Triângulo das Bermudas: o Primeiro Aviador a Desaparecer

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Primeiro Aviador a Desaparecer
Primeiro Aviador a Desaparecer

Pilotavam nas piores condições. Os aviões não passavam de caixotes revestidos de tela. Esta tela era endurecida com óleo de banana, a que chamavam «lubrificante». Nesta época, só Buck Rogers cobria os seus aparelhos com metal. O cheiro do lubrificante do avião era simbólico do aviador – deslizando sobre campos de trigo e topos de árvores, embrenhando-se no céu azul. A ambição de todos os os rapazes era crescer para serem aviadores. E aqueles que tinham a felicidade de viver perto de um aeroporto, ou possibilidades de lá chegar de bicicleta, passavam as tardes de sábado lavando e limpando aviões, em troca de um passeio de dez minutos ao domingo. O único acontecimento importante quando se ia fazer um piquenique no lago, depois do almoço, ou numa tarde de Verão, amontoando com todos os outros no calhambeque da família, era ir até ao campo de aviação (nesta época, todos os aeroportos estavam localizados no campo) e ficar a ver os aviões descolar e aterrar. A mania de todos os rapazes era construir modelos de aviões cujos motores de elástico conseguiam fazê-los voar ao longo de uma milha, se as condições atmosféricas fossem favoráveis.

O maior acontecimento do ano não foi nem o circo nem a feira. Foi o festival aéreo. Todos os rapazes queriam estar no lugar daqueles ousados e teatrais pilotos que viviam umas vidas tão rápidas e excitantes. Voavam de cabeça para baixo até a poucos pés de distância do solo, cortavam por entre casas em chamas, no último segundo arrancavam em parafuso e passavam em frente da assistência, fazendo com os motores um barulho medonho, levando de pé, sobre as asas, bonitas raparigas vestidas de vaqueiro.

Mas havia ainda uma outra espécie de aviadores, se bem que menos conhecidos e que levavam também vidas ousadas. Estes pilotos eram os audazes contrabandistas de bebidas alcoólicas. Uns quarenta e cinco operavam entre o West End, nas Bahamas, e Palm Beach, no fim dos anos 20, princípio dos anos 30. Quando o Governo, a fim de fazer cumprir a Lei de Proibição Nacional, conseguiu barcos tão rápidos como os «rummies», como se designavam os contrabandistas de Rhum, estes começaram a utilizar a via aérea.

 A Grande Bahama é a segunda maior ilha do Arquipélago das Bahamas. A sua ponta oeste é o West End, que fica a cinquenta milhas a leste de Palm Beach. E é em West End que Jonh Smith, um nativo das Bahamas, mantém o seu negócio. O estabelecimento chamava-se o Primeiro e Último Bar. A maior parte da ilícita carga aérea era adquirida pela firma de John Smith. As bebidas eram divididas à média de seis garrafas por saco de serapilheira, formando dois sacos uma caixa. A empresa de Smith dava trabalho a vinte e duas raparigas, cuja única tarefa consistia em coser as sacas de Whisky, para poderem ser embarcadas. Um camião Ford modelo T, costumava então levar o contrabando para uma das várias pistas abertas na floresta, a sul da cidade. Os pilotos recebiam dez dólares por caixa, para levarem as bebidas para um dos isolados campos de aterragem a oeste da região de Palm Beach. Metiam tantas sacas de Whisky nos aviões, que só conseguiam ver o que se passava em frente.

Um destes aviadores contrabandistas, Al Page recorda o tempo em que fazia este serviço voando num hidroavião a cerca de cinquenta pés da água e com mau tempo. Um tubo de gasolina partiu-se e ele foi obrigado a descer num mar tempestuoso. Com o impacto, os flutuadores quebraram-se e o avião afocinhou mergulhando quase imediatamente, devido ao peso da carga. Al Page mal teve tempo de se salvar.

Um barco de contrabando que se dirigia a Palm Beach viu o desastre e aproximou-se do piloto, que pediu uma boleia para a Florida. O capitão do barco, que conhecia Al, meteu a bordo tantas sacas de Whisky que o peso fazia o barco mergulhar além da linha de água. Disse então: «Al, antes de poderes vir para bordo, temos de deitar fora seis caixas de champanhe. Pagas esse champanhe? Se não pagas, tens de continuar a nado.» É escusado dizer que Al pagou as seis caixas de champanhe. Se o barco dos contrabandistas não tivesse visto Al, os jornais da tarde teriam trazido em letras grandes: «Piloto e avião desaparecem no mar.»

Herbie Pond era outro contrabandista, mas não teve tanta sorte como Al Page. Em Junho de 1931, Herbie vinha de West End com uma enorme carga de Whisky fugindo às palmeiras e aos pinheiros australianos que orlam a praia de Palm Beach. Atravessando Lake Worth, continuou para além de West Palm Beach e dentro dos matos, numa área agora ocupada pela West Palm Beach, saída do Sunshine State Parkway. Em 1931 era uma pastagem de vacas e ponto de encontro de contrabandistas e candongueiros de álcool do West End. Estava uma esplêndida tarde de sol, com uma leve brisa de sudeste. Herbie deu várias voltas sobre a pastagem para ter a certeza de que não tinha guardas aduaneiros à sua espera quando aterrasse. Enquanto ele completava os círculos, dois enormes carros Hudson Super Six (o carro preferido pelos contrabandistas) e um grande carro para sete passageiros, um Packard Super 8 entraram no campo. Eram os clientes de Herbie. O monoplano Curtiss Robin fez uma aterragem perfeita. Herbie era um piloto experimentado e o Curtiss Robin um dos aviões de maior confiança.

Antes do motor radial de sete cilindros parar de rodar, já os homens dos carros tinham começado a descarregar o avião. De mão em mão, passaram os sacos para o primeiro carro. Quando ficou carregado, o segundo Hudson veio para o seu lugar, e a descarga continuou ininterruptamente. Os homens do Packard guardavam os outros dois carros. Logo que o avião ficou liberto dos seus quarenta e quatro sacos de Whisky (vinte e duas caixas), Herbie verificou o nível do combustível e do óleo, inspeccionou o mecanismo do aparelho, subiu para bordo e gritou: «Contacto». Um dos homens fez mover a hélice suavemente. À segunda volta o motor pegou. Herbie disse adeus aos homens que estavam a encher os carros e cortou em direcção ao ângulo noroeste do campo. Quando os três carros começavam a afastar-se, Herbie acelerou e o aparelho roncou através da pastagem e elevou-se suavemente no ar, por cima das copas das árvores, em direcção ao oceano, West End, para outra carga de Whisky e para o «Triângulo das Bermudas». Foi a última vez que se ouviu falar do Curtiss Robin e de Herbie Fond, o homem que teve o privilégio de ser o primeiro aviador a desaparecer oficialmente no «Triângulo das Bermudas».

Fonte: Livro “O Mistério do Triângulo das Bermudas” de Richard Winer

Índice do Triângulo das Bermudas: https://paradigmas.online/?p=5039

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