sabem defender, perdem o valor das prestações pagas até ao momento em que se verificou o incumprimento.
2 – A casa é leiloada por um valor muito inferior ao seu valor real (beneficiando interesses instalados … ).
3 – A soma do valor pago (capital) e do valor resultante da venda da casa em leilão não é suficiente para liquidar a dívida; assim aquela família será forçada a continuar a pagar algo de que já não é proprietária, permanecendo numa situação que não lhe permite qualquer perspectiva de vida digna.
Em Portugal, a legislação não protege as vítimas deste “esquema”.
Sejamos coerentes.
Para além de fraudulentas, estas práticas põem em causa vários princípios e direitos fundamentais, condicionando também toda a Economia global, o que tem incidências na vida de cada cidadão.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) espera que a dívida pública supere a barreira dos 130% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014, 8,4 pontos percentuais acima do limite máximo esperado pelo Governo.
Façamos ainda a seguinte análise. Havendo cada vez menos empresas em actividade (sendo
crescente o numero de falências), o desemprego aumenta e a receita fiscal diminui drasticamente. Em paralelo, o desemprego cria despesa social para o Estado. Assim, face às exigências do memorando da Troika, a compensação da receita fiscal apenas é possível com os sucessivos aumentos de impostos que travam o investimento. A Economia vai sendo asfixiada, estando à vista de todos que não é possível inverter a situação. A matemática assim o confirma.
Portugal encontra-se em situação de Bancarrota ainda que os Governantes se recusem a assumir publicamente este facto.
1ª Pergunta
Se no final de 2012 a dívida já representava 123,6% do PIB (com tendências crescentes), como poderemos pagá-la se não produzimos o suficiente?
Exemplificação:
100% do valor que Portugal produz serve para pagar dívidas. Verificando-se um diferencial de 23,6% (no final de 2012), a consequência directa é o aumento de encargos com a dívida, isto é, mais juros. Quanto mais dilatado o prazo de pagamento maiores os encargos.
2ª Pergunta
Como pode haver crescimento, se não há empresas suficientes para integrar os desempregados?
3ª Pergunta
Como pode haver crescimento se os desempregados não têm economias nem acesso a crédito com regras justas para criar negócios?
4ª Pergunta
Para onde foram os 12 mil milhões de euros (que todos os portugueses estão a pagar) incluídos no valor total do financiamento que Portugal contraiu e que supostamente serviria para financiar a Banca Privada, que por sua vez deveria reintroduzir esse dinheiro na Economia?
5ª Pergunta
Assistimos diariamente à falência de empresas, o que por sua vez desencadeia o crescimento do desemprego, levando inevitavelmente à perda de capacidade financeira das empresas e famílias para fazer face aos encargos, potenciando penhoras e execuções.
O que têm feito os sucessivos Governos que autorizam este sistema que também é reconhecido pelo Banco de Portugal para proteger as Empresas e Famílias das consequências deste sistema fraudulento?
6ª Pergunta
Qual a legitimidade das instituições Bancárias para penhorarem e executarem bens por falta de pagamento quando na realidade estão na origem da falta de liquidez que força aos incumprimentos?
Não há outra forma de resolver a crise senão através do perdão de dívida. É matemático.