Terrorismo dos EUA e Aliados: atrocidades com direito a prémio

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Explosão de automóvel em Beirute
Explosão de automóvel em Beirute

O ataque de 1985 marcou o auge das atrocidades israelo-americanas no sul do Líbano. Chamou-se-lhe «Operações Mão de Ferro» e consistiram em chacinas em larga escala e deportações de pessoas que o Alto-Comando designou por «aldeões terroristas». Estas operações, efectuadas quando Shimon Peres era Primeiro-Ministro, são um dos candidatos ao prémio de pior crime terrorista internacional no ano de 1985; ano em que o terrorismo, recorde-se, foi o principal assunto.

Existem, no entanto, outros concorrentes ao mesmo prémio. Um deles, também em 1985, no princípio do ano, foi a explosão de uma bomba em Beirute, mais concretamente a explosão de um automóvel armadilhado. O automóvel estava estacionado perto de uma mesquita e programado para explodir precisamente quando toda a gente estivesse a sair da mesquita, a fim de garantir que grande número de pessoas seria atingida. Com efeito, a explosão matou dezoito pessoas e feriu mais de duzentas e cinquenta, segundo o Washington Post, que fez um relato terrível do acontecimento. As vítimas foram, principalmente, mulheres e raparigas, mas tratava-se de uma bomba potentíssima e por isso matou crianças nos berços e provocou outras atrocidades. Mas isto não conta, porque foi organizado pela CIA e pelos serviços secretos britânicos, pelo que não é terrorismo. Em consequência, esta acção não tem condições para ser um verdadeiro candidato ao prémio.

O único possível rival no concurso nesse ano supremo de 1985 foi o bombardeamento israelita de Tunes, o qual matou setenta e cinco pessoas; na Imprensa israelita encontram-se alguns relatos terríveis, escritos por bons jornalistas, desse bombardeamento. Os Estados Unidos colaboraram neste monstruoso crime ao não comunicarem à Tunísia, seu aliado, que os bombardeiros estavam a caminho. Pelo contrário, o Secretário de Estado norte-americano, George Shultz, imediatamente telefonou ao Primeiro-Ministro israelita, Yitzhak Shamir, para lhe manifestar a concordância dos Estados Unidos com aquela acção. Todavia, Shultz recuou na sua posição de aberto apoio a esta acção de terrorismo internacional, pois quando todos os membros do Conselho de Segurança a condenaram como um acto de agressão armada, a excepção foi os Estados Unidos, que se abstiveram.

Continuemos, porém, a deixar a Washington e aos seus clientes o benefício da dúvida, como no caso da Nicarágua, e suponhamos que o crime foi apenas terrorismo internacional, e não, até, o mais sério crime de agressão, como determinou o Conselho de Segurança. Caso tenha sido agressão, então, observando os truísmos morais, vamos andando para os julgamentos de Nuremberga.

Estes são os únicos três casos que mais perto estiveram das atrocidades cometidas no sul do Líbano no terrível ano de 1985. Algumas semanas depois do bombardeamento de Tunes, o Primeiro-Ministro Shimon Peres deslocou-se a Washington e aí, juntamente com Ronald Reagan, denunciou «o diabólico flagelo do terrorismo» no Próximo Oriente. Nem um, nem o outro, disseram uma só palavra de comentário, o que está correcto pois, por convenção, nenhuma daquelas acções pode ser considerada terrorismo. Recorde-se a convenção. Só é terrorismo se for contra nós. Quando lhes fazemos muito pior a eles, não é terrorismo. Mais uma vez, o princípio universal. Bem, um jornalista imparcial poderia noticiar isto, embora aqui não seja discutível.

Encontrei a minha resenha favorita de História quando escrevi sobre este assunto há alguns anos. Era uma resenha em duas palavras publicada no Washsington Post de 18 de Dezembro de 1998, do correspondente do jornal no Próximo Oriente, que descrevia o artigo como «louco esbaforido». Parece-me correcto. Penso que ele não tinha razão quanto ao «esbaforido» — quem ler o artigo, verá que está escrito num tom bastante tranquilo — mas louco está certo. Quero dizer, uma pessoa tem que estar louca para aceitar truísmos morais elementares e descrever factos que não podem ser descritos. Isso, provavelmente, é verdade.

Fonte: LIVRO «A Manipulação dos Media» de Noam Chomsky

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