História
A ideia é, sem dúvida, assustadora: queimar a pele com ferros em brasa para eliminar a sífilis! No entanto, este tratamento, nascido da experiência e praticado na Idade Média, tem um fundamento lógico: a estimulação do sistema imunitário.
Carl Baunscheidt (1809–1874) tratou constipações infantis seguindo o mesmo princípio: abria pequenas incisões na pele e aplicava um produto estimulante nas feridas.
Também outras experiências, à primeira vista surpreendentes, podem ser explicadas actualmente pelo conhecimento que possuímos sobre o funcionamento do sistema imunitário.
Nos finais do Século XIX, Robert Koch observou que as pessoas com doenças infecciosas crónicas, como, por exemplo, a tuberculose, só raramente contraíram uma segunda infecção com a mesma gravidade. Durante a II Guerra Mundial, muitas pessoas ganharam mais resistência às infecções por terem estado expostas a condições de falta de higiene.
Actualmente, existem indícios de que um sistema imunitário que, na infância, tenha estado em contacto com diversos agentes infecciosos, beneficia desse “treino” mais tarde.
Sistema e ideia subjacentes
Bactérias, vírus, fungos e parasitas vários: perante tais inimigos, os humanos encontram-se numa posição bastante vulnerável. Nas pessoas saudáveis, a pele, as mucosas e o estômago constituem barreiras contra os agressores. O corpo defende-se contra tudo o que lhe é estranho e que tenha ultrapassado essas barreiras por meio de dois mecanismos: o sistema imunitário não específico, que tem reacções inatas, e o sistema imunitário específico, que está em permanente aprendizagem. Em ambos os sistemas, as tarefas são desempenhadas por células que pertencem ao grupo dos glóbulos brancos e por outras substâncias que se encontram no sangue.
Em cada contacto com organismos estranhos, o sistema imunitário não específico é o primeiro a “activar-se”. Os fagócitos e as “células assassinas” destroem os invasores ou, pelo menos, atacam-nos. Também atacam as más formações celulares do próprio do corpo, as células cancerígenas. Os conhecidos sinais de inflamação rubor, calor, inchaço,resultam de processos convergentes neste sistema.
Os interferões pertencem ao sistema imunitário não específico e põem termo à difusão dos vírus nas células. Inibem a multiplicação das células normais e tumorais e travam ou activam as reacções do sistema imunitário específico. Os interferões alfa, beta e gama foram utilizados pela primeira vez, nos últimos anos, como medicamentos para o tratamento de infecções virais graves e de alguns tipos de cancro.
A actividade do segundo nível de protecção, o sistema imunitário específico, é responsável por aquilo a que chamamos “imunidade”. Reage a substâncias estranhas ao corpo, os “antigénios”, que têm uma “característica de reconhecimento” a que os linfócitos B respondem.
Estes são glóbulos brancos responsáveis por determinadas tarefas no sistema imunitário. O contacto do antigénio com os linfócitos B desencadeia a produção de imunoglobulinas, que se ligam ao antigénio e podem neutralizá-lo. Por isso, também são chamadas anticorpos.
Do contacto entre o antigénio e os linfócitos B resultam “células de memória”, que, anos depois, ainda reconhecem o antigénio. Devido a essa “memória”, o organismo ganha “imunidade” a determinadas doenças. Se as células de memória, mais tarde, voltam a reconhecer o elemento perturbador, originam a produção massiva de anticorpos específicos que se ligam ao antigénio, contribuindo para a sua eliminação.
Os linfócitos T pertencem a outro grupo de células de resistência específica. O “T” significa “timo”, uma glândula onde os glóbulos adquirem a função imunológica.
Um subgrupo dos linfócitos T age contra células estranhas. São exemplos as reacções de rejeição após o transplante de órgãos e a defesa contra as células tumorais. Outro subgrupo inibe a actividade imunitária. No caso da SIDA, que é uma doença que enfraquece o sistema imunitário, este tipo de célula inibidora encontra-se em nítida maioria.
Trata-se de uma representação muito simplificada do sistema imunitário. Mesmo assim, deixa transparecer a sua complexidade. Um sistema de tal forma complexo e multiplamente influenciável é, naturalmente, susceptível de ser perturbado.
Exemplos dessas perturbações são as alergias, a hipersensibilidade aos antigénios e as doenças autoimunes. Neste caso, o corpo perdeu a capacidade de se diferenciar dos elementos estranhos. Por isso, ataca e destrói os seus próprios tecidos e substâncias.
