Triângulo das Bermudas: o Princípio

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O inicio de tudo
O inicio de tudo

Devo ou não devo avisá-lo? Temos de confessar que me fez voltar a casa na maior das misérias, não é verdade? Agora vai regressar a Espanha, mas como herói. Não é engraçado? Estes podem muito bem ser os pensamentos que passaram pela cabeça de Cristovão Colombo enquanto ia à popa do barco que singrava para terra, em S.Domingos, no dia 1 de Julho de 1502. Estes pensamentos eram provocados pelo espectáculo de trinta e duas caravelas que havia reunido e estavam preparadas para voltar a Espanha. O vento soprava de oeste. Mas, durante os meses de Verão, nas Caraíbas, devia soprar de leste, a não ser, como Colombo imaginava, que fosse a tempestade das tempestades – o furacão.

Dois anos haviam passado desde que Colombo vira Bobadilla, o homem que o mandava a ferros para Espanha. Mas Colombo fora liberto para voltar ao Novo Mundo e continuar as suas explorações a oeste das Caraíbas. Agora os seus caminhos tinham de se encontrar de novo, pois, por consideração por mais de oitocentos homens que regressavam a Espanha naquela frota, Colombo decidiu avisar Bobadilla da tempestade que se aproximava. Ordenou que alguns marinheiros se dirigissem ao El Dorado, a nau capitaneada pelo almirante António Torres. Bobadilla devia seguir nesta nau. O vento continuava a soprar de oeste.

Quando Colombo subiu a bordo, viu um grupo de escravos índios em dificuldades com uma mesa de ouro puro – mesa que devia pesar mais de mil e quatrocentos quilos. A mesa era destinada à família real de Espanha e era uma prenda de Bobadilla. Além desta mesa preciosa, o navio devia transportar dois milhões de dólares em ouro e prata. Seria o navio que mais riquezas levaria para Espanha.

Bobadilla, como passageiro do El Dorado, estava de pé no castelo da popa, imperturbável, o explorador aproximou-se do homem que teria gostado de o tornar a ver a ferros. Tentou avisar Bobadilla da tempestade iminente; mas o antigo governador de Hispaniola (hoje em dia Haiti e República Dominicana) limitou-se a troçar do aviso do mais experimentado homem do mar do seu país. Se bem que o almirante Torres considerasse o aviso de Colombo, Bobadilla convenceu-o de que estes invulgares ventos de oeste os levariam mais rapidamente Atlântico fora e lhes poupariam muito do tempo que habitualmente se perdia esperando os ventos de leste. Nessa noite, enquanto o grande explorador ficava de vigia numa das colinas sobre a praia, a frota fez-se ao mar. De manhã, o último dos navios tinha desaparecido no horizonte.

Três dias mais tarde, quando a armada entrou no canal de Mona, que separa Hispaniola de Porto Rico, a ira da natureza manifestava-se com todas as suas forças. Os mares roncavam e os ventos assobiavam. Os relâmpagos cortavam o céu. Ribombavam os trovões.  A chuva caía quase na horizontal. As velas desfaziam-se. Os mastros partiam-se. Os homens gritavam. Outros ajoelhavam-se para rezar. Toneladas de ouro e preta caíam no oceano pelos buracos que se haviam aberto nos cascos. Depois, sem qualquer aviso, o vento e a chuva desapareceram. Tudo ficava tranquilo, salvo o mar. O Sol rompeu por entre as nuvens que o vento afastava. E metade da frota desaparecera.

O El Dorado ainda flutuava. Se bem que atingido, Deus poupara-o, assim pensavam as pessoas que estavam a bordo. O ar estava quente, húmido e calmo. A superfície do mar era uma massa de líquido distorcida. Enormes ondas rolavam numa direcção. Outras maiores vinham de outro lado. E outras ainda mais altas rebentavam provenientes de um terceiro ponto. No entanto, não soprava vento. O Sol estava radioso e quente. As caravelas agitavam-se para um lado e para  o outro, e de tal maneira que o movimento aumentava os estragos que o vento começara. Era impossível qualquer reparação. Depois, tão de súbito como parara uns minutos antes, o vento voltou na direcção oposta, com renovada fúria. Uma fúria que apanhou os marinheiros sobreviventes completamente desprevenidos, porque nunca antes tinham assistido a um furacão das Índias Ocidentais.

El Dorado
Nau “El Dorado”

De novo os relâmpagos cortaram o céu em todas as direcções, mas não se ouviam os trovões. Os ventos em fúria abafavam-nos. A pintura era arrancada aos cascos e às super-estruturas  pela chuva, que tudo arrastava. Os homens eram decapitados pelo cordame partido que se balançava a um vento cuja velocidade desafiava qualquer possibilidade de ser avaliada. Mais naus sucumbiram à fúria. Barcos que poderiam ter sido salvos se as tripulações em vez de se ajoelharem para rezar tivessem tentado mantê-los a flutuar. As vergas que caíam esmagavam os homens que estavam no convés … homens que teria morrido mais cedo se tivessem sido atirados borda fora. Os homens do leme, que pensavam que os navios eram fáceis de governar, não sabiam que os lemes tinham desaparecido. As caravelas esmagavam-se umas contra as outras e afundavam-se como se fossem uma só. Os que abriam os olhos naquela chuva puxada pelo vento ficavam com eles feridos. Os fatos eram rasgados em tiras e os corpos sentiam amachucados e eram massas de carne dilacerada, com se tivessem sido chicoteados e batidos pelos guardas do rei Neptuno. As bocas que se abriam para gritar expeliam sangue em vez de palavras. A carga saía fora do seu lugar. Os barcos adernavam. Outros afundavam-se. Os homens eram esmagados. Outros afogavam-se. Os moribundos rezavam para poder viver. Os vivos suplicavam para que Deus os levasse.

Que estaria a pensar Bobadilla? Podia ter sido na mesa de puro ouro – a mais valiosa peça de mobiliário que o mundo jamais viu? Possivelmente pensou na sua salvação pessoal, ou até no aviso de Colombo, que havia desprezado. O mais provável era estar demasiado ocupado na luta pela sobrevivência, para pensar fosse no que fosse. Mas o mundo nunca o saberá, porque tanto o El Dorado como vinte e seis outros navios tinham desaparecido quando o vento começou a amainar, ao entardecer desse dia. Dez navios destroçados foram mais tarde encontrados nos recifes e ao longo das costas e praias de Porto Rico e Hispaniola. Dezassete, com as suas tripulações, tinham desaparecido completamente. Algures, trezentos metros ou mais sob as águas do canal Mona está uma mesa de ouro puro que o El Dorado ali deixou. Nunca se encontraram vestígios dos outros dezassete navios. As tripulações dos cinco barcos que se salvaram estavam demasiado ocupadas na sua luta pela sobrevivência para ter reparado no que se passava.

As dezassete caravelas carregadas de tesouros que levaram as tripulações para o desconhecido a 4 de Julho de 1502, são as primeiras vítimas registadas do «Triângulo das Bermudas». É verdade que conhecemos a razão da sua perda, mas não há explicação para que centenas de navios e aviões e milhares de pessoas tenham desaparecido durante estes anos no «Triângulo das Bermudas».

Fonte: Livro “O Mistério do Triângulo das Bermudas” de Richard Winer

Índice do Triângulo das Bermudas: https://paradigmas.online/?p=5039

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