Triângulo das Bermudas: o caso dos Fischers

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Desaparecimento de Fischer num Beechcraft Bonanza
Desaparecimento de Fischer num Beechcraft Bonanza

Estava invulgarmente frio no sul da Florida, naquele Sábado, 4 de Dezembro de 1971. Era uma dessas raras épocas em que os fogões de sala se tornam funcionais. Uma frente fria descia do norte, tal como acontecera 26 anos antes, quando 5 aviões da marinha levantaram voo da Base Aero-Naval de Fort Lauderdale, para nunca mais tornarem a ser vistos.

Às 20 horas, Robert N. Fischer e a sua mulher, Judy, na zona intercostal, em Fort Lauderdale, deitaram as três filhinhas e sentaram-se em frente da televisão a cores, na segurança da sua casa, vendo a estação WPTV de Miami. Vincent Price falava de uma zona num misterioso sector do norte do Atlântico conhecida como «Triângulo das Bermudas».

Mais tarde, discutindo a emissão com alguns amigos que também a haviam visto, o Dr. Fischer, célebre cirurgião ortopedista, escutou grande número de teorias. Muitos dos seus doentes também falaram com ele sobre o «Triângulo das Bermudas». Tinham a sua opinião sobre o assunto, mas Fischer limitava-se a ouvir. Quando se referiam aos Fenómenos naturais, ele acenava com a cabeça, em sinal de assentimento. Quando se referiam ao sobrenatural, o médico limitava-se a escutar sem fazer qualquer comentário. Só a amigos muito íntimos é que ele confiava a sua filosofia sobre o assunto. A sua opinião era que os desaparecimentos eram devidos a incidentes que poderiam ser explicados cientificamente, quando todos os factos fossem conhecidos. Mal sabia ele que um dia o descobrir pessoalmente.

Na manhã de Sexta-Feira, 10 de Agosto de 1973, os Fischers e as duas filhas mais novas dirigiram-se ao aeroporto para iniciar a sua viagem à ilha Great Abaco, nas Bahamas. A família planeara passar o fim-de-semana em Marsh Harbor e voltar para Fort Lauderdale no Domingo à noite, deixando a filha mais velha, Laura, de 12 anos, em Fort Lauderdale para poder participar no torneio de ténis. Fischer pilotaria um avião que pedira emprestado a outro médico, o Dr. Frank Stuart, que passava as férias a bordo do seu iate em Nassau.

Às 10 horas e 46 minutos, Fischer, de 39 anos, tirou o Beechcraft Bonanza, de um só motor, do Sunwood South Flying Service em Fort LauderdaleHollywood International Airport. Cedo, telefonara para o FAA dizendo que registaria o plano de voo depois de levantar voo, processo que vulgarmente era aceite. Quando o avião chegou ao fim da pista de descolagem ao longo da auto-estrada I-95, Judy Fischer, de 38 anos, inclinou-se para trás e verificou os cintos de segurança da sua filha Júlia, de 7 anos e de Melinda, de 3. Poderia ver-se uma linha de trovoadas amontoando-se no horizonte a 25 ou 30 milhas para este, se bem que o tempo estivesse claro e cheio de sol em Fort Lauderdale. O médico controlou os instrumentos de bordo. Então quando mexeu no acelerador de mão, o motor mudou de velocidade e o avião começou a mover-se. Um enorme jacto da Eastern Airlines roncou na pista dirigindo-se para Nova York. O Beechcraft amarelo e verde começou a rolar e Fischer comunicou com a torre: «7956KILO, pronto a seguir.»

«7956KILO, pode descolar», responderam da torre. Fischer acelerou e o avião correu pela pista e elevou-se no ar. Uma vez atingida a altitude de cruzeiro, Fischer dirigiu-se para leste, voando sobre o atlântico. O voo até Abaco devia levar duas horas e meia. Fischer ou se esqueceu ou não foi capaz de preencher o plano de voo depois de estar no ar, porque nas últimas palavras que o ouviram pronunciar foram: «7956KILO, pronto a seguir.»

Muitos outros aviões que nesse dia tentaram voar para as Bahamas voltaram para trás devido ao mau tempo e às interferências no rádio. Vários aviadores afirmaram que regressavam porque eram incapazes de estabelecer contacto pelo rádio para preencher o plano de voo com a torre, enquanto ainda tinham terra à vista. Teria o Dr. Fischer, se bem que incapaz de contactar pela rádio, continuado o seu caminho, e quando verificou que o avião estava infelizmente envolvido por trovoadas, ficando completamente desorientado? Ou teria acontecido qualquer outra coisa diferente?

Às 20 horas e 20 minutos a guarda costeira foi notificada de que o aparelho de Fischer não chegara a Mars Harbor. A escuridão demorou a pesquisa aérea, mas o Dauntless, de 210 pés, que se encontrava em Miami Beach em serviço de pesquisas e salvamento, preparou-se para agir. Estaria na estação ao largo das Bahamas com o seu helicóptero às primeiras luzes da madrugada.