Doenças autoimunes são, por exemplo, as doenças reumáticas inflamatórias (poliartrite crónica), a diabetes de tipo I e a esclerose múltipla.
Ligação a outros sistemas
O sistema imunitário opera em interacção com outros sistemas, como, por exemplo, o sistema nervoso e o sistema hormonal.
Nesta engrenagem, todos os elementos estão interligados: uma alteração num determinado ponto acarreta, inevitavelmente, alterações noutros pontos.
A interacção destes sistemas está a ser estudada por duas vertentes de investigação ainda bastante recentes, que se situam entre a Medicina e a Psicologia: a Psiconeuroendocrinologia e a Psiconeuroimunologia.
Nestas disciplinas, investiga-se como as emoções, a experiência e o comportamento comunicam com o cérebro enquanto expressões do sistema nervoso, que consequências isso tem sobre o sistema hormonal e/ou imunitário e como as reacções desses sistemas se reflectem, por sua vez, no estado geral do indivíduo.

Os elementos de ligação entre os diferentes sistemas são as vias nervosas e as sinapses. Os órgãos do sistema imunitário – baço, medula óssea, timo, gânglios linfáticos e vias linfáticas – estão directamente ligados ao cérebro através de fibras nervosas. Muitas células do sistema imunitário encontram-se muito próximas das células nervosas.
A comunicação entre os três sistemas é efectuada por substâncias transmissoras. Na maioria dos casos, trata-se de hormonas, ou substâncias semelhantes às hormonas, que se formam nas glândulas do cérebro e de outras partes do corpo.
Um segundo grupo de substâncias transmissoras é constituído pelos neurotransmissores e pelos neuropéptidos. Se as células nervosas libertarem uma substância sinalizadora, o sistema hormonal reage e as hormonas dão origem a reacções no sistema imunitário.
Por exemplo, se os sinais do sistema nervoso denunciarem a existência de stress, a cápsula supra-renal liberta cortisol, cujo efeito permite ao corpo suportar grandes esforços durante períodos mais prolongados. Contudo, o nível de cortisol tem um efeito negativo no sistema imunitário, pois inibe a formação de anticorpos e de “células assassinas”.
O resultado é que o sistema imunitário fica enfraquecido, permitindo que as doenças infecciosas se estabeleçam mais facilmente. Desta forma, compreende-se porque as pessoas que vivem sob pressão têm mais tendência para ficarem doentes do que as que têm um estilo de vida mais calmo.
Além disso, existem indicações de que, devido ao stress excessivo, contínuo ou frequente do organismo, também as doenças auto-imunes, como a artrite, a diabetes ou o cancro se desenvolvem mais facilmente.
No sentido oposto, quem reage activamente a uma situação de doença tende a curar-se mais facilmente do que quem sofre em silêncio. Poucas coisas paralisam mais a mente e o corpo do que a sensação de impotência.
Também as influências positivas sobre as emoções e o comportamento, como, por exemplo, a alegria e o optimismo, podem traduzir-se em reacções bioquímicas, com concentração de substâncias transmissoras do sistema nervoso e de outros sistemas.
Muitos sistemas terapêuticos explicam as ligações entre a Saúde e a doença de uma forma que, actualmente, já não faz sentido. Só são aceitáveis tendo em conta que, na altura em que surgiram, o conhecimento da estrutura e das funções do organismo era ainda muito modesto.
Contudo, neles encontramos a ideia de que viver de forma saudável significa equilibrar diferentes componentes antagónicos.
No Budismo Zen, temos o yin e o yang, no Ayurveda, vata, pitta e kafa, na Antroposofia, o corpo, o espírito, a mente e o Ego.
Possivelmente, o que a investigação moderna tem descoberto acerca das relações entre os sistemas nervoso, hormonal e imunitário é a “tradução”, na linguagem das ciências naturais, do que as diversas correntes da medicina antiga descreveram de acordo com os conhecimentos daquele tempo.
Recursos
No tempo das nossas avós, a imunomodulação era designada “cura reconstituinte” e as pessoas serviam-se, para a conseguirem do que tinham à disposição. Actualmente, há uma maior tendência para o comodismo: tomam-se “imunoestimulantes” por via oral ou na forma de injecções.
