Se Charles Dickens tivesse um senso de humor mais corrompido, poderia ter criado um personagem semelhante a Spring-Heel Jack. O facto desse fantasma ter surgido aparentemente no centro de Londres demonstra que a realidade continua a exceder a imaginação de artistas e escritores.
Spring-Heel Jack surgiu pela primeira vez no início do século passado em Barnes Common, região sudoeste de Londres, a pular diante das pessoas, atacando-as fisicamente e fugindo sempre com inacreditável capacidade de saltar. Uma das vítimas, Lucy Sales, uma rapariga de 18 anos, foi atacada quando dirigia-se para casa em Green Dragon Alley, Limehouse. A figura disfarçada pulou à sua frente, saindo da escuridão, cuspiu chamas que temporariamente cegaram Lucy e então afastou-se a saltar.
Jane Alsop, de Bearhind Lane, ao abrir a porta de casa para ver quem batia, defrontou-se com uma figura sombria vestida com capa, que disse:
“Sou um polícia. Pelo amor de Deus, traga-me um candeeiro. Capturamos Spring-Hell Jack nesta rua!”
Ela voltou com uma vela, mas o “polícia” jogou para trás as roupas, revelando uma terrível visão vestida com um capacete com chifres e com um uniforme branco, que realçava as formas do corpo. Ele imediatamente agarrou-a e começou a passar as mãos pelo seu corpo. A respeito do atacante, Jane disse:
“O rosto dele era horrendo, os seus olhos ardiam como bolas de fogo. As mãos, grandes e frias, pareciam pedras de gelo, e ele cuspia chamas azuis e brancas”.
A histeria apoderou-se da vizinhança. Foram organizados grupos para manter a ordem local, porém Spring-Heel Jack estava sempre um salto à frente dos captores. Uma das suas últimas aparições aconteceu no quartel de Aldershot, em 1877, onde atacou três sentinelas. Vários soldados dispararam as espingardas contra o atacante, mas ele conseguiu fugir.
Uma teoria dizia que Spring-Heel Jack seria, na realidade, o nobre vagabundo Henry, marquês de Waterford, que supostamente usava nos tornozelos molas de carruagem, para manter a sua atlética agilidade. Essa hipótese parece quase tão incrível quanto a de que Spring-Heel Jack cuspia fogo. O marquês de Waterford teria de repetir o surpreendente acto por mais de quatro décadas, o que não seria nada fácil para um homem que, na ocasião, já deveria passar dos 60 anos.
A teoria parece ainda menos provável à luz do facto de que alguns pára-quedistas alemães, durante a Segunda Guerra Mundial, realizaram experiências com molas similares, projectadas para suavizar os seus pousos. As experiências resultaram numa série de tornozelos quebrados.
Fonte: Livro «O Livro dos Fenómenos Estranhos» de Charles Berlitz