Durante a Segunda Guerra Mundial, alguns aviões militares desapareceram no «Triângulo». A maioria das perdas não chegou ao conhecimento do público. Muitos dos aparelhos eram tripulados por alunos pilotos, o que pode explicar parte das baixas. De facto, nestes últimos anos, tanto caçadores como operários de construção têm encontrado restos de aparelhos não identificáveis, tanto militares como civis, na zona de Everglades na Florida. Alguns dos aparelhos nunca foram dados como desaparecidos. No que diz respeito aos aviões dados como desaparecidos na área do «Triangulo das Bermudas», há pelo menos dois que não foram citados – referimo-nos a informações tornadas públicas. Mas aqueles que envolvem significativas perdas de vidas humanas constituem, habitualmente, títulos de jornais.
Em Dezembro de 1944, um grupo de sete bombardeiros dos Estados Unidos, que voava para Itália a fim de substituir grupos da 15ª Força Aérea, parou nas Bermudas.
Depois de se abastecerem e de as tripulações descansarem, levantaram voo. Duas horas após, a umas centenas de milhas de Kindley Field, a formação enfrentou uns Estranhos Fenómenos meteorológicos. Os aviões foram sacudidos durante menos de um minuto, mas alguns deles elevaram-se e caíram a umas centenas de pés. A turbulência era de tal modo perigosa que dois dos aparelhos se viram obrigados a voltar às Bermudas. Os outros cinco nunca mais foram vistos. Isto aconteceu quase um ano antes dos cinco aparelhos da Marinha voarem para o desconhecido, saíndo da Base Aero-Naval de Fort Lauderdale.
Pouco se disse do desaparecimento dos cinco bombardeiros da Força Aérea, nem muito se escreveu a este respeito. No seu livro «Invisible Horizons», Vincent Gladdis faz um relatório de uma testemunha ocular; um sobrevivente de um dos dois aviões que voltaram para Kindley Field.
No entanto, dois acidentes que despertaram considerável interesse, tanto nos jornais como em artigos de revistas, também ocorreram próximo das Bermudas. Às 22 horas e 30 minutos de 30 de Janeiro de 1948, foi radiodifundida uma mensagem para Kindley Field. Era do capitão D. Colby, piloto da British South American Airlines (depois absorvida pela BOAC), voando no Star Tiger. «Posição aproximadamente quatrocentas milhas a nordeste de vocês. Espero chegar na hora marcada. Tempo e voo excelentes.»
O aparelho saíra de Londres na Terça-Feira, 27 de Janeiro, e fizera escala em Lisboa, Portugal, e em Santa Maria, nos Açores. O Star Tiger devia parar nas Bermudas e em Nassau, no seu voo para Kingston, na Jamaica. Na altura em que o capitão Colby enviou a mensagem, o avião transportava vinte e cinco passageiros e uma tripulação de seis homens. Entre os passageiros estava Sir Arthur Coningham, de cinquenta e três anos, marechal do ar britânico. O Star Tiger devia aterrar nas Bermudas pouco antes da meia-noite. Mas depois da mensagem do capitão Colby, às 22 horas e 30 minutos, nunca mais se ouviu falar dele.
Na madrugada seguinte, o coronel Tom Ferguson, comandante da Base da Força Aérea dos Estados Unidos em Kindley Field, organizou uma operação de busca com trinta aviões e dez barcos, para encontrar o Star Tiger ou os seus sobreviventes. A 31 de Janeiro, o mau tempo agravou-se e destruiu todas as esperanças de encontrar o aparelho. Terríveis tempestades e ondulação muito cavada dominavam toda a zona de busca. Depois do tempo melhorar, onze mil homens participaram de novo nas buscas. Mas na Terça-Feira, 4 de Fevereiro, deram-na por finda. Não se haviam encontrado nem sobreviventes nem destroços. Nesse mesmo dia, radio-operadores amadores da costa leste dos Estados Unidos receberam a mensagem «Tiger». Pouco tempo depois, uma voz soletrou «G-A-H-N-P.» Era estranho, visto as letras de chamada do Star Tiger serem «G-A-H-N-P.» Imediatamente se retomaram as buscas. Mas ninguém conseguiu qualquer resultado positivo, de modo que os oficiais decidiram que a mensagem misteriosa era uma fraude.