A imunomodulação é um tratamento à base de estímulos que agem sobre o corpo e a mente. Alimentação equilibrada, exercício físico, sauna, relaxamento e boa disposição são apenas alguns exemplos de como é possível reforçar o sistema imunitário. Por outro lado, a tensão psicológica, o stress negativo e o desgaste físico enfraquecem-no.
Muitos produtos vegetais e animais, orgânicos e inorgânicos, agem sobre o sistema imunitário, o que pode verificar-se através de culturas de células ou de experiências com animais.
Contudo, ainda não está claro, relativamente a todos os métodos, onde se situa a fronteira entre o que é útil e o que é prejudicial, pois esta difere de caso para caso e consoante a época.
O sistema imunitário reage de forma muito mais diferenciada do que seria de esperar. Relativamente aos imunoestimulantes vegetais.
Tratamento
Relativamente à imunoestimulação, há dois objectivos principais: prevenir as doenças e combatê-las com maior eficácia. Isso consegue-se incentivando directamente a actividade do sistema imunitário ou estimulando algo que tenha repercussões sobre o referido sistema.
As recomendações habituais vão no sentido de se fazerem tratamentos uma ou duas vezes por ano, de forma a fortalecer a capacidade imunitária. O tipo de tratamento e os recursos a utilizar diferem, segundo a convicção dos terapeutas. O inventário vai das termas de Kneipp à terapia do timo e da flebotomia a injecções com o próprio sangue.
Também as inflamações, incluindo as provocadas artificialmente, têm o mesmo resultado.

Os estímulos exercitam o sistema imunitário não específico, para que os agressores enfrentem uma defesa bem preparada. Muitas substâncias e procedimentos também fortalecem as reacções específicas, agindo-se, portanto, sobre ambos os sistemas.
Os tratamentos imunomoduladores também têm consequências sobre a componente psíquica. Aqueles que, após um período de sofrimento passivo, decidem “fazer algo por si mesmos” reassumem o controlo da situação e iniciam o tratamento com a esperança de obter mudanças significativas.
Muitos praticantes de métodos terapêuticos alternativos, bem como os médicos dedicados aos doentes, estimulam esse “factor esperança” ou “factor intervenção”. É muito provável que grande parte dos resultados positivos obtidos pelas diferentes terapias se baseiem na ativação destes factores.
Riscos e críticas
Muitos fatores individuais do sistema imunitário podem ser medidos. É possível contar o número de linfócitos, determinar o nível de anticorpos no sangue, medir a concentração de interleucinas, etc. O seu significado para o conjunto do sistema está ainda por esclarecer.
A imunoestimulação é uma forma de terapia à base de estímulos. Para ser eficaz, o sistema tem de ser funcional e reagir ao estímulo. Para isso, são essenciais: o doseamento, o tipo, a duração e o momento da aplicação.
O sistema imunitário reage de forma diferente, conforme a estimulação que se tenha dado antes, durante ou depois do contacto com o elemento agressor.
É difícil determinar qual a melhor terapia a aplicar a cada pessoa. Um programa de exercícios que é benéfico para uma determinada pessoa pode ser prejudicial para outra.
Foram observados alguns efeitos paradoxais, que continuam por explicar: um medicamento que reduz a resistência imunitária pode contribuir, ao mesmo tempo, para o aumento da produção de determinados anticorpos.
Algumas medidas eficazes na estimulação do sistema imunitário também têm efeitos secundários. Cada método implica um risco específico.
Os complexos círculos de regulação do sistema imunitário ainda são pouco conhecidos. Intervir sobre eles é mais uma experiência do que uma opção terapêutica específica. Quem deseja fortalecer o sistema imunitário deve escolher métodos com um mínimo de riscos.
Recomendações
Apenas podem ser recomendados os métodos terapêuticos que impliquem riscos reduzidos. Não aconselhamos os métodos duvidosos e/ou perigosos que impliquem a introdução de substâncias no organismo sob a forma de ingestão ou injecção.
Métodos moduladores do sistema imunitário com riscos reduzidos
Todos os métodos físicos, como, por exemplo, o frio, o calor, os duches alternados de água fria e quente e a sauna, bem como a terapia pelo movimento, a alimentação macrobiótica, o relaxamento e a massagem.
Métodos moduladores do sistema imunitário com riscos elevados
Jejum, método de Baunscheidt, preparados vegetais para ingestão ou injecção e produtos terapêuticos injectáveis elaborados a partir de bactérias.
Fonte: LIVRO: «Terapias Complementares e Alternativas – Utilidades e Riscos» da PROTESTE