Um bom jornalista quereria esclarecer algumas ideias básicas em relação ao “terrorismo”. Em primeiro lugar, quereria saber exactamente o que é isso de terrorismo.
E, em segundo lugar, qual é a resposta adequada ao terrorismo. Bem, qualquer que seja a resposta à segunda pergunta, deve satisfazer alguns truísmos morais e o jornalista pode descobrir facilmente quais são esses truísmos, pelo menos como são entendidos pelos líderes da autodeclarada Guerra ao terrorismo, porque, dizem-nos, e dizem-nos constantemente, que são cristãos muito piedosos, que, portanto, honram os Evangelhos e que, evidentemente, sabem de cor a definição de «hipócrita» dada pelos Evangelhos — designadamente, hipócritas são os que exigem aos outros que acatem os padrões que se recusam aceitar para eles próprios.
Por isso, o jornalista percebe que, para ascender ao nível moral mínimo temos de concordar, temos de insistir mesmo, que se algum acto é correcto para nós, então é correcto para os outros, e se é errado quando os outros o praticam, então é errado quando nós o praticamos. Trata-se do mais elementar dos truísmos morais e uma vez que o jornalista o perceba pode concluir o seu trabalho. Porque a sua investigação está terminada. É pouco provável que na vasta cobertura, e nos muitos comentários acerca da Guerra contra o terrorismo, encontre uma frase, uma simples frase, que se aproxime daquele padrão mínimo. Não acreditem só na minha palavra; tentem experimentar. Não quero exagerar — se calhar, quem me está a ler achou essa tal frase agora mesmo, mas seria um caso muito excepcional, muito raro. Este truísmo moral é, porém, reconhecido dentro da tendência existente. É entendido como uma heresia extremamente perigosa contra a qual, portanto, é necessário erigir barreiras inexpugnáveis, mesmo antes de alguém a exibir, por muito rara que seja. Com efeito, existe mesmo um vocabulário técnico disponível para o caso de alguém ousar empenhar-se na heresia, que nós devíamos respeitar em atenção aos princípios morais que fingimos acatar. Os transgressores são culpados de uma coisa chamada relativismo moral — o que quer dizer que as regras que aplicamos a nós mesmos, devemos igualmente aplicá-las aos outros. Talvez possamos chamar-lhe equivalência moral, que é uma expressão inventada, creio, por Jeane Kirkpatrick para afastar o perigo de que alguém possa atrever-se a olhar para os nossos próprios crimes.
Ou talvez estejam a defender o crime da crítica anti-americana ou sejam mesmo anti-americanos. O que é um conceito bastante interessante. A expressão é usada apenas em Estados totalitários, por exemplo na Rússia dos velhos tempos, onde o anti-sovietismo constituía o crime capital. Se alguém em Itália publicar um livro chamado, digamos, «Os Anti-Italianos», pode imaginar-se a reacção nas ruas de Milão e de Roma, idêntica à de qualquer país onde a liberdade e a democracia fossem levadas a sério.