Em Kowloon, do outro lado do porto de Hong Kong, há uma célebre loja do cais conhecida pelo Bar do Mike. Mike era um chinês de puro sangue. A sua clientela era composta por marinheiros, membros do mundo do crime, vadios do cais, prostitutas, figuras características em geral, e até mesmo, por vezes, um turista perdido, ou desencaminhado. Esta casa tinha fama de ser o mais turbulento bar do mundo. Até o célebre Bar do Quinn, no Tahiti, não rivalizava com ele. Quando os clientes do Mike não estavam profundamente embrenhados numa zaragata, provavelmente esperavam por uma. Nas raras ocasiões em que prevalecia a paz e a tranquilidade, a principal ocupação dos frequentadores do Mike era desfiar histórias – habitualmente histórias do mar. E foi aqui, em 1967, no mesmo ano em que um infeliz cliente atingiu Mike com uma garrafa partida, que pela primeira vez ouvi falar numa pequena e misteriosa zona do mar conhecida indiferentemente pelo «Triângulo do Diabo» ou «Triângulo das Bermudas», descrito como um local em que os navios atingem o fim do mundo, onde os aviões se erguem no céu para nunca mais voltar e onde marinheiros e aviadores desaparecem para sempre.
Na realidade, o «Triângulo das Bermudas» não é um triângulo. É um trapézio, uma área de quatro lados onde não há dois lados iguais. E as primeiras quatro letras de trapézio descrevem-no mais do que adequadamente.[1]
Tendo vivido na Florida mais de quinze anos, de vez em quando lia histórias nos jornais, que se referiam a um navio, ou a um avião ou a um iate que muito simplesmente desaparecia sem deixar rasto. Mas a importância destes acontecimentos nunca me impressionou até ao dia em que ouvi referir-se-lhes no Bar do Mike.
A ilha de S.Salvador, nas Bahamas, onde se supõe que Cristovão Colombo fez a sua primeira escala no Novo Mundo, está localizada dentro do perímetro do «Triângulo das Bermudas», tal como a Crooked e Rum Cay, que alguns historiadores consideram que foi a primeira terra avistada por Colombo. Na crónica do grande explorador diz-se que na noite anterior à descoberta que alterou a história do mundo, ele e a sua tripulação viram o que parecia ser um halo esverdeado que, de vez em quando, se movia. Os antropologistas defendem a teoria que aquilo que Colombo viu eram as fogueiras onde, nas canoas de pesca, se fazia a comida dos índios Caraíbas, oscilando para um lado e para o outro, consoante o ondular do mar. Alguns oceanógrafos pensam que essas luzes esverdeadas eram fogueiras na praia e que a rebentação alterava a cor e a forma do fogo, dando a ilusão de movimento. A filosofia dos OVNIologistas não necessita de explicação. Mas, fosse o que fosse, índios, ilusões ou OVNIs, que os marinheiros viram naquela noite de 1492 ao longo da franja das ilhas Bahamas, a verdade é que naquela área, desde então, coisas muito estranhas e invulgares têm acontecido.
Entre o momento em que forem lidas estas palavras e até chegar-se ao final da abordagem a este tema, podem ter a certeza que esta misteriosa zona do Atlântico já reivindicou outra vítima. Pode ter sido um obscuro pescador das Bahamas ou um proeminente cidadão que voava num avião de que nunca mais se ouviu falar. Mas, seja quem for a vítima, o caso acontecerá. Não temos de ser profetas para predizer que alguns dos que agora lêem estas palavras viajarão nesse mar de navios mortos, aviões desaparecidos, homens condenados e esperanças perdidas… e desaparecerão para sempre.
NOTA:
[1] TRAP, em inglês, significa ratoeira.
Fonte: Livro “O Mistério do Triângulo das Bermudas” de Richard Winer
Índice do Triângulo das Bermudas: https://paradigmas.online/?p=5039