A parceria transatlântica para o comércio e investimento é demasiado importante e deve merecer atenção redobrada
A União Europeia e os Estados Unidos da América estão num processo de negociação de um tratado, a parceria transatlântica para o comércio e investimento, TTIP, cujo objectivo é derrubar barreiras em vários sectores económicos para facilitar as trocas comerciais entre os dois blocos. A importância do que está em jogo mede-se pela própria dimensão destas duas economias e pela intrincada rede de interesses que vai afectar. A União Europeia é a maior Economia mundial com os seus 500 milhões de cidadãos e apesar da recente crise da qual ainda está muito longe de sair, a verdade é que continua a ser um mercado disputadíssimo, com um rendimento médio anual per capita de 25 mil euros. Do lado dos Estados Unidos há que contar com 300 milhões de consumidores cujo rendimento médio/ano atinge os 22.400 euros. As trocas entre os dois blocos já são intensas, pois a União Europeia foi não só o maior investidor nos Estados Unidos da América , em 2011, como foi o principal destino das exportações de mercadorias deste país, em 2012 e o maior mercado para as exportações de serviços dos Estados Unidos.
Quem negoceia do lado da União Europeia é o comissário para o comércio a partir de orientações dadas pelo Conselho Europeu onde têm assento todos os países, enquanto do lado norte-americano o responsável é o representante dos Estados Unidos para o comércio. No final, se houver acordo, o documento terá de ser aprovado pelo congresso dos Estados Unidos da América, enquanto a parte comunitária terá de contar não só com a aceitação do parlamento, mas também do Conselho Europeu, ou seja, dos governos de todos os países.
De acordo com um estudo do Centre for Economic Policy Research citado em documentos oficiais do governo português, o impacto de um acordo neste âmbito poderia atingir benefícios da ordem dos 119 mil milhões de euros por ano na economia europeia e 95 mil milhões na dos Estados Unidos. Mais concretamente sobre Portugal, um estudo pedido pelo actual executivo à mesma entidade revela que o rendimento nacional poderá crescer entre 1,1 mil milhões de euros e 1,6 mil milhões de euros anuais conforme a entrada em vigor do tratado seja mais rápida ou a mais longo prazo.
Mas tanto as negociações como os objectivos do TTIP têm sido alvo de grande controvérsia. Acusados de manterem o que se está a passar sob um manto de secretismo incompatível com as regras do jogo democrático e da transparência exigível numa Sociedade aberta, os negociadores têm também sido objecto de suspeitas de favorecimento dos interesses das grandes multinacionais. Tais suspeitas avolumaram-se recentemente aquando da divulgação de uma carta subscrita por 14 países, entre os quais Portugal, defendendo a introdução de uma cláusula a favor da criação de mecanismos arbitrais que permitem às empresas estrangeiras ultrapassar os tribunais dos estados, recorrendo a uma mediação externa. Felizmente, parece que o governo português arrepiou caminho. Mas é muito importante estar atento.
Este tema já tinha sido abordado no Paradigmas no artigo «Bruxelas impede Iniciativa Cidadã contra Tratado Transatlântico que visa aumentar o poder das Multinacionais sobre os Estados».
Fonte: Público
Artigo Original: Aqui.