Beechcraft Bonanza
Beechcraft Bonanza

Ao romper do dia, 5 aviões da guarda costeira acompanhados por um avião da Marinha e outro da Força Aérea dirigiam-se para as respectivas áreas de pesquisa. Depois de viajar durante toda a noite a 18 nós, o Dauntless iniciava já as suas buscas na área da Grande Bahama e o seu helicóptero levantou voo para o Sul. Aparelhos da Patrulha aérea civil investigavam sobre Everglades, na Florida.

Sábado à tarde, 7 aviões civis, todos pilotados por amigos dos Fischers, juntaram-se às buscas percorrendo áreas difíceis que eram indicadas pela guarda costeira. Quando escureceu, 12 dos 14 aviões voltaram às suas bases. Dois, o helicóptero do Dauntless e o guarda-costas anfíbio Albatroz continuaram pela noite adiante utilizando poderosa iluminação chamada «lâmpadas sol da meia noite».Nada se encontrou.

A busca foi recomeçada no dia seguinte, Domingo. Além de aviões militares, havia 3 aparelhos do Serviço de Salvamento Aero-Marítimo da Bahama e 10 aviões particulares, que buscavam qualquer pista dos Fischers e das filhas. Algumas áreas na suposta rota do avião desaparecido foram pesquisadas muitas vezes, na esperança de se encontrar quaisquer sinais sobreviventes ou destroços do avião. «Não nos parece que sejam bons auspícios», disse no Domingo à noite o tenente John Brooks, oficial do serviço na Base Costeira de Miami Beach. «Quando um aparelho desaparece, habitualmente procuramos durante 3 a 5 dias. Se o não encontrarmos nos dois primeiros dias, ou no terceiro, as esperanças começam a esvair-se.

A sobrevivência, em casos como este, depende justamente da força dos indivíduos atingidos e da sua coragem em lutar para se manterem vivos.» Brooks continuou: «Se a família é capaz de se agarrar aos destroços do aparelho, evitando beber água salgada, sem desesperar, as suas possibilidades são maiores. A chuva também pode ajudar dando-lhes água a beber.»

Na Segunda-Feira, pouco depois do meio-dia, o helicóptero do Dauntless, encontrou no mar, a 25 milhas a sudoeste da cidade costeira de Freeport, uma jangada salva-vidas aberta mas não insuflada. Controlado o número de série da jangada amarelo-vivo, verificou-se que era uma das duas vendidas pelo fabricante ao armazém de artigos marítimos B’hia Mar, em Fort Lauderdale. Ambas tinham sido vendidas pelo armazém, e uma ao Dr. Frank Stuart, dono do avião desaparecido. O comprador da outra era desconhecido e fez-se um esforço exclusivo, mas infrutífero, para o localizar. Se bem que remota, existe a possibilidade de poder ter sido outro avião ou outro barco que ali se tenha perdido.

Na Terça-Feira à noite, a guarda costeira encerrou as buscas com a seguinte afirmação: «É provavelmente inútil continuar a busca. Fica portanto suspensa até outras informações. Se houver qualquer indicação de que a família continua viva, a busca será retomada».

Harry Vordermeier Jr., o seu irmão Ken, Walter McCrory, Ken Whittington, Dr. Nile Lestrange e outros amigos dos Fischers que tinham participado na busca com os seus próprios aviões juntaram-se em frente do hangar naquela tarde e decidiram continuar a procurar pelo seu próprio risco, pelo menos durante o fim-de-semana seguinte. Os dias seguiram-se e passavam, e era sempre a mesma história – nada.

No último dia de extensa busca, Harry Vordermeier teve um pressentimento. Decidiu voar ao longo da linha de costa da ilha Little Abaco na possibilidade de que a jangada não fosse do aparelho de Fischer e que ele pudesse ter ido tão longe. Voando ao longo da desolada costa sul da ilha, notou qualquer coisa prateada no meio da vegetação. Parecia parte de um avião. Walter McCrory, acompanhado pelo irmão da senhora Fischer, alugou um jeep e dirigiu-se para a remota área. Eram na verdade restos de um avião, mas não do avião do Dr. Fischer. Estavam ali expostos já há muitos meses. De que aparelho provinham? Aqueles restos não podiam ser de avião dado como desaparecido nos anos recentes. Não se enquadravam em qualquer dos aviões desaparecidos. Não havia marcas, nem indícios que pudessem levar a uma identificação no que respeitava ao local de onde o avião viera e quem o tripulava.

Mais uma vez, enquanto se espera outra vítima, descobriu-se a evidência de uma outra, mas cujo desaparecimento não havia sido comunicado. O «Triângulo das Bermudas», ao revelar um dos seus segredos, desvendou apenas que acontecem mais coisas do que aquelas que conhecemos.

Fonte: Livro “O Mistério do Triângulo das Bermudas” de Richard Winer

Índice do Triângulo das Bermudas: https://paradigmas.online/?p=5039

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