O estrogénio é uma hormona importante para o cancro da mama. Três em cada quatro mulheres com esta doença têm, no tumor, células que produzem um receptor para aquela hormona. “As células que expressam este receptor, na presença de estrogénios proliferam mais”, explicou Bruno Simões, um dos autores principais do artigo, a trabalhar desde 2011 na Universidade de Manchester, no Reino Unido.
Por isso, não é de estranhar que o tratamento do cancro da mama passe, além da cirurgia e da radioterapia, por uma terapia antiestrogénios, que tem tido resultados positivos. Os tumores tendem a desaparecer. Mas numa em cada três mulheres, o cancro volta. “Há doentes que passados dez a 20 anos apresentam um segundo tumor resistente à terapia anti-hormonal”, explica o biólogo.
A equipa de Bruno Simões, liderada por Robert Clarke, observou a causa desta sobrevivência celular. “O tumor não é uma população homogénea de células. É heterogéneo”, afirmou Bruno Simões. Existe um grupo de células designadas por “células estaminais do cancro”. Estas células têm características bioquímicas semelhantes às das células estaminais, conhecidas por dar origem a diferentes tipos de células no desenvolvimento embrionário, e por proliferarem quando é necessário.
“As células estaminais do cancro não proliferam muito, mas em condições especiais conseguem proliferar potenciando que o tumor cresça”, explica o biólogo, acrescentando que estas células não apresentam o receptor ao estrogénio e, por isso, os fármacos antiestrogénio não vão ter efeito nelas.
Utilizando linhagens celulares, amostras de doentes e ratinhos imunodeprimidos que receberam pedaços de tumor de cancro da mama humano, os cientistas foram, passo a passo, perceber o que se passa com estas células estaminais do cancro. Primeiro, aplicaram em todas as células cancerosas fármacos antiestrogénio, como o tamoxifeno, utilizados na terapia contra o cancro da mama, depois verificaram uma diminuição das células cancerosas. No entanto, houve um aumento da proporção das células estaminais do cancro, ou seja, estas células sobreviveram enquanto as outras morreram.
Os investigadores aperceberam-se de que nas células estaminais do cancro existia uma via de sinalização celular muito activa, ligada a um receptor chamado notch, uma proteína que atravessa a membrana das células, recebe estímulos externos e desencadeia actividades dentro da célula. E quando a equipa bloqueou a actividade desse receptor, essas células morreram. “Conseguimos reduzir a percentagem de células estaminais do cancro”, relata o cientista.
A descoberta tem implicações para o tratamento do cancro da mama. “Temos um grupo de doentes que quando apresentam uma elevada expressão desta via de sinalização, não vão responder tão bem à terapia antiestrogénios”, declara Bruno Simões. “Estes doentes beneficiariam de uma terapia antiestrogénios, em combinação com um fármaco contra esta via de sinalização”, concluiu.
Ainda assim, o mistério da resistência do cancro da mama não está resolvido. “Conseguimos uma melhoria, mas ainda há células que são capazes de formar tumores”, afirma o cientista. Eles agora estão a tentar identificar as características específicas desta população para poder encontrar uma outra forma de as matar. Dessa forma é que se poderá evitar que os cancros da mama voltem a surgir.
Aliás, esta é outra pergunta para a qual Bruno Simões não tem resposta: depois de anos em que a célula cancerosa parece ter estado adormecida, “o que faz esta célula voltar a proliferar?”. O cientista evidenciou que quando o cancro se dispersa pelo corpo, em metástases, é potencialmente intratável, por isso, a detecção precoce do cancro da mama ainda é a forma mais eficaz de combater esta doença. Se houver alguma dúvida, deve-se dirigir ao médico o mais rapidamente possível sem que se tenha medo de ir fazer a detecção nem da palavra cancro. .
Fonte: publico.pt