História
Os xamãs, os curandeiros e os antigos terapeutas não curavam apenas por meio de ervas, mas recorriam também a rituais, à música, à dança, ao transe, à hipnose e ao sono.
A intervenção terapêutica estava sempre integrada na comunidade, fazia parte das concepções religiosas e culturais e influenciava o comportamento e a atitude dos doentes.
Na Antiguidade, um bom “médico” ocupava-se tanto das necessidades físicas dos que a ele recorriam, como das mentais e espirituais. Essa visão da medicina perdeu-se nos últimos 150 anos, mantendo-se apenas na imagem idealizada do “médico de família”, que supostamente conhece o percurso clínico da família e as preocupações dos doentes e age em conformidade com isso.
Há meio século, o médico suíço Maximilian Oskar Bircher-Benner, que criou o muesli, desenvolveu também o conceito de “terapia de respeito pela natureza”.
Este conceito está relacionado com a antiga ideia de diaita, a partir da qual se desenvolveu a palavra “dieta”, e com o pensamento de Sebastian Kneipp.
A terapia de respeito pela natureza significa, neste sentido, a adopção de um modo de vida saudável em todos os aspectos, incluindo no consumo de alimentos e bebidas. A pele deve ser exposta à luz do Sol e sujeita a temperaturas variadas e os pulmões devem respirar ar fresco. O indivíduo deve ter em conta o seu “relógio interior” e manter um ritmo equilibrado e conforme com a natureza, no que respeita aos binómios trabalho/tempo livre, esforço/descanso e sono/vigília.
A falta de estímulos físicos e de movimento deve ser compensada pela actividade física.
Bircher-Benner estava convencido de que aqueles que respeitam as leis da natureza “com amor e alegria” terão uma mente saudável e um maior controlo sobre os seus estados de alma.
As terapias de respeito pela natureza constituem o núcleo da medicina naturalista. Os seus princípios reflectem-se nas curas termais, que desafiam a auto-responsabilidade do doente e realçam a função do médico enquanto mediador.
Situação actual
A medicina psicossomática nasceu da consciência re-adquirida de que o corpo e a mente se interpenetram, de que algumas perturbações e queixas físicas podem ser a expressão de problemas sociais e de relacionamento e que, de igual modo, algumas doenças e sintomas podem ter repercussões sobre a mente.
Durante os estudos de Psicologia clínica e de medicina do comportamento, os psicólogos e psicoterapeutas podem aprender técnicas específicas para influenciar os doentes nesse sentido. Os seus métodos ajudam os doentes e contribuem para que haja uma maior compreensão por parte dos seus familiares.
Nas terapias naturalistas, o equilíbrio das funções do corpo e a harmonia do comportamento são considerados objectivos fundamentais.
Ideia subjacente e explicação dos efeitos
O sistema vegetativo e a mente condicionam-se mutuamente. As provas científicas de que os “estados de alma” influenciam o funcionamento dos sistemas nervoso, hormonal e imunitário são cada vez mais numerosas.
Sabe-se que uma atitude positiva pode reduzir o sofrimento e que as dores e queixas são sentidas como insuportáveis quando vividas sob estados de depressão ou tensão.
Quando estamos imersos num ciclo de agitação e insónia, excesso de estímulos e dependência de substâncias estimulantes ou calmantes, parece não haver saída. Se estivermos relaxados – ou num estado semelhante ao transe – é mais fácil reconhecer os factores perturbadores, reflectir e receber impulsos para a reorientação. O terapeuta assegura que o doente possa escolher esse caminho.
Recursos
O princípio fundamental destas terapias é o diálogo confiante entre terapeuta e doente. Em 99% dos casos, as indicações terapêuticas não são suficientes para que haja modificações do comportamento, se não for feito um apelo aos níveis de personalidade mais profundos. Os doentes podem aprender a alcançá-los por si mesmos.
