Depois da retomada do controlo do aeroporto de Donetsk e uma ofensiva ao longo da linha da frente, os conflitos concentram-se na “bolsa” de Debaltsevo, onde muitos milhares de soldados ucranianos estão quase cercados.
Que quer Putin?
A 2 de Fevereiro, o dirigente da República Popular de Donetsk (RPD), Zakharchenko, anunciava “a mobilização de 100 mil homens em dez dias”. Tratar-se-à da “cobertura possível de uma entrada massiva de tropas russas”? [1] Os Estados Unidos ameaçaram fornecer armas letais à Ucrânia, uma escolha que Angela Merkel, nomeadamente, rejeitou: “Não vejo que um melhor equipamento do exército ucraniano impressione o presidente Putin”.
Para o primeiro-ministro Yatseniuk, chefe de fila da Frente Popular, o “fim último” de Putin “é pôr a mão sobre a Ucrânia, quer reconstituir a União Soviética, de uma ou de outra forma”. É uma visão de um outro tempo.
Mas Putin procura instrumentalizar os conflitos na Ucrânia para consolidar as suas margens de negociação com a UE. A ajuda que fornece visa assegurar também as vias de passagem para a Crimeia (corredores, aeroporto de Donetsk), e negociar em posição de força as fronteiras da “União das Repúblicas Populares” autoproclamadas numa parte do Donbass. Os seus dirigentes organizaram simulacros de eleições em 2 de Novembro, não reconhecidas por Moscovo. Kiev cortou o seu financiamento orçamental, ao mesmo tempo que exigia a anulação do escrutínio. Os insurrectos proclamam a sua reintegração e um amplo estatuto de autonomia na Ucrânia.
E que quer o povo ucraniano?
A anexação da Crimeia por Putin e os seus discursos sobre a “NovoRossya” reforçaram na Ucrânia a hostilidade ao seu regime, e um deslocamento popular, bem maior do que antes da crise, para a UE e a NATO. O clima de Guerra desviou os movimentos de protesto das questões sociais, isto quando o país está exangue e submetido às políticas do FMI. No entanto, as diferentes vagas de recrutamento militar chocam-se contra resistências muito importantes, apesar da popularidade dos batalhões de voluntários.
Estas tendências reflectem-se no resultado das eleições legislativas de Outubro [2], mas também nas escolhas evolutivas dos oligarcas do Donbass que estão atrás da recomposição dos partidos. A participação (52%) foi mais fraca do que nas presidenciais de Maio (e menor a leste que a oeste). Mas um “voto Porochenko” exprimiu em todo o território um patriotismo ucraniano, incluindo nas regiões do leste mais russófonas, sustentando a apoiando a iniciativa de negociações internacionais do presidente. Na região administrativa do Donbass, a participação nas legislativas foi de 32,5% da população, como na de Louhansk, isto apesar de os “separatistas” terem impedido a maioria dos eleitores de votar.
A desconfiança em relação a Kiev nas regiões do leste não se traduz por uma mobilização activa nos combates. Mas revela-se pela abstenção massiva e a votação regional dominante a favor do “Bloco de Oposição”. Soldados ucranianos enviados para o leste sublinham uma realidade: “Os dois campos desinformaram, mentiram, aterrorizaram a população civil. (…) Quando é possível dialogar com a população local, a maioria põe a questão: Porque vieram em armas para o nosso território? Ao que respondes: Porque os separatistas e os soldados de Putin não vêm à nossa terra com armas, eles não a compreendem”.
Nenhum acordo será estável. Mas a população, feita refém da guerra, tem uma necessidade vital de cessar-fogo. Poderá então retomar a contestação social e política dos regimes dominantes em Kiev, na UE e em Moscovo, incluindo na Crimeia e no Donbass.
NOTAS:
[1] Cf. Vincent Présumey 3 de Fevereiro na Mediapart
[2] A nova maioria “pró-ocidental” é formada pela Frente Popular de Yaseniuk e o Bloco Porochenko. Cada um tem à volta de 22% no escrutínio proporcional da lista referente a 225 deputados, mas o segundo ganha um forte avanço no escrutínio directo. Mais próximo da sociedade civil emerge o Samopomitch (Enreajuda) com perto de 11% dos votos. Na extrema-direita, o Svoboda deixou de ter representação na Rada. O Pravy Sector obtém menos de 2% e o Partido Radical cerca de 7% dos votos. Na oposição, o PC não passa o limiar dos 5% e o Bloco de Oposição tem cerca de 7% dos deputados
Fonte: Esquerda.net