Terrorismo: a mesma guerra, alvos diferentes

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Guerra no Afeganistão - Foto tirada em 2010
Guerra no Afeganistão - Foto tirada em 2010

Nota-se uma notável linha de continuidade na Guerra contra o terrorismo, que foi redeclarada pelas mesmas pessoas contra alvos bastante semelhantes, embora, sublinhe-se, não sejam exactamente os mesmos alvos.

Os depravados opositores da própria civilização no ano de 2001 eram, na década de 80, os combatentes da liberdade, armados e organizados pela CIA e seus associados, treinados pelas mesmas forças especiais que agora andam à procura deles nas grutas do Afeganistão. Eram uma componente da primeira Guerra contra o terror e actuavam de forma muito semelhante à das outras componentes da Guerra contra o terrorismo.

Não faziam segredo da sua agenda terrorista, que começou a ser escrita há muito tempo, exactamente em 1981, quando assassinaram o Presidente Sadat, do Egipto, e continua. A agenda incluía ataques terroristas no interior da Rússia, suficientemente graves para, em determinada altura, terem conduzido praticamente a uma Guerra com o Paquistão, embora esses ataques parassem depois de os russos se terem retirado do Afeganistão, em 1989. Deixaram o já devastado país nas mãos dos favoritos dos Estados Unidos, os quais passaram imediatamente ao assassínio em massa, à violação e ao terror — geralmente considerado o pior período da História do Afeganistão. Regressaram agora e estão activos fora de Cabul. De acordo com o matutino Wall Street Journal (22 de Janeiro de 2001), dois dos mais importantes senhores da Guerra estão agora a aproximar as respectivas posições, o que poderia tornar-se numa Guerra terrível. Esperemos que não.

Tudo isto juntamente, claro, com tudo o que significa para a população civil. Isto inclui enorme número de pessoas que continuam desesperadamente necessitadas de alimentos e de outros produtos; e embora tenha havido comida durante meses, só ao fim de quatro meses pôde ser distribuída, devido às condições circundantes.

Não sabemos quais as consequências de tudo isto e, na realidade, nunca saberemos. Porque existe um princípio da cultura intelectual que é: mesmo que se investiguem os crimes do inimigo com uma intensidade semelhante à do laser, jamais alguém olhará para os próprios — o que é bastante importante — pelo que só podemos dispor de umas vagas estimativas do número de cadáveres de vietnamitas, salvadorenhos ou outros, que deixámos por aí.

Fonte: LIVRO «A Manipulação dos Media» de Noam Chomsky

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