Vários caminhos podem conduzir a esse objectivo: as técnicas de relaxamento e a terapia pela respiração; nalguns casos, a hipnose ; em determinadas circunstâncias, a meditação e as expressões artísticas.
Procedimentos
A maioria dos doentes não conhece as relações entre a doença, o estilo de vida e os “estados de alma” ou prefere ignorá-las. O terapeuta deve chamar a atenção do doente para essa interacção e incentivá-lo a “dar ouvidos” ao seu próprio corpo e às emoções. Com perguntas devidamente orientadas, o terapeuta ajuda o doente a reconhecer os abusos. Por meio de diálogos motivadores, propõe soluções para a situação.
Não é possível eliminar, de um dia para o outro, factores de risco como o stress ou a obesidade ou abandonar hábitos como a falta de actividade física, o excesso de estímulos ou os produtos estimulantes.
Em primeiro lugar, o terapeuta tenta normalizar e fortalecer as funções básicas do organismo, como a respiração, a temperatura do corpo, a digestão, o sono e a resistência.
Além disso, também é possível adaptar o dia-a-dia ao ritmo interior da pessoa. Frequentemente, a obtenção de melhoras motiva para a adopção de uma Alimentação mais correcta e para a superação do comodismo.
Ao reconhecer até que ponto os passeios regulares ou o exercício físico aumentam o gosto pela vida e ajudam a perder peso o indivíduo permanece motivado a longo prazo.
A consciencialização de que a atitude interior e a disposição influenciam os sintomas contribui para a obtenção de melhorias significativas.
Também é possível, e isto com bastante mais frequência do que normalmente se julga, modificar condições de vida adversas ou aprender a suportá-las mais facilmente.
A motivação é uma condição necessária para que se consiga a reestruturar o dia-a-dia. Sempre que o empenho pessoal é posto em questão existe a possibilidade de uma recaída e a tarefa do terapeuta consiste em ajudar a superá-la.
Compete-lhe inspirar coragem, incitar o doente a reagir e, eventualmente, sugerir uma técnica de relaxamento. A terapia do respeito pela natureza tem, como principal objectivo, um modo de vida equilibrado.
Áreas de aplicação
A terapia de respeito pela natureza é válida sempre que se esteja perante estados de fadiga, perturbações vegetativas e funcionais ou doenças psicossomáticas crónicas, pois cria as bases para uma vida benéfica saudável, tanto no que diz respeito ao corpo como à mente. Pode prevenir doenças, aliviar sintomas e fortalecer o organismo quando a doença já foi superada.
O que dizem os críticos?
Partindo do princípio de que o estilo de vida determina o estado de Saúde e a esperança de vida, terapeutas naturalistas de todas as épocas divulgaram o conceito de uma “vida saudável” e equilibrada. No entanto, estes ensinamentos não têm em conta que também as circunstâncias genéticas, sociais, políticas e ecológicas têm influência na Saúde dos indivíduos.
Trabalho por turnos, produtos poluentes, ruído e stress no trabalho e no Meio Ambiente, reveses do destino e problemas de relacionamento – tudo isto provoca doenças. O indivíduo não tem, nem pode ter, controlo sobre todos estes aspectos.
Limitações à aplicação
A terapia de respeito pela natureza não pode curar doenças já existentes. Se o indivíduo não for bem sucedido na tentativa de alterar os hábitos prejudiciais à Saúde através da “auto-responsabilização”, o sentimento de culpa daí resultante também pode prejudicar a Saúde.
O estilo de vida também tem uma vertente social. Nem sempre é possível, por motivos sociais, “nadar contra a corrente”.
Recomendações
A terapia de respeito pela natureza é aconselhável sempre que o estilo de vida provoque os distúrbios referidos ou haja doenças que influenciem negativamente o ritmo do dia-a-dia. Também é apropriada como prevenção e durante a convalescença.
Fonte: LIVRO: «Terapias Complementares e Alternativas – Utilidades e Riscos» da PROTESTE