O Star Tiger era um Tudor IV, aparelho muito avançado para o seu tempo. Modificação do Lancaster britânico, que teve fama na Segunda Guerra Mundial, o Tudor IV tinha quatro motores Rolls-Royce Merlin 623, de mil setecentos e sessenta cavalos-vapor. Atingia a velocidade de duzentas e trinta milhas por hora, ao nível do mar, e trezentas e cinco a vinte e cinco mil pés. A cabina principal era pressurizada e, além das portas principais, tinha seis saídas de emergência. Havia acomodações para trinta e dois passageiros, não contando as da tripulação. Certas linhas aéreas, incluindo a BOAC, destinaram os Tudors IV para transporte de passageiros e versões modificadas para serviços de carga. Nas fábricas Avro, as cadeiras de montagem dos Tudors trabalhavam ininterruptamente. Mas quando os sinos anunciaram o advento de 1949, dobraram pela morte do Tudor como avião de passageiros.
Nas Bermudas, a manhã de 19 de Janeiro de 1949 estava esplêndida. Apetecia sair para a rua e não ir trabalhar. E era isto que sentia o controlador aéreo Henry White, quando se dirigia para Kindley Field na sua motorizada. Eram 7 horas e 45 minutos. Tinha alguns minutos, antes de se apresentar ao trabalho, às 8 horas. Atravessou a vedação e observou o Tudor IV Star Ariel, das linhas aéreas British South American, experimentando os motores no extremo da pista. O piloto acelerou rapidamente os poderosos motores, o aparelho rugiu no caminho que lhe estava destinado e ergueu-se no ar. As colinas em redor e os edifícios estremeceram com a pulsação dos quatro motores.
Às 8 horas e 25 minutos, o piloto do Star Ariel capitão J.C. McPhee, comunicou com a torre das Bermudas: «Estamos aproximadamente a cento e oitenta milhas ao sul das Bermudas. O tempo está magnífico. Tudo corre bem. Vou mudar a frequência para Nassau.» Foi o último contacto que houve com o Star Ariel, com os seus sete membros de tripulação e treze passageiros. Mais uma vez, porque prevalecia um tempo ideal para voar no «Triângulo das Bermudas», outro avião, sem qualquer sinal de perigo, lançou-se no desconhecido.
Quando se verificou que o Tudor IV não chegava a Nassau, iniciou-se uma busca maciça. Nesta época, a Marinha dos Estados Unidos, realizava manobras numa área de várias centenas de milhas a sul das Bermudas. Os navios e os aviões foram deslocados dos exercícios de treino para participarem na busca. Entre os navios mobilizados estavam o couraçado Missouri, os porta-aviões Leyte e Kearsage, cruzadores, contratorpedeiros e vários navios auxiliares. A busca abrangeu a distância que vai das Bermudas à Jamaica. Dois contratorpedeiros afastaram-se até um ponto, trezentas milhas a sul das Bermudas, onde tanto um avião de carreira comercial como um bombardeiro da Força Aérea dos Estados Unidos informaram ter visto na água uma estranha luz verde. Os contratorpedeiros não encontraram nada: Pouco depois a busca coincidiu com a procura de um barco de pesca, o Driftwood, que desaparecera quando fazia uma excursão de Fort Lauderdale para Bimini, com cinco homens a bordo. Nunca mais houve vestígios nem do Driftwood nem do Star Ariel.
Como resultado dos desaparecimentos inexplicados destes dois Tudor IV, e ainda de um terceiro, ao largo da costa da América do Sul, o ministro da Aviação Civil da Inglaterra determinou que o Tudor IV não tornasse a ser utilizado em linhas de passageiros. Os que restavam foram convertidos em aviões de carga e realizaram serviços valiosos na Ponte Aérea de Berlim. Cessou a produção dos novos Tudor IV. A única informação que diz respeito ao Star Tiger e ao Star Ariel é que, aparentemente, se devem ter despenhado no mar sem se desintegraram e foram para o fundo como uma peça única.
Fonte: Livro “O Mistério do Triângulo das Bermudas” de Richard Winer
Índice do Triângulo das Bermudas: https://paradigmas.online/?p